Jogo do Povo
Felgueiras. 'O pai tá ON' na Liga 3
2023-06-22 16:05:00
"É mais difícil jogar na Liga 3 do que na Liga 2", revela o melhor lateral direito da Liga 3 em entrevista ao Bancada

Se julga que no Brasil só nascem números 10, com capacidade para fazer fintas hipnotizantes, dribles com a bola colada no pé feito íman, apresentamos-lhe Rafael Viegas, o 94 de Felgueiras que tem futebol luminoso ao estilo Renascentista. O defesa-direito foi uma das estrelas da Liga 3 e mostrou que a qualidade, eficiência e a competência podem habitar em qualquer zona do relvado. O Bancada levou o Jogo do Povo à capital do calçado e conversou com um dos melhores jogadores daquele campeonato. E ficou uma certeza. O portista Galeno que se cuide, se apanhar pela frente Rafael Viegas. E, já agora, Niltinho, porque haverá 'revanche' pelo caminho.

Rafael Viegas é um homem simples, que gosta de estar por casa, dedicado à família e que olha para o futebol como uma forma de trabalho mas também de paixão. E as paixões vivem-se e sentem-se todos os dias. Por isso, nem mesmo de férias, Rafael Viegas deixa de cuidar do físico, pois sabe que a Liga 3 é um campeonato que testa ao limite as competências dos jogadores. 

"A Liga 3 é uma competição muito competitiva, com muitos jogadores novos, com sede de jogo, com sede de chegar à Liga 2 e à I Liga", avaliou Rafael Viegas, ele que está na equipa ideal da Liga 3 em 2022/23.

Na conversa com o defesa, vem-nos à memória não a frase batida de Sérgio Godinho mas as arrancadas que Rafael Viegas consegue fazer pelo seu corredor e a visão de jogo que tem. Rafael Viegas é um lateral com capacidade para ir e voltar, atacar e defender. Essa é, de resto, uma exigência para quem quer triunfar numa Liga 3 que tem "jogadores com muita qualidade técnica" mas não só.

"É também uma competição física e arrisco-me a dizer que é mais difícil jogar na Liga 3 do que na Liga 2", afirma o camisola 94 do Felgueiras, que lutou até ao fim para subir de divisão mas acabou por não lograr esse objetivo. Ainda assim, ficaram memórias para futuro dos jogadores felgueirenses.

É, de resto, desde o mítico Estádio Dr. Machado de Matos que Rafael Viegas aponta para um crescimento sustentado da Liga 3 a cada ano que passa. "Esta competição vai crescer ainda mais a cada ano", vaticina o jogador brasileiro que tem como ídolo no futebol Roberto Carlos, antigo internacional brasileiro e grande figura do Real Madrid nos anos 90 e início do século.

Escolinhas de futebol de Zico no começo de carreira

Quando Dunga ergueu a taça dos campeões do Mundo no Estádio Rose Bowl, nos Estados Unidos da América, perante um sol inclemente na Califórnia, Rafael Viegas era uma criança de seis meses num Brasil em total euforia pela conquista do tetra. Mas o país do samba adora cruzar o destino da 'galera' com o futebol e não admira que do solo canarinho muitos sejam os talentos que saem para o desporto amado, em várias posições.

E com Rafael Viegas não foi diferente. "Sempre sonhei ser jogador de futebol", confessou ao Bancada o jogador do Felgueiras, contando o seu percurso de jogador no Brasil.

"Eu comecei a jogar no CFZ, um clube da capital do Brasil, que tem uma parceria com o ex-jogador Zico. Morei no clube durante quatro anos e foram anos muito bons. Fui muito feliz no CFZ", relatou este fã do Flamengo e do Paysandu ao Jogo do Povo.

Viegas venceu o prémio para melhor lateral direito da época na Liga 3

"O Niltinho colocou gel de massagens na minha roupa. Cheguei a casa a pular"

Em 2017, Rafael Viegas aterrou em Portugal e na mala carregava muitos sonhos. Começou por jogar no Águeda. Seguiram-se Vizela e Desportivo de Chaves, onde Niltinho lhe pregou algumas partidas engraçadas. Ou melhor, para Rafael Viegas não teve assim tanta piada.

"Tenho várias histórias engraçadas mas a que mais me vem à mente foi em Chaves", relatou Rafael Viegas, detalhando o episódio que o fez suar para chegar a casa após a sessão de trabalho.

"Fomos treinar e no final fui tomar o meu banho. Vesti-me e fui para casa mas já cheguei desesperado. O Niltinho colocou-me gel de massagem na minha roupa interior e aquilo arde muito", explicou Rafael Viegas, não negando que foi "desesperante".

"Eu cheguei a casa a pular", disse, entre sorrisos, pois, afinal, tudo não passava de partidas de 'praxe' no futebol, dessas que levam a uma gargalhada geral e a um ambiente de amizade entre os companheiros de equipa na cabine.

"Ivo Lemos é chato mas é parceiro para a vida [risos]"

O balneário é um espaço sagrado para os jogadores e ele guarda para sempre segredos, promessas, desafios mas, acima de tudo, amizades para a vida, como aquela que Rafael Viegas tem com "chato" Ivo Lemos, médio português do Felgueiras, que jogou com Rafael Viegas também no Salgueiros, anteriormente. "É um parceiro para a vida", admite o camisola 94 do emblema da capital do calçado, que confessa ser um pai de família com sonhos e que valoriza "muito" aquilo que a vida lhe tem dado.

"Já valorizo muito isso, pela dificuldade que foi sair de onde eu saí. Queria muito chegar à I Liga um dia e vamos confiar nos planos de Deus", observou este jogador profundamente religioso que na última época foi um dos mais utilizados por Agostinho Bento.

'O pai tá ON bem tranquilinho'

De resto, ao Jogo do Povo, do Bancada, Rafael Viegas confessou que há duas coisas que nunca podem faltar quando sai de casa. "A Bíblia e o telefone". Palavra de Rafael Viegas, que suspira por açaí do Brasil na mesa de todos os dias.

Como se diz no Brasil, Rafael Viegas é um cara que está ON, bem tranquilinho e sem revoada. "Sou tranquilo, gosto de estar por casa", afirmou o jogador que é "muito caseiro", acrescentando ainda na conversa: "Sou casado e pai de um filho lindo", que também já vai dando os primeiros passos no mundo do futebol.

A somar a isso, o jogador, que se destacou na Liga 3 na última época, diz ser "uma pessoa muito realizada e muito feliz" por tudo aquilo que tem vindo a conquistar. Contudo, um dia espera ter pela frente um jogador em específico. "O Galeno", um dos jogadores que o Brasil deu com fintas hipnotizantes. Só que o Brasil também deu jogadores com capacidade para os travar. Fica o desejo de um filho nascido em Pára, bem juntinho da densa Floresta Amazônica.