Portugal
“Temos no Benfica e FC Porto presidentes que perduram há anos. É por acaso?”
2020-03-09 14:15:00
Ex-eurodeputada Ana Gomes concede entrevista à TSF onde aborda as "máfias" da corrupção no futebol

Ana Gomes concedeu uma entrevista à TSF onde apontou o dedo ao desporto-rei, falando em “criminalidade associada aos negócios do futebol”, envolvendo não apenas os clubes, mas diversos agentes, desde empresários, treinadores e até futebolistas, numa alusão às condenações recentes por apostas ilegais.

A ex-eurodeputada critica os “negócios que se fazem à pala dos clubes, designadamente pelos dirigentes”, e não duvida de que “haverá muita criminalidade organizada", falando mesmo em "máfias".

Na semana em que as autoridades judiciais e tributária realizaram buscas em SAD e residências de alguns dirigentes, no âmbito da operação ‘Fora de Jogo’, Ana Gomes sugere que se aprofunde essas diligências e que se faça “uma investigação aos negócios pessoais ou das empresas a que essas pessoas estão ligadas”, bem como terceiros, que façam parte “dos seus círculos de relações”.

Ana Gomes lembra que “dois dos maiores clubes de futebol”, referindo-se a Benfica e FC Porto, têm dirigentes que se eternizam nos respetivos cargos. E não acredita em coincidências.

“Ainda em relação aos clubes de futebol, porque me ocorreu enquanto estava a falar de crime organizado, de máfias, um dado objetivo: nós temos em dois dos maiores clubes de futebol - Benfica e Porto - presidentes que perduram há anos e anos e anos. Acha que é por acaso?”, questiona, numa longa entrevista onde visa, particularmente, Luís Filipe Vieira.

“Alguém que faça uma lista das empresas que esse senhor foi deixando juncadas com cadáveres, em insolvência, e quem é que tomou conta dessas insolvências?”, diz.

A diplomata não se satisfaz com as investigações que as autoridades realizam, porque “depois há as prescrições”.

“O polvo da corrupção (…) está por todo o lado, incluindo até no setor da justiça, e que entre outras coisas servirá exatamente para fingir que se fazem investigações, depois elas ficam pelo caminho porque são morosas, porque há prescrições...”, acusa.

E em matéria de prescrições, cita o exemplo de João Vale e Azevedo, antigo dirigente encarnado. Também aqui não há, segundo a ex-eurodeputada, coincidências. “Isto não é por acaso. Eu fartei-me de denunciar”, realça.

Ativista contra a corrupção, Ana Gomes aponta uma alegada proximidade entre juízes e alguns dirigentes, lembrando o caso da “lista dos juízes, com moradas, que o Benfica tinha”.

“Porque é que o Benfica a tinha? É preciso investigar. Para que servia ter essa lista de juízes que se convidavam para jogos de futebol? Se olharmos para o caso do escândalo na Relação de Lisboa, é evidente que há corrupção. Ao contrário do que querem dizer, não é apenas um problema de viciação na distribuição dos processos. Não é. É de corrupção”, afirma.

Na mesma entrevista, Ana Gomes reitera críticas às autoridades judiciais pela prisão preventiva de Rui Pinto, que classifica de “um absurdo”, que tem como objetivo “silenciar” o fundador do Football Leaks.

Ana Gomes espera, no entanto, que o pirata informático vá a julgamento, considerando que, em tribunal, abre-se uma “grande oportunidade para se saber muita coisa que ele sabe, que ele pode fazer que todos saibamos”.