Portugal
Hugo Firmino: herói da Taça, golos de placa e muitas sestas pelo meio
2018-10-23 19:50:00
O Bancada esteve à conversa com uma das figuras da Segunda Liga e ficou a saber o preço de uma mariscada em Angola

“Quase virei japonês no final daquela temporada. Tinha feito uma aposta com o Paulinho (o que joga no SC Braga) e a cada duas assistências para golo que eu lhe fazia ele pagava-me um jantar de sushi. Houve uma altura da época em que comia sushi todos os fins-de-semana”. Estivemos à conversa com Hugo Firmino, o craque que ajudou a fazer Taça ao marcar um dos golos com que o CD Cova da Piedade eliminou o Portimonense, e ficámos a saber quanto custa uma mariscada em Angola e da importância que dá a uma boa sesta. Ao extremo falta dar o salto para a Primeira Liga, quem sabe se não será no final da temporada, é que há uma porta aberta em Barcelos.

A vida vai sorrindo a Hugo Firmino. O jogador do CD Cova da Piedade tem conseguido manter os níveis que fazem dele um dos extremos mais empolgantes da Segunda Liga e este fim-de-semana voltou a fazer das dele. Marcou um dos golos com que a equipa da Margem Sul eliminou o primodivisionário Portimonense da Taça de Portugal e lembrou a malta da jogatana que fez, na temporada passada, nos oitavos de final, contra o Sporting, onde infernizou a vida aos defesas leoninos. “Lembro-me bem desse jogo. Foi um jogo muito bem conseguido da nossa parte”, recordou.

 

A difícil decisão de ir para Angola e deixar o filho recém-nascido em Portugal

Mas os mais atentos ao fenómeno futebolístico em Portugal recordar-se-ão de Hugo Firmino de tempos mais recuados. O nome deste jogador esteve na lista dos concorrentes aos nomeados para o Prémio Puskas com um golo que marcou, pelo Oriental, contra o Vitória de Guimarães B, em jogo da Segunda Liga, temporada 2015/16. Uma autêntica obra de arte que correu Mundo e que serviu de cartão de visita para este jogador que tinha acabado de chegar de Angola, onde havia jogado durante quatro temporadas. Um período importante na carreira de Hugo Firmino, mas muito complicado a nível pessoal.

Veja o golaço de Hugo Firmino que correu Mundo

“Recebi uma boa proposta para ir para Angola quando estava prestes a ser pai. Foi uma decisão difícil na altura, mas ia ganhar valores que não se pagavam em Portugal e optei por pensar na estabilidade da minha família e do meu filho, mesmo que isso implicasse o nosso afastamento momentâneo. Deixei a minha mulher e o meu filho em Portugal. Tive de abdicar do crescimento do meu filho e de muita outra coisa. Mas foi tudo em prol da estabilidade dele, o meu objetivo era que nada lhe faltasse e foi isso que me fez ir.

Fiz alguns sacrifícios. Cheguei a vir a Portugal duas vezes por mês só para passar o fim-de-semana. Depois dos jogos tinha dois dias de folga, viajava à noite passava um dia em Portugal e depois regressava. Para mim era uma maneira de não perder tudo, sabia que havia muitas coisas que estava a perder no crescimento do meu filho, mas aquele dia era importante para o ver e era como um consolo para mim.”

 

A mariscada de 600 euros

Os primeiros dias de Hugo Firmino em Angola foram de choque e perplexidade, apesar das raízes africanas, o jogador, então com 23 anos, não estava preparado para dar de caras com a realidade angolana: “No início foi um choque muito grande. Ver crianças a pedir comida no meio da rua, sem roupa. E como tinha acabado de ser pai, ao ver aquelas cenas, tive a certeza absoluta de que tinha tomado a decisão certa quando optei em ir para lá e deixar a minha família em Portugal. Não queria que a minha família passasse por aquelas dificuldades”, disse.

A verdade é que o desejo de poder oferecer uma vida estável à família fez com que Hugo Firmino rapidamente se adaptasse ao novo estilo de vida e até recordou, ao Bancada, alguns momentos de descontração vividos em Angola - de onde é natural a mãe do Hugo -, como, por exemplo, a jantarada que lhe custou muito caro: “Fiquei chocado e nunca mais lá voltei”. Ok, Hugo, mas conta lá o que se passou.

“Uma vez fui jantar com uns colegas lá, o Jorge Vidigal, o Mangualde e o Nuno Rodrigues, fomos comer uma mariscada - e eu que não sou muito amigo de sapateiras e afins, gosto de camarão e fico-me por aí - e pagámos à volta de 700 dólares (cerca de 600 euros). Uma barbaridade. O marisco lá é como ouro. Nunca mais lá fui (risos).”

 

“Ia ficando japonês de comer tanto sushi”

Foi no regresso a Portugal, depois de quatro anos em Angola, que Hugo Firmino se estabeleceu na Segunda Liga portuguesa. Passou por Oriental, União da Madeira e Gil Vicente - antes de chegar ao CD Cova da Piedade. Em Barcelos cruzou-se com Paulinho, hoje, um dos jogadores mais importantes na manobra ofensiva do SC Braga, e os dois formaram uma parceria que valeu muitos golos ao Gil Vicente, de tal forma foi que pouco faltou a Hugo Firmino para ficar com os olhos em bico. Mas ele explica.

“Eu e o Paulinho tínhamos uma brincadeira, quando jogávamos no Gil Vicente. Fizemos uma aposta. a cada duas assistências para golo que eu lhe fazia ele pagava-me um jantar de sushi. Eu fiz-lhe 12 assistências para golo e ele tinha sempre um jantar de sushi para me pagar. No final da temporada já me sentia um japonês depois do sushi que comi à conta do Paulinho. Houve ali uma altura da temporada em que comia sushi quase todos os fins-de-semana.”

 

Com os olhos na Primeira Liga e uma porta que está aberta

Mas os tempos agora são outros e Hugo Firmino tem os olhos postos no futuro. O jogador está no último ano de contrato com o CD Cova da Piedade e está na altura de dar o salto para a Primeira Liga. Hugo sabe que na Segunda Liga não faltam clubes interessados em contar com as suas assistências e golos, mas o atacante tem um objetivo a cumprir.

“Sei que tenho qualidades para lá chegar. Eu acabo contrato no final desta época. Sei que ao nível da Segunda Liga tenho muito mercado, mas eu tenho o objetivo de chegar à Primeira Liga portuguesa, já não é um sonho, é mesmo um objetivo. A agência com quem trabalho está a trabalhar no mercado. O Gil Vicente - que vai subir à Primeira Liga -  é uma forte possibilidade, quando lá estive fiz uma época muito boa e deixei algumas portas abertas. A minha saída para o CD Cova da Piedade foi feita de forma aberta e às claras. Sempre lhes disse que queria vir para junto da minha família, mas também lhes garanti de que só vinha se vinha se as pretensões deles fossem acauteladas.”

 

A sesta. Que ninguém lhe tire a sesta

Quisemos perceber o que faz Hugo Firmino quando não está a jogar futebol e ficámos a saber da importância que este craque dá às horas de sono. Mas há mais. Para além de brincar com o filho de seis anos, Hugo gosta de se armar em papa-séries, a única coisa que lhe vai roubando algumas horas de sono.

No dia-a-dia, quando estou em competição, depois do treino venho para casa, almoço, vejo um filme ou uma séries e depois durmo. Gosto muito de fazer a sesta. Sinto-me mais confortável quando consigo dormir à tarde, sinto-me descansado e repousado. Depois, também gosto de ver séries. Gostei muito das séries Narcos e Prison Break. Já me aconteceu vir para casa depois do treino, de manhã, e só parar de ver os episódios à hora de jantar. Parar não, fazer uma pausa.

Os próximos dias serão de alguma expectativa na Cova da Piedade. O clube vai estar atento ao próximo sorteio da Taça de Portugal e Hugo Firmino já tem um plano: evitar, para já, um dos grandes. “Preferia apanhar uma equipa mais acessível. Não quero dizer com isto que estivesse garantida a passagem, mas preferia uma equipa que nos permitisse encarar a eliminatória com boas perspetivas de passagem. Guardava um dos grande lá mais para a frente”, explicou Hugo Firmino.

Resta agora aguardar para ver o que traz o futuro a este jogador. Um extremo que nos habituou a jogadas empolgantes e a golos de placa. Hugo Firmino sabe que é preciso coragem para apostar em jogadores da Segunda Liga, mas nós afirmamos que é preciso coragem para não dar uma chance a um jogador com a qualidade que este já demonstrou.