Portugal
Jorge Jesus e o controlo da profundidade defensiva: "uma questão de rotinas"
2017-07-20 15:30:00
Problemas defensivos do Sporting, com origem no controlo da profundidade defensiva, terão origem em falta de rotinas

Ao fim de cinco jogos na pré temporada do Sporting, os homens de Jorge Jesus continuam sem conseguir manter a ficha limpa e terminar um encontro sem sofrer qualquer golo. Em cinco jogos, o Sporting sofreu dez golos, uma média de dois golos sofridos por jogo, um registo similar ao ocorrido na temporada anterior que foi, igualmente, a temporada em que Jorge Jesus mais golos sofreu em média quer na pré época, quer na época regular, desde que assumiu a posição de técnico principal de Benfica ou Sporting.  

Em 2017/18, nos cinco jogos já efetuados pelo Sporting, a equipa de Jorge Jesus apenas venceu por uma vez. Uma vitória por 2-1 perante o Fenerbahce. Desde então, o Sporting não mais venceu ou, sequer, empatou. A turma leonina segue numa série de três derrotas consecutivas, nunca sofreu menos de dois golos e, em dois desses jogos, sofreu mesmo três golos quer do Valência CF quer do FC Basileia.  

"Os problemas defensivos têm sido um problema geral das três grandes equipas" e não apenas do conjunto de Jorge Jesus, ressalva ao Bancada o antigo defesa central do Sporting António Morato. O controlo da profundidade por parte da defesa do Sporting e o estabelecimento de uma linha organizada por parte do sector mais recuado do Sporting têm sido os problemas mais evidentes no conjunto de Jorge Jesus. Como vimos anteriormente, os golos sofridos pelas equipas de Jorge Jesus na pré-época têm sido pouco relevantes ao longo da temporada mas urge perceber onde estão os problemas que levaram a que a equipa do Sporting tenha sofrido tantos golos em cinco jogos. 

Os problemas podem ser vários: Lentidão da linha defensiva para que a mesma jogue tão subida? - mais particularmente a possível lentidão dos jogadores do eixo central defensivo de Jorge Jesus. Falta de ritmo, próprio da pré temporada? Ausência de rotinas de uma linha defensiva revolucionada esta temporada? Morato, que representou o Sporting entre 1983 e 1989 e se tornou num dos defesas centrais com mais jogos ao serviço do clube depois de 179 jogos de leão ao peito, acredita que neste momento a questão estará mais relacionada com a falta de rotinas que com qualquer outro motivo e que certamente Jorge Jesus saberá dar a volta ao texto conforme avance a temporada. Morato adverte, porém, que o Sporting e Jorge Jesus não têm alternativa e terá de viver com aquilo que tem neste momento.  

Talvez ciente desta aparente lentidão dos jogadores do seu eixo central da defesa, Jorge Jesus procure uma alternativa mais ágil e veloz à dupla Mathieu/Coates que partirá para 2017/18 como a dupla titular do Sporting. Algo explicado pela tentativa do clube em fazer regressar a Alvalade Edgar Ié, atendendo às declarações de Cátio Baldé no início do mês de julho. A saída de Paulo Oliveira rumo ao Eibar, deixou o Sporting com Mathieu, Coates, Tobias Figueiredo e André Pinto como soluções para o eixo central da defesa. Defesas centrais de perfis algo semelhantes o que, segundo Morato, poderá obrigar Jorge Jesus a nova investida no mercado de forma a encontrar uma alternativa mais veloz e ágil ao grupo de defensores que possui neste momento. Até porque, entende, na equipa B do Sporting, nenhum jogador está preparado para dar o salto.  

Se a velocidade, ou falta dela, no eixo defensivo central da defesa do Sporting é a razão para os problemas defensivos que a equipa vai mostrando neste pré-temporada, não deixa de ser curioso que ao longo dos últimos anos Jeremy Mathieu tenha sido sempre referenciado como um dos jogadores mais rápidos da equipa do Barcelona. Isso mesmo. Na temporada passada, por exemplo, Mathieu apenas foi superado por Neymar como o jogador do Barcelona que registou uma velocidade de ponta mais elevada durante um jogo da equipa catalã na liga espanhola. Num encontro perante o Deportivo, na Corunha, em Outubro de 2016, Mathieu registou uma velocidade de 34.25 km/h que apenas foi superada pela registada por Neymar, em março de 2017, perante o Sporting Gijón, em que o brasileiro chegou aos 34.83 km/h. Já anteriormente, em 2014, e segundo o Mundo Deportivo, Mathieu registou os valores mais elevados em termos de velocidade de ponta durante os testes físicos do Barcelona. 

O problema não estará, então, na velocidade de ponta conforme nos explica Morato, antigo central do Sporting e de características bem diferentes da dos atuais defensores do Sporting. Um jogador mais à imagem de Ricardo Carvalho, por exemplo. Jogadores com um centro de gravidade mais baixo permitem aos atletas ser mais ágeis e ter uma aceleração mais explosiva. Morato explica ao Bancada que jogadores com a fisionomia de Mathieu ou Coates, "jogadores altos e mais maciços, têm uma maior dificuldade em ser velozes, explosivos e ágeis". A velocidade e agilidade são características que ajudam a fazer a diferença na altura de controlar a profundidade defensiva mas não são as mais determinantes. Essas são a leitura de jogo, inteligência posicional e capacidade de antecipação que os jogadores possuam, como explica ao Bancada Carlos Azenha. Azenha diz-nos que é de facto importante que um dos defesas centrais seja mais rápido que o companheiro de setor, mas que mesmo assim, a questão não é determinante.

No caso do Sporting de Jorge Jesus, o problema, para Carlos Azenha, tal como para Morato, é a rotina - ou falta dela - da linha defensiva da equipa. Azenha garante mesmo que Jorge Jesus não deverá estar "nada preocupado" com os resultados obtidos na pré temporada, pois o mais problemático, é quando as equipas não evoluem ao longo da temporada. Neste momento, não vencer na pré-época, é totalmente irrelevante e para Carlos Azenha está a dar-se demasiada importância aos resultados obtidos pela equipa do Sporting. Ao Bancada, Carlos Azenha confessa mesmo que enquanto treinador preocupava-o mais o facto de parecer logo tudo bem com as equipas durante a pré temporada que o contrário. Carlos Azenha, antigo treinador de Vitória de Setúbal ou Portimonense, destaca ainda a importância do jogador da posição "6" durante o processo de controlo da profundidade defensiva. Algo habitualmente ignorado por treinadores e analistas, defendendo que o processo vai bem mais além e começa bem antes da bola chegar à zona defensiva das equipas.