Antiga candidata à Presidência da República diz que “a procissão ainda vai no adro” no caso de Vieira
Ana Gomes, antiga eurodeputada e ex-candidata à Presidência da República, assume que não ficou surpreendida com a detenção de Luís Filipe Vieira, até porque acredita na existência de uma “teia” que “tinha a cabeça no BES”, que acredita que está a ser ‘desmantelada’ pela justiça portuguesa.
“Este caso tem por trás um polvo gigantesco, mas que não envolve apenas este clube em particular. Este presidente foi à comissão de inquérito do parlamento dizer que estava ali por ser presidente do Benfica e os deputados disseram-lhe, e bem, ‘não o senhor está aqui por ser um grande devedor à banca’. Este polvo tinha a cabeça no BES, em Ricardo Salgado e nos seus acólitos”, referiu Ana Gomes.
A ex-eurodeputada realça que há “grandes clubes que são objeto de infiltração destas redes mafiosas”. “São os grandes clubes e os grandes partidos que são objeto de infiltração destas redes mafiosas. Metem pequenos clubes ao barulho, para serem ecrãs de esquemas de lavagem de dinheiro e burlas”.
Ana Gomes espera que a justiça vá até às últimas consequências e deseja que as autoridades façam o que for necessário. “Estou farta de ver prisões espetaculares, mas também libertações espetaculares, como aconteceu esta semana com Joe Berardo, em que nem sequer a prisão preventiva foi pedida”.
Luís Filipe Vieira foi detido na quarta-feira e Ana Gomes não tem dúvidas de que para esta detenção “foram muito importantes as revelações do Football Leaks, feitas pelo Rui Pinto”.
De resto, a este respeito, Ana Gomes avisa, e socorrendo-se de um ditado popular, que “a procissão ainda vai no adro”, salientando que, em relação à ordem de detenção dada a Luís Filipe Vieira, até estranhou que só agora tivesse sido dada.
“Acho que já tardava”, disse, em comentário na SIC Notícias, sublinhando que vê que foi montada uma “teia”. “Não é por acaso que a direção deste clube, este indivíduo e outros da teia a que ele está ligado, sempre se preocuparam em rodear-se de advogados, financeiros, políticos e até juizes”.
Ana Gomes alude a suspeitas de que existiam “listas de magistrados que recebiam bilhetes para jogos do Benfica. E não eram pelos seus lindos olhos”.
A antiga eurodeputada realça que Luís Filipe Vieira tem enfrentado várias situações suspeitas ao longo da vida. “Em 1993, foi condenado pelo roubo de um camião, em coautoria com outras pessoas, uma coisa que tinha acontecido em 1984. Já pelo BPN foi arguido por causa de 23 milhões de dívida, depois há todos aqueles casos, ‘Porta 18’, os Emails, os Vouchers, o E-Toupeira, a Operação Lex… Tudo relacionado em última análise como BES”.
Ana Gomes fez ainda referência à presença de Vieira na audição parlamentar e realça que, aí, o empresário “confessou que era testa de ferro de Ricardo Salgado”.
“E nem falo dos adeptos do clube porque o clube acabou por ser uma vítima. Como é que tanta gente tolerou isto?”, interroga-se Ana Gomes, apontando para António Costa que chegou a estar na comissão de honra da recandidatura de Vieira à presidência do clube.
“Aquela cena tristíssima de termos o primeiro-ministro, António Costa, a prestar-se a ser membro da comissão de honra deste presidente deste clube e depois até ser removido face à polémica que se gerou na opinião publica pelo próprio…”