Grande Futebol
PSG e PSV, os bullies que perdem a mania quando deixam o país
2018-10-30 19:15:00
Em casa só sabem o que é ganhar, mas na Liga dos Campeões nem por isso

Será que é este o caminho que se pretende para o futebol europeu, equipas que passeiam pelos respetivos campeonatos sem qualquer tipo de oposição efetiva? Pois bem, a verdade é que é isto mesmo que está a acontecer. A liga francesa e holandesa vivem momentos raros - e provavelmente únicos, uma vez que a nossa pesquisa refere-se apenas ao novo milénio - e a italiana esteve lá perto. Paris Saint-Germain e PSV Eindhoven contam por vitórias as jornadas já disputadas, onze e dez respetivamente, e o título deixou de ser uma questão.

Em França, o Paris Saint-Germain angariou já 33 pontos, resultado de onze vitórias em outras tantas jornadas já disputadas. A equipa de Thomas Tuchel soma mais oito pontos do que o segundo classificado, o surpreendente Lille OSC. Se olharmos para o registo de golos percebemos o quão avassalador tem sido a equipa parisiense: marcou 39 e sofreu apenas seis. São mais 19 golos faturados do que o segundo classificado, praticamente o dobro.

Estes dados deixam de ser impressionantes quando olhamos para a elencagem de jogadores à disposição do treinador alemão que chegou esta temporada ao Paris Saint-Germain, ainda que se diga que faltou a contratação de, pelo menos, mais um centrocampista. A verdade é que Tuchel tem uma equipa muito bem apetrechada e Neymar, Mbappe, Edinson Cavani, Julian Draxler e Ángel Di María são apenas alguns nomes que dão cor ao manancial ofensivo do atual líder do campeonato francês.

Ora bem, para os mais atentos ao fenómeno futebolístico, o domínio do Paris Saint-Germain não será uma grande surpresa, no entanto, a facilidade extrema com que a equipa de Paris tem dado conta dos obstáculos está a tornar a presente temporada num verdadeiro passeio no parque. São onze vitórias em onze jogos e 33 pontos conquistados. Nenhuma outra equipa conseguiu tal proeza no novo milénio - pelo menos. Nem nos tempos áureos, o Olympique Lyon conseguiu tal registo.

O melhor que o Lyon fez foi em 2006/07, quando, à passagem da 11.ª jornada somava 31 pontos, resultado de dez vitórias e apenas um empate. A equipa orientada por Gérard Houllier e que contava com jogadores do calibre de Éric Abidal, Juninho Pernambucano, Tiago, Benzema e Fred, tinha um registo de 27 golos marcados e oito sofridos, ainda assim, longe do pecúlio atual do Paris Saint-Germain. O Olympique Lyon viria a sagrar-se campeão nessa temporada com 81 pontos, mais 17 do que o segundo classificado, Olympique Marselha.

 

Potenciar jovens jogadores

Na Holanda, o caso é muito semelhante. O PSV Eindhoven iniciou a defesa do título recuperado na temporada transata de forma bastante enfática. Nem mesmo o facto de Mark van Bommel estar a realizar a sua primeira experiência como treinador principal impediu a equipa de somar dez vitórias em outras tantas jornadas disputadas. O resultado são 30 pontos - mais cinco do que o segundo classificado Ajax -, 38 golos marcados e apenas quatro sofridos. Um registo avassalador.

No entanto, ao contrário do Paris Saint-Germain, o sucesso do PSV baseia-se na capacidade que o clube tem em potenciar a grande quantidade de jovens jogadores que fazem o recheio do plantel. Denzel Dumfries, com 22 anos, Gastón Pereiro, 23, Jorrit Hendrix, 23, os mexicanos Érick Gutiérrez e Hirving Lozano, ambos com 23, são peças fundamentais na manobra da equipa de Eindhoven que tem distribuído goleadas pelo país fora.

Tal como no campeonato francês, o domínio avassalador que o PSV Eindhoven tem demonstrado na presente temporada não encontra par. Analisando apenas o novo milénio, não há outra equipa que tenha conseguido chegar à décima temporada só com vitórias. O melhor que encontrámos aconteceu em 2016/17, ano em que o Feyenoord acabou com o jejum que durava há cerca de 20 anos. À décima ronda, a equipa de Roterdão somava 28 pontos, resultado de nove vitórias e apenas um empate.

No final dessa temporada, a equipa comandada por Giovanni van Bronckhorst onde despontavam jogadores como Terrence Kongolo, Tonny Vilhena, Renato Tapia, Steven Berghui, Dirk Kuyt e Nicolai Jorgensen, sagrou-se campeã com 82 pontos, mais um do que o segundo classificado, Ajax.

 

Mas lá fora perdem a mania das grandezas

Ora bem, a verdade é que o domínio avassalador de Paris Saint-Germain e PSV Eindhoven não tem sido acompanhado por campanhas autoritárias na Liga dos Campeões. Bem pelo contrário. Os franceses têm tido alguma dificuldade em impor-se num grupo com Liverpool FC, SSC Nápoles e Estrela Vermelha. Disputados que estão três jogos, o PSG apenas venceu frente à equipa sérvia. De resto, perdeu em Anfield e empatou, em Paris, diante dos italianos.

O cenário para o PSV é ainda mais negro. A equipa holandesa tem apenas um ponto, num grupo composto por FC Barcelona, Inter Milão e Tottenham. Se a derrota forasteira em Barcelona era algo expectável, já o desaire caseiro diante de um Inter, longe dos grandes tempos, deixou um sabor amargo aos adeptos de Eindhoven.

O essencial da questão reside na essência da competição. É este o futebol que queremos, onde os mais fortes se separam cada vez mais dos menos capazes, ao ponto de tornar as competições internas vazias de entusiasmo e incerteza? Os campeonatos ainda nem chegaram ao primeiro terço, mas as faixas parecem estar praticamente entregues e não é isso que tempera o futebol.