Portugal
Rabiola voltou a ser goleador. É um tipo “maluco” e cheio de amor para dar
2018-10-20 18:30:00
Temos histórias com estreias em condução, com insultos de massagistas, com maldades a um anão e histórias com amor.

Se lhe dissermos que o Tiago Lopes voltou a ser um goleador, isto provoca alguma coisa em si? Talvez não. E se dissermos que Rabiola é, novamente, um goleador? Aí, sim, surge qualquer coisa. É ou não é? Tiago Lopes – ou Rabiola, para quem gosta de bola – ultrapassou um calvário de mais de dois anos sem jogar e quase três sem marcar um golo e, no FC Felgueiras, do Campeonato de Portugal, já leva seis “batatinhas” em sete jogos. Bem bom...

A poucas horas de o Felgueiras defrontar o SC Braga, para a Taça de Portugal, fomos saber mais sobre este “jovem” de 29 anos, cuja alcunha já vem de família. Falámos com quatro ex-colegas e temos histórias com estreias em condução, com insultos de massagistas, com maldades a um simpático anão e até episódios com... muito amor. E começamos já por aqui.

“Ora dá-me cá um beijinho”

Jair Leal, ex-colega, conta-nos que, quando foi colega de Rabiola, o avançado tinha amor para dar. Mesmo a quem não queria.

“Ele tinha uma brincadeira com o Romaric. Fingia que o queria beijar e que estava apaixonado por ele”, conta, ao Bancada.

Rabiola, pelo que percebemos, é mesmo assim: um pouco “louco” e “perigoso”, mas boa pessoa. Não é por acaso que todos os ex-colegas nos falaram do bom ambiente proporcionado por Rabiola. “Acho-o uma pessoa honesta, correta e, acima de tudo, bastante divertido. Fazia muito bom balneário”, diz-nos Nuno Binaia, atual jogador do Ferreira de Aves, numa visão corroborada por Renato Reis, atualmente no Mirandela: “É um bom companheiro: respeitador, humilde, brincalhão. Sempre criou um bom ambiente no balneário”.

Rabiola chegou a ir a um torneio de Toulon, ainda jovem, e dividiu o quarto com Igor Pita. Haverá melhor fonte de histórias do que esta? “Tenho umas histórias, mas não posso contar”, diz-nos, com boa disposição, acrescentando: “Ele sempre foi uma pessoa acessível. Era simpático e muito brincalhão. Estava completamente à vontade no grupo”.

Oh Rabiola, ele nem tinha carta, pá!

Mas vamos à bola. A carreira de Rabiola parece ter ficado, até agora, longe do que poderia ter sido. Muitos golos na formação do Vitória de Guimarães e, já depois de contratado pelo FC Porto – apenas um golo e seis jogos –, chegou a fazer grandes temporadas no Aves (29 golos em 52 jogos), pelo meio de experiências mais modestas no Feirense, no Olhanense, no SC Braga, na Académica ou até na Polónia.

Não gostamos destes perfis cronológicos, mas tudo isto era necessário para explicar que Rabiola, até pelo passado nas seleções, era um avançado apontado como um jogador de futuro.

Pausa para mais uma historinha. Esta é made in Nuno Binaia.

“O momento mais engraçado que vivi com ele foi quando, depois de um treino, fomos todos almoçar. Eu nessa altura andava a tirar a carta de condução e nunca tinha conduzido um carro. Quando saímos do restaurante, para irmos para o treino de tarde, ele deu-me as chaves do carro dele e mandou-me levá-lo. A primeira vez que conduzi um carro foi o Nissan Juke dele”.

Voltando a Rabiola, a carreira, mutilada por lesões, acabou por ficar aquém. Igor Pita dá-nos uma explicação. Fala das lesões, mas não só: “Ele apareceu muito cedo na I Liga, creio que deveria ter 18 ou 19 anos quando se estreou no Vitória de Guimarães. Depois, foi logo contratado pelo FC Porto. Provavelmente, esse passo pode ter criado demasiadas expectativas nas pessoas e talvez ele não tenha conseguido dar o rumo que esperava com esse início de carreira promissor”, diz, completando: “Naquela altura, não havia equipas B e era mais difícil fazer um melhor acompanhamento aos jovens jogadores que transitavam para os seniores. Hoje, eles ficam em "casa" até os 20/21 anos e é melhor para essa transição”.

Renato Reis, para além de também destacar as “lesões gravíssimas”, dá ainda outro aspeto importante: “Acho que ele não é um jogador para equipas pequenas, que normalmente jogam em transição. Acho que isso também foi um fator que prejudicou a carreira dele”. 

O facto é que Rabiola esteve mais de dois anos sem jogar, depois de duas lesões graves no joelho. Ao “zerozero”, o jogador já chegou a dizer, recentemente, que pensou terminar a carreira. Felizmente, o Felgueiras deu-lhe a mão: “O Felgueiras foi uma oportunidade que surgiu. Não acho que seja um passo atrás, é uma fase da carreira em que vou dar tudo para conseguir os objetivos do clube e tentar valorizar-me”.

Pausemos de novo. Lembra-se de dizermos que Rabiola é um terror? Pois...

“Lembro-me sempre de quando o Rabiola entrava no posto médico. Metia-se com o massagista ao ponto de este começar a chamar-lhe nomes”, recorda Jair Leal.

Quem é o goleador Rabiola? Ao contrário, por exemplo, de João Paredes – do qual falámos recentemente –, Rabiola é um avançado bem português. “O Rabiola sempre foi um avançado ao estilo português, evoluído tecnicamente e a jogar bem de costas para a baliza”, define-nos Igor Pita, completado por Renato Reis: “O Rabiola foi o avançado com mais qualidades técnicas com quem eu já joguei até hoje. Tinha pormenores fantásticos. Nessa época em que tivemos juntos era ele quem resolvia a maior parte dos jogos. Fez muitos golos. mas não se limitava só a isso: também fez muitas assistências para golo e gostava muito de ter a bola e de ajudar a equipa a manter uma boa qualidade de jogo. Não se limitava só a jogar perto da baliza. O ponto fraco dele penso que foi a vertente física. Não é um jogador muito forte fisicamente, nem muito rápido”.

“Apesar de tudo, ele é, claramente, um avançado de I Liga. As pessoas em Portugal estão sempre à procura de novos talentos e, provavelmente, o Rabiola perdeu o seu momento, como já aconteceu com outros casos, como o Orlando Sá”, analisa Igor Pita.

Epá larga o homem, Rabiola!

Para terminar, outra historinha. Com este Rabiola ninguém pode ficar desatento. Caso contrário...

“Sempre que me lembro do Rabiola, lembro-me também do Firmino (é um anão que é roupeiro do Aves). O Rabiola fazia-lhe tudo e mais alguma coisa. Antes de um treino, estávamos todos no balneário e o Rabiola e mais dois jogadores pegaram no Firmino e deitaram-no em cima de um balcão que estava no centro do balneário. Aquele balcão tinha quase dois metros de altura e o Firmino, sozinho, não tinha hipótese nenhuma de conseguir sair. Deixaram-no lá mais de cinco minutos, com ele aos gritos, a insultar toda a gente e quase a chorar”.

O jogador tem um objetivo, que apontou na tal recente entrevista. “O meu objetivo é fazer golos em todos os jogos. São 33 jornadas, são 33 golos. Esse é o meu objetivo”. Há quem diga que, para chegar longe, é preciso sonhar alto. Rabiola está de olho nisso.