Portugal
João Paredes foi do Sporting aos vómitos, aos vidros partidos e à guest list
2018-10-11 18:30:00
"Até que, de repente, deixei de o ver. Olhei à volta e ele tinha saído para ir vomitar à bancada!"

Se o jornalismo fosse um jogo de Casino, apostaríamos bom dinheiro em como ainda não ouviu falar de João Paredes. Se acertámos, o seu castigo é ter de ler esta historinha. Se falhámos, o nosso castigo é trazer-lhe uma boa historinha nos próximos parágrafos. Parece bem?

João Paredes é um jovem avançado, de 22 anos, que tem marcado golos a granel no Chaves Satélite: a equipa B do GD Chaves que, afinal, não é equipa B.

O registo goleador deste rapaz chamou-nos à atenção: 10 golos em 10 jogos, depois de uma temporada com 16 e outra com 13. Como cartão de visita é muito giro. Por isso, fomos tentar conhecer melhor este jovem avançado. Falámos com Gabriel Faria, Manuel Gama e Pedro Albergaria, ex-colegas de João Paredes. Temos historinhas com vómitos, “bombas”, vidros partidos e uma “guest list”. E começamos já com uma, para adoçar o apetite. Gabriel Faria – Gaby, no futebol –, atual jogador do Vilaverdense, é o contador da história.

“Lembro-me do primeiro treino do João em Vizela. Ele tinha chegado mais tarde, com a equipa já em pré-época. Eu não o conhecia e percebi logo para o que ele vinha. Nesse treino, fizemos uma pelada e eu vejo o João a correr para trás, para a frente, para o lado, a disputar todas as bolas, no ar, no chão, a rematar, a saltar... tudo a uma velocidade incrível. Até que, de repente, deixei de o ver. Olhei à volta e ele tinha saído para ir vomitar à bancada! Percebi logo que era um jogador que podia não ser refinado tecnicamente, mas que deixava tudo em campo e não parava um segundo. Nunca mais me esqueço dele por causa disto”.

“É um monstro”

Mas quem é, afinal, João Paredes? Antes de conhecer a pessoa, convém conhecer o jogador. Força física e remate fácil é o que mais salta à vista.

“Como jogador é muito forte fisicamente, de remate fácil e forte e gosta de explorar a profundidade”, define, ao Bancada, Pedro Albergaria, guarda-redes do FC Vizela, numa visão semelhante à de Manuel Gama, atualmente ao serviço do Anadia FC: “dentro do campo destaca-se pela força, remate e velocidade”.

Os 10 golos em 10 jogos fazem com que a opinião de Gaby Faria esteja bem comprovada. “É um monstro, fisicamente. É forte nos duelos e nas ações de campo, muito trabalhador, não desiste de um lance, dá tudo o que tem em prol da equipa e nunca se rende. E a melhor qualidade dele é que está sempre à espreita do golo, sempre no sítio certo para a qualquer momento fazer golo. É um homem-golo”.

Por falar nisso, cá vai outra historinha, sob cortesia de Pedro Albergaria… um guarda-redes.

“Nos primeiros treinos dele, em Vizela, percebi logo que ele tinha um remate muito forte. Para mim, que estava na baliza, não era nada agradável levar com os remates dele no corpo. Então, disse-lhe que não valia remates fortes naquele exercício, mas acho que ele não ligou, porque continuou a deixar-me marcas no corpo”.

João Paredes é, dizemos nós, um tipo de avançado diferente do típico avançado português. Neste século, apesar de já ter havido Hugo Almeida ou Éder, a verdade é que os maiores craques do ataque acabaram por ser jogadores com um perfil mais refinado tecnicamente e com um porte físico menos vincado: João Vieira Pinto, Pauleta, Nuno Gomes, Postiga ou até André Silva são alguns deles.

João Paredes tem quase 1,90 metros, tem um “arcaboiço” considerável e, tal como nos explicaram os ex-colegas, faz uso dessa força física para jogar em apoio frontal e para aguentar cargas e segurar bolas, mais do que elaborar grandes malabarismos técnicos.

Ainda assim, para alguém que tem este porte físico, falta melhorar uma coisa. “Pode melhorar o jogo de cabeça”, diz-nos Manuel Gama.

O vidro partido pelo ex-Sporting

Já conhecemos um pouco o jogador, falta-nos conhecer o homem. “Muito generoso e amigo”, diz Gabriel Faria, enquanto Pedro Albergaria e Manuel Gama destacam um rapaz humilde. “É educado, comunicativo e amigo”, acrescenta ainda este último, que garante que João Paredes se destaca pelo profissionalismo, vontade de aprender e capacidade de trabalho.

De trabalho e de…asneira.

“Um dia, no fim de um jantar de equipa, subiu para cima do capô de um carro de um colega de equipa e, quando chegou à traseira do carro, o vidro traseiro partiu-se todo”, recorda Manuel Gama.

Prometendo não maçar, importa falar um pouco de história. João Paredes nasceu na Figueira da Foz e começou a jogar na Naval, mas foi cedo para Alcochete. No Sporting, foi colega de jogadores como Matheus Pereira ou Rafael Barbosa – dois jogadores que têm sido bastante falados por maus motivos – e, segundo registos da altura, chegou a fazer, nos iniciados leoninos, uma temporada com mais golos marcados do que jogos disputados. O jogador já chegou a dizer, ao jornal "O Jogo", que a aposta dos clubes portugueses nos jovens pode fazê-lo voltar a Alvalade.

Fez o final da formação na Académica e no Vitória de Guimarães, mas teve de baixar um pouco o nível do clube para por o pé no futebol sénior. Começou pela Anadia e, depois, subiu cerca de uma centena de quilómetros até Vizela. Depois, é o que sabemos: golos, golos e mais golos.

Vestir-se de segurança

Para terminar, mais outra historia do cardápio de “palhaçadas” de João Paredes, novamente pela boca de Manuel Gama.

“Num treino que coincidia com o aniversário de um colega de equipa, ele vestiu-se de segurança e ficou na porta do balneário, com a tarefa de deixar entrar apenas quem estava na guest list”.