Jogo do Povo
Ribeirão. Voar para a manutenção sem o tal do Kevin Crew
2024-03-07 16:10:00
Entrevista a Ruizinho, jogador do Ribeirão, do Campeonato de Portugal

O futebol une e associa pessoas. O momento conta e por mais planos que se fazem, por vezes furados que saem, o futebol está lá sempre. Na alegria e na tristeza.

A cada domingo a esperança é renovada, como se o elixir da felicidade estivesse à espera a cada oito dias. Mesmo se antes a bola tenha batido na trave, ou passado bem ao lado das redes, a cada domingo há alegria e desejo de vitória. Sempre. 

Seja na bancada ou no relvado, no sofá ou em qualquer lado, no centro do estádio ou a um canto, o futebol é sempre uma (boa) razão para procurar caminhos. Para lutar por sonhos. Para se fazer e ser vida. Porque no futebol, verdadeiramente, a infância nunca passa. 

E mesmo que digam que o futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes, resumir a bola a uma ‘coisa’ não é conversa para quem faz disto vida e ganha vida do mais alto patamar aos mais baixos.

Não importa o degrau, importa é estar. Dizer presente no futebol, o motivo principal. E foi pelo futebol que o Jogo do Povo viajou até Ribeirão ‘onde o Minho começa’, como dizem os locais, enchendo o peito de orgulho. Aí encontramos Rui Miguel Cabral Furtado, ou simplesmente Ruizinho, como é conhecido.

Com vários anos de experiência no mundo da bola, Ruizinho explicou-nos os sonhos e os objetivos do clube famalicense que milita na Série A do Campeonato de Portugal. Mas se o futebol é viagem. Existem algumas que ficam para a história.

“Quem será esse Kevin Crew que vem sempre connosco?”

Quem anda no futebol sabe que o difícil é não esbarrar em situações insólitas. E Ruizinho também já as vivenciou. “É cada história”, avisou, em jeito de abertura de cerimónias.

“O futebol traz-nos essa parte engraçada do dia a dia de balneário e convívio que gosto de destacar como a essência do futebol”, referiu Ruizinho.

E depois lá saiu o momento que ainda hoje está no topo das gargalhadas de quem a viveu na altura. Ruizinho ainda jogava nos Açores.

Depois de tantas viagens da ilha para o continente, um colega soltou a interrogação em jeito de insólito antes de uma aterragem do avião.

“Normalmente o piloto fala: ‘Cabin crew take your seat for landing’”, citou, lembrando a altura em que os pilotos pedem à tripulação para ficar sentada para a aterragem.

“Um colega meu que não entendia inglês muito surpreendido pergunta-me ‘quem será esse Kevin Crew que vem sempre connosco?”.

A vida no futebol é assim também. Feita de episódios e de muitas viagens, sobretudo para alguém que há muito aprendeu a sair da ilha mas a não deixar a ilha sair de si.

"Salários em atraso a que por vezes estamos sujeitos é a parte mais difícil de gerir"

Em qualquer camisola que veste no futebol, Ruizinho tem cosidas as suas raízes açorianas.

“Sendo natural dos Açores o mais difícil é mesmo estar afastado da minha família e amigos”, confessou.

Mas dentro de um contexto desportivo há coisas que também vão a jogo, além da saudade. E são coisas que Ruizinho gostaria que não ‘fossem a jogo’.

“Talvez aponte os salários em atraso a que por vezes estamos sujeitos como a parte mais difícil de gerir”, observou o jogador do Ribeirão.

Campeonato de Portugal como "elevador" de talento

Experiente no futebol, aos 34 anos, Ruizinho tem opinião muito particular sobre o Campeonato de Portugal (CP) que tem funcionado como elevador de sobe e desce entre uns e outros.

“O Campeonato de Portugal, como se costuma dizer, é um campeonato de oportunidades. Existe muita qualidade nesta divisão e como já vem sendo hábito, acaba por ser um elevador de jogadores para campeonatos profissionais”, disse Ruizinho nesta entrevista ao Jogo do Povo.

“No fundo, é um campeonato competitivo que torna o jogador mais preparado para ligas superiores”, avaliou o jogador que começou a época no Portosantense, da Madeira.

Ribeirão quer permanência e depois pensar em outros voos

Mas o presente do médio é no Ribeirão, clube que quer segurar a manutenção o quanto antes.

“O objetivo passa pela manutenção”, declarou o jogador, falando de “um clube que subiu este ano e que procura a estabilidade para posteriormente atacar outros patamares”. 

“Infelizmente houve contratempos e agora corremos atrás do prejuízo mas com a certeza que daremos tudo até ao fim”, prometeu o atleta, em declarações ao Bancada.

Competitivo por “natureza”, Ruizinho explicou ainda que a experiência o tem ajudado a gerir os momentos e os contextos do jogo, algo que entende ser importante mesmo num patamar destes a nível nacional.

“Acho que gerir emoções semana após semana após vitórias, empates ou derrotas”, disse ao Bancada, certo de que a experiência o ensinou que “o gosto de ganhar supera tudo nesta profissão”.

“E ao contrário, custa tornando-o um jogador competitivo por natureza”, manifestou Ruizinho.

O futebol vive da entrega dos jogadores e eles têm muitos sonhos. Ruizinho não é diferente e admite que há um jogador com o qual nunca se cruzou no relvado mas gostaria.

“Felizmente tive a oportunidade de jogar contra grandes jogadores, mas gostava de me ter cruzado em campo com o João Moutinho”, revelou o médio sobre o companheiro de profissão e posição E a justificação é clara: “Pela classe e inteligência que demonstra em campo”.

O cruzamento de futebol num mesmo terreno entre Ruizinho e João Moutinho não se deu, pelo menos até agora, para tristeza do jogador do Ribeirão. Mas há conquistas no percurso deste açoriano.

“Felizmente na minha carreira consegui atingir alguns objetivos como um título nacional, subidas de divisão e isso é gratificante”, recordou, prometendo continuar enquanto as pernas permitirem. 

“Sinto-me bem fisicamente e resta- me lutar por objetivos realistas, ambiciosos e atingíveis. Sinto-me um jogador maduro e consigo nesta fase transportar para dentro de campo isso, e acho que é uma mais-valia”, reconheceu Ruizinho, ele que vê o futebol com o seu lado mais atrativo e virado para o espetáculo.

“Futebol é convívio e alegria”, observou, exemplificando com coisas que transportem o imaginário dos adeptos para o mundo da bola. “Bifana e cerveja com os amigos e discussão saudável. É relva e paixão”, resumiu o jogador que, além do futebol jogado, ajuda a formar outros craques para o presente e sobretudo para o futuro.

“Esta temporada decidi ocupar mais o meu tempo livre com a inclusão no meu dia a dia dos treinos individuais”, contou ao Jogo do Povo, relatando como tem corrido a experiência.

“Estou a colaborar com a Boost Campus Academy como treinador de técnica individual de futebol. De momento tenho treinos matinais no Ribeirão e vou ocupando a parte de tarde com os treinos na escola”. Palavra do ‘prof’.