Prolongamento
Costinha, o Ministro "que nunca desiste" vestiu o seu melhor fato
2018-05-08 21:30:00
Antigo médio da Seleção Nacional conhece o sucesso depois de três projetos falhados

Há 21 anos, Costinha ajudou o Nacional da Madeira a subir da II Divisão B para a Liga de Honra como jogador numa época de sucesso que não passou despercebida ao AS Mónaco, que avançou para a contratação daquele que haveria de ser um dos médios mais influentes da Seleção Nacional, pese embora o facto de na altura ainda ser pouco conhecido. Vinte e um anos depois, Costinha volta a ficar na história do clube madeirense ao subir o Nacional ao escalão maior do futebol português, agora como treinador, no primeiro projeto de sucesso depois de experiências mal sucedidas no Beira Mar, no FC Paços de Ferreira e na Académica.

A subida premeia a preserverança de uma pessoa "que nunca desiste", como testemunham Chaínho e Fernando Aguiar, que formou a dupla de médios mais recuados com Costinha na equipa insular em 1996/97, na altura com 25 anos. "Éramos muito novinhos, mas lembro-me perfeitamente que era ele e eu na zona central do meio-campo. Ele fazia muitos golos de bola parada, até porque era muito bom cabeceador. Era um excelente colega e teve agora o merecido reconhecimento como treinador", afirma o antigo centro-campista do Benfica, lembrando o caráter de Costinha. "É uma pessoa que sabe o que quer, que nunca desiste, e vai atrás dos seus objetivos. Não é por acaso que subiu da II Divisão B para a Liga de Honra e foi para o Mónaco."

A mesma opinião tem Chaínho, que foi colega de Costinha nos tempos do FC Porto. "Acima de tudo, tiro o chapéu ao Costinha, que nunca desistiu dos seus sonhos. Acreditou sempre na sua capacidade, nunca desistiu. Trabalhou, instruiu-se e foi atrás do sonho", afirma o antigo centro-campista, que também foi jogador do Nacional da Madeira, sustentando: "A essência estava lá. Só era preciso um pouco de sorte e essa sorte apareceu. Tiro o chapéu ao Costinha, repito, por tudo o que passou. Soube dar a volta e agora teve o prémio do sucesso."

Fernando Aguiar lembra também que o antigo médio da Seleção Nacional podia ter desistido, podia ter desesperado face a um ínicio que não foi muito feliz como treinador, mas não o fez. "Acreditou sempre. Podia ter desistido, mas acreditou sempre. Tem um perfil de líder, tem o seu estilo próprio e mais cedo ou mais tarde, haveria de ter sucesso."

Internacional pelo Canadá, Fernando Aguiar estreou-se em Portugal ao serviço do Marítimo na temporada 1994/95. Fez apenas oito jogos rumando, então, ao vizinho e rival Nacional da Madeira, onde se afirmou como titular indiscutível. É, assim, natural que guarde boas recordações da equipa da Choupana e que tenha vivido com satisfação este regresso ao convívio dos maiores do futebol português. "Lembro-me que na época de subida estávamos a 10 pontos do Santa Clara e acabámos com 12 ou 13 de avanço deles. Foi espetacular. Tínhamos uma grande equipa com jogadores como o Costinha, o Luís Carlos, que mais tarde jogou no Benfica, o Carlos Ferreira, o Rui Miguel, que depois foi para o Boavista, e o Serginho, entre outros. Era uma excelente equipa."

Chaínho foi uma referência do Nacional no novo século, representando o clube entre 2005 e 2007. "Tempos felizes", recorda o médio, radiante pela subida da equipa da Choupana. "O Nacional é um clube que faz parte da minha vida. Fui muito feliz lá. É um clube cumpridor, que merece estar entre os grandes do futebol português. Já faz parte, aliás, dos maiores do nosso futebol."

Neste contexto, Fernando Aguiar também não deixou de mostrar satisfação face ao sucesso de Costinha e dos madeirenses. "Foi merecido. O Nacional foi a melhor equipa. Não começou muito bem, mas depois recuperou, foi obtendo bons resultados e sobretudo bons resultados fora e isso é muito importante tendo em conta que as equipas das ilhas costumam ter dificuldades em obter bons resultados quando jogam fora."

O último jogo, o jogo que consumou a conquista do título de campeão nacional da segunda liga atesta isso mesmo, com os alvi-negros a triunfarem em Arouca, frente a um rival direto, depois de uma tremenda ponta final. Razões de sobra para Costinha exultar com o primeiro grande sucesso da carreira. "Estou extremamente feliz", afirmou nas comemorações que se prolongaram até esta terça-feira, destacando a importância de três pessoas. "Estou feliz, acima de tudo pela confiança que o presidente Rui Alves, Gustavo Rodrigues [vice-presidente do futebol] e Saturnino [diretor de comunicação], me transmitiram desde sempre. A primeira vez que falaram comigo foi importante, foi forte. São três pessoas que ficam ligadas a este título porque acreditaram neste treinador."

Costinha aproveitou a ocasião para deixar uma mensagem para quem o olhava com desconfiança. "Não olharam se era ou não amigo do Jorge Mendes, foram buscar o treinador pela sua competência e fico feliz por devolver a confiança a estas pessoas", frisou, acrescentando: "Há 21 anos subi como jogador do Nacional, na altura perdi o título para o Maia, e agora, como treinador, consigo chegar a campeão com o Nacional. Os meus atletas tiveram um percurso difícil, intenso, não era uma tarefa fácil, mas a mentalidade e a forma como se dedicaram ao trabalho, transmitia a ideia de que no final do campeonato podíamos estar a festejar como festejamos agora."

Já o presidente, Rui Alves, destacou a importância da subida até face à história do clube madeirense. "Até pela nossa história dos últimos 15 anos, depois de uma descida de divisão, todo o clube teve de se unir em torno de um objetivo, de regressar à liga principal. Isso confirmou-se e é uma satisfação enorme ter concretizado este sonho. Numa Segunda Liga muito competitiva, a realização do sonho de hoje corresponde à frustração de outros que iniciaram o campeonato com os mesmos objetivos do Nacional. Nós, enquanto líderes, temos de ser responsáveis nos bons e nos maus momentos. Naturalmente temos uma quota parte, mas a realização deste objetivo vai muito além do que é só a classificação. Foi precisa toda uma equipa de trabalho, desde os jogadores, a equipa técnica e dirigentes. A união que existia no Nacional esta época foi a razão maior para que isto acontecesse", afirmou, regozijando-se com a conquista de um título que o clube não tinha e reforçando a confiança em Costinha. Era um título que o clube não tinha e que felizmente foi possível conciliar no mesmo ano: realizar esse sonho da subida e concretizar ser campeão nacional da Segunda Liga. Estou muito feliz pela aposta em Costinha, é a segunda vez que sobe com o Nacional. Penso que teremos liderança para os próximos anos."

O desejo do presidente faz indiciar uma renovação de contrato. De resto, a vontade é mútua. "Vamos conversar com o presidente. Ele sabe que gosto do clube, pelo que não será difícil o entendimento", referiu Costinha, tratado carinhosamente por "Ministro" nos círculos mais próximos, devido ao modo aprumado como gosta de apresentar-se (quase) sempre de fato e gravata.

 

 

Jogador de sucesso, que teve como ponto alto a conquista da Liga dos Campeões, Liga Europa e Taça Intercontinental ao serviço do FC Porto, Costinha alcançou agora o primeiro sucesso enquanto treinador. O Nacional é o quarto clube que orienta na ainda curta carreira de técnico. Mas tudo começou na época 2012/13. Em Aveiro, ao serviço do Beira Mar, então no escalão principal, o Ministro surgiu como possível salvador da equipa na tentativa de  evitar a descida de divisão. Só fez 11 jogos. Alcançou somente dois triunfos e o clube acabou mesmo por cair na divisão secundária. O FC Paços de Ferreira foi a etapa seguinte. Na capital do móvel, rendeu Paulo Fonseca, que rumou ao Dragão. O contexto não era nada fácil, tendo em conta as expetativas, uma vez que sucedeu a um treinador que deixou a equipa em terceiro lugar na Liga, com direito às pré-eliminatórias da Liga dos Campeões. Costinha acabaria por sair antes do final da época, somando apenas duas vitórias em 14 jogos.

Depois de uma paragem, digamos reflexiva, o treinador, que chegou a ser diretor desportivo do Sporting na gestão de José Eduardo Bettencourt, regressou ao ativo em 2016 para treinar a Académica na Segunda Liga, mas voltou a não ter sucesso. O clube de Coimbra desejava regressar ao convívio dos grandes, mas Portimonense e Desportivo das Aves revelaram superioridade em relação a todos os outros concorrentes por um lugar ao sol.

No início desta época, Costinha abraçou, então, um novo projeto na Segunda Liga, com o mesmo objetivo de subir, regressando a um clube onde foi feliz como jogador. Na próxima temporada, o emblema da Choupana completará a 19.ª presença no escalão máximo do futebol português, após 18 anos consecutivos, interrompidos pela despromoção ocorrida na época passada.