Portugal
Sérgio Conceição à procura do “reset” dos “repescados” para embalar o FC Porto
2017-07-17 17:30:00
Regressos de empréstimo não têm funcionado na presente década, mas FC Porto tem casos de relativo sucesso no passado

O FC Porto partiu para estágio no México com uma comitiva composta por apenas um reforço, o guarda-redes Vaná, mas com algumas caras novas em relação à última época. Sérgio Conceição chamou sete jogadores que na temporada passada estiveram emprestados e que agora tentam nova oportunidade no Dragão, admitindo ainda a reintegração de Marega. O novo técnico do FC Porto já afirmou publicamente ter confiança em alguns desses jogadores para tentar reconduzir o clube ao sucesso. Mesmo que a história recente mostre que Conceição terá de fazer algo que os seus antecessores não têm conseguido: recuperar os “repescados” – entenda-se jogadores que já fizeram parte do plantel e já jogaram, saindo posteriormente por empréstimo para outro clube

Martins Indi, Ricardo Pereira, Diego Reyes, Sérgio Oliveira, Hernâni, Aboubakar, Agu e até Marega são os jogadores que estão à procura de convencer o técnico e provar que merecem nova oportunidade. Algo que na presente década não tem resultado no clube, onde o mesmo número de jogadores já viveu essa experiência sem conseguir dar a volta ao guião. No entanto, há exemplos de relativo sucesso de jogadores que foram “repescados” no passado. Tudo o que é preciso é fazer um “reset” do passado no clube e ter “força mental” para voltar a afirmar-se, segundo garante um dos poucos jogadores que já conseguiu superar esta situação específica no Dragão.

Um dos casos mais recentes a ter regressado à base foi Kelvin. O herói do título de 2012/13 voltou ao FC Porto em janeiro passado, depois de empréstimos sucessivos a Palmeiras e São Paulo FC, mas acabou por disputar apenas uma partida antes de voltar a ser emprestado, desta vez ao Vasco da Gama. Adrián López, que na época passada ainda fez nove partidas, depois de uma época emprestado ao Villarreal CF, para onde seguiria novamente a meio da temporada, foi outro exemplo recente de um jogador que, no caso Nuno Espírito Santo, não conseguiu “reaproveitar”.

Abdoulaye Ba, em 2013/14, depois de um empréstimo ao Vitória de Guimarães, também regressou e ficou-se por nove jogos disputados antes de voltar a sair. Nessa mesma época, onde Paulo Fonseca começou como treinador, mas foi Luís Castro quem terminou no banco, houve ainda o caso dos regressos de Fucile (dois jogos) e Iturbe (um jogo), sendo que o jovem avançado paraguaio já passava pela situação numa segunda ocasião – em 2012/13, com Vítor Pereira, fez três jogos, após regressar de empréstimo ao Cerro Porteño.

Recuando até 2012/13, Vítor Pereira também tentou “repescar” André Castro, depois de o médio se ter afirmado em Espanha pelo Sporting Gijón. O jovem ainda fez 20 partidas, mas apenas cinco como titular e sempre nas taças, servindo mais como uma opção de rotação do plantel. Na mesma temporada Miguel Lopes foi outro dos jogadores que regressou, após ter estado emprestado ao Betis e SC Braga, mas ficou-se pelas 13 partidas, antes de rumar ao Sporting a meio da época.

Sobra apenas Varela, que foi recuperado por Lopetegui, depois de uma temporada em que esteve emprestado a West Bromwich e Parma. É certo que não se pode classificar este caso como um fracasso, embora dos 34 jogos que realizou em 2015/16, apenas tenha sido titular em 19, sendo que para o campeonato só o foi em oito ocasiões. Ainda assim, terá sido o caso de menor insucesso nesta lista de “repescados”, mesmo que tivesse acabado por deixar o clube a meio da última temporada.

Início de século mais produtivo

Apesar dos casos acima descritos, na primeira década deste século, o FC Porto até foi relativamente feliz em movimentos deste tipo. Também existiram “repescados” em vão, como os casos de Hélder Barbosa, Bruno Moraes, Rubens Júnior ou Alessandro. Mas os casos de jogadores que regressaram de empréstimo e conseguiram impor-se com relativo sucesso foram em igual número ou mesmo superior. O mais evidente passou-se com Tarik Sektioui. Contratado por Co Adriaansen em 2006/07, regressou em janeiro à Holanda por empréstimo, mais concretamente para o RKC Waalwijk. Contudo, Jesualdo Ferreira foi repescá-lo com sucesso, uma vez que na época seguinte apontou nove golos em 34 jogos e ajudou o FC Porto a chegar ao título, ficando ainda mais outra época no Dragão.

Depois há ainda os casos de Hélder Postiga, César Peixoto, Hugo Almeida e Ricardo Carvalho, que já tinha feito uma temporada no plantel principal (1998/99) – e jogado um jogo -, antes de sair para Vitória de Setúbal e Alverca por empréstimo, regressando depois para se impor, não só no clube, como, mais tarde, a nível europeu. Isto já não falando de outros dois casos causados por questões disciplinares e não desportivas. Na temporada de 2001/02 Jorge Costa não gostou de ser substituído por Octávio Machado e atirou a braçadeira de capitão ao chão em pleno relvado das Antas, jogando a segunda parte da época nos ingleses do Charlton. Voltou logo na época seguinte para se assumir novamente como patrão da defesa dos dragões. Mais tarde, em 2009/10 Sapunaru foi suspenso devido ao badalado caso do túnel da Luz, sendo que o FC Porto optou por emprestá-lo na segunda metade da temporada ao Dínamo Bucareste. Regressou na época seguinte e fez 41 partidas, 37 das quais como titular, num ano de tremendo sucesso para André Villas-Boas.

“É sempre uma situação difícil, porque o nosso objetivo, a partir do momento que estamos numa equipa grande, é sempre afirmarmo-nos lá e depois sermos vendidos para outra equipa ainda melhor. Mas por qualquer motivo, às vezes não conseguimos. No meu caso foi mais devido a lesões e porque tive um problema, na altura, com o Víctor Fernández, que me fez sair para o Vitória de Guimarães por empréstimo”, recorda ao Bancada o médio que ganhou praticamente tudo o que havia para ganhar com José Mourinho no FC Porto, vendo-se obrigado a uma época fora do clube, em 2004/05, para regressar em 2005/06, pela mão de Co Adriaansen, fazendo quatro golos em 20 encontros entre Liga e Champions, 19 dos quais a titular.

Qual é, então, o segredo para conseguir ultrapassar um empréstimo, sobretudo quando já se fez parte do plantel e já não se é propriamente um jovem nos primeiros anos de carreira, e regressar à melhor forma num clube de topo? César Peixoto, admite que é preciso um lado mental forte. “Atribuo isso ao carácter da pessoa e à ambição, ao foco do jogador. A nossa carreira nem sempre é positiva e em crescendo, por vezes tem altos e baixos. Aí é que se percebe e vê a fibra de um jogador: se tem personalidade, capacidade para aguentar a pressão e voltar de um momento mau, ter a capacidade de dar a volta por cima”, assegura o antigo internacional português, antes de falar do seu caso particular: “O meu objetivo era voltar ao FC Porto e consegui afirmar-me. Nem sempre conseguimos ter resultados positivos e ter sucesso e nas horas más é que se vê quem é que tem capacidade para jogar ao mais alto nível”.

“Para além da qualidade, atribuo 60 por cento da razão do sucesso ao lado mental. A personalidade, o psicológico, saber que é difícil e que por vezes aparecem obstáculos que temos de vencer. Quanto mais alto estiveres e mais competitivo for o nível mais difícil vai ser ultrapassá-los. Um jogador de alta competição tem de ser forte em termos mentais”, refere César Peixoto, que mais tarde ainda viria a impor-se no SC Braga, mudando-se depois para o Benfica, onde voltou a ser campeão nacional.

Quanto ao atual momento do FC Porto, Peixoto vê que existe “qualidade” nos jogadores que Conceição tenta agora recuperar. “Agora, falta aquela parte mental. A qualidade está lá. Saíram e demonstraram capacidade nas equipas onde estiveram. Se o FC Porto quer o regresso é porque há qualidade. Mas vai depender das oportunidades e do lado psicológico deles. É preciso ter a oportunidade de jogar e agarrar essa oportunidade, como se fosse a primeira vez que a tivessem”, assegura-nos.

“É preciso fazer um reset do que está para trás no clube, voltar a pensar que se está a chegar pela primeira vez e que se vai construir a história a partir do zero. Se o jogador regressar com o medo de falhar outra vez, de errar e de não ter tolerância, por já não ter corrido bem no passado, é meio caminho andado para as coisas não correrem bem. Se tiverem uma mentalidade competitiva positiva, garra, confiança na capacidade que têm e se lhes for dada a oportunidade, acho que há qualidade para esses jogadores se afirmarem”, remata César Peixoto.