Portugal
"Rafa não sabia que o Benfica tinha jogado com o Leverkusen..."
2021-07-16 19:25:00
Simões fala no sistema presidencialista e na ausência de mística, com jogadores que desconhecem a história do Benfica

António Simões congratula-se com os sinais que emanam do Benfica, desde a saída de Luís Filipe Vieira à promessa de Rui Costa, que garantiu que os órgãos sociais irão convocar os sócios para um novo ato eleitoral. O futuro do clube da Luz terá outro protagonista na presidência. Mas será o fim do Vieirismo no Benfica? 

Confrontado com essa questão, em particular sobre uma demarcação necessária à corrente criada por Luís Filipe Vieira, a antiga glória encarnada prefere apontar o dedo aos chamados “sistemas presidencialistas” que vigoram em Portugal, com um ‘pai’ desse tipo de liderança: Pinto da Costa. 

“O sistema dos clubes é presidencialista. Diretores desportivos não existem, em Portugal. Isso é tudo conversa. Quem decide são os presidentes. Começou em Pinto da Costa, foi ele que começou, e todos quiseram imitar Pinto da Costa. O presidencialismo no Benfica é exatamente o mesmo”, aponta, em declarações à Sport TV.  

Noutros países, “isto não existe”. Pelo contrário, vigora uma “cultura completamente diferente”, bem mais saudável, que conta com a integração de personalidades que conhecem a história dos clubes e as respetivas místicas.  

“Há um presidente, que é a figura escolhida pelos sócios, aparece uma direção, mas há muitos clubes com modelos que contam com a presença de pessoas que estiveram no clube, que têm a cultura do clube, que têm a palavra para os que chegam, como isto funciona, como se deve representar o clube”, assinala. 

E a este propósito António Simões fala de Rafa, para dar um exemplo de desconhecimento, por parte do jogador do Benfica, da ausência dessa cultura no plantel.

Simões lamenta que os atuais jogadores do Benfica desconheçam a história do clube: “Não há muito tempo, à margem de um jogo internacional, foi feita a pergunta a Rafa, sobre se ele se lembrava do Benfica-Leverkusen. E Rafa não sabia que o Benfica tinha jogado com o Leverkusen...”.  

Esse encontro, recorde-se, a contar para a Taça das Taças, em 1993/94, é um dos mais icónicos do Benfica, nas competições europeias. Depois de um empate a um golo na Luz, os encarnados defrontaram os poderosos alemães e conseguiram um empate, 4-4, num jogo épico.  

Com o saudoso Neno na baliza e Rui Costa no onze, os encarnados seguiram em frente, no que pode ser considerado um dos hinos à mística benfiquista, que se tem perdido, apesar de o próprio Simões ter apresentado uma ideia para combater essa realidade.  

“Recordo uma história. Na altura em que o Luisão igualou o mesmo número de jogos que eu tinha feito no clube, fez-se um programa muito interessante na BTV, com o Humberto Coelho, o Shéu... Na altura, sugeri que se fizesse um pequeno livro, um almanaque, de um Benfica que já era centenário, e que se entregasse a cada jogador e a cada funcionário que entrasse no clube. O Luisão, como capitão da equipa, nessa altura, teria a missão de fazer um pequeno exame a quem entrasse. ‘Diz-me lá o que diz a página 96?’. O Luisão achou imensa graça. São pequenas coisas que fazem viver a história do Benfica. É importante que os jogadores que chega conheçam a história”, refere. 

António Simões entende que servir o Benfica obriga a conhecer a sua história. E deixa uma crítica implícita à realidade do clube, que tem nos seus quadros cada vez menos figuras do passado encarnado. O próprio Simões deixou o clube, durante um dos mandatos de Vieira. 

Nesta altura, para António Simões, o mais importante é criar condições para que o clube enfrente um momento decisivo, que passa pela construção do plantel e pela qualificação para a Liga dos Campeões. Exige-se inteligência de quem dirige. 

“Tudo isso irá influenciar o voto. E a figura que se vai escolher. Vamos aguardar. Sou muito prudente, nestas circunstâncias. Espero, sobretudo, que seja um Benfica inteligente. E digo isto com a convicção de que é necessário saber escolher. Que os sócios votem em consciência”, conclui.