Prolongamento
"Sabotagem, jogadas e mentiras". Gomes da Silva conta tudo sobre Vieira
2021-07-02 10:00:00
Ex-vice-presidente faz ataque sem paralelo a Vieira e, na sua versão dos acontecimentos, desvenda tudo

Com o Benfica a enfrentar um período de instabilidade, no qual a oposição se mostra cada vez mais no clube da Luz, Rui Gomes da Silva, antigo vice-presidente e ex-candidato nas últimas eleições, tendo concorrido contra Luís Filipe Vieira e João Noronha Lopes, sai a público para prestar alguns esclarecimentos e justificações aos benfiquistas, não deixando, contudo, de velar críticas ao atual presidente do Benfica.

O ex-dirigente lembra que tem estado em silêncio mas, perante o estado atual das coisas, não pode mais estar sem dar a sua opinião sobre aquilo que vê acontecer no emblema da águia. "Tenho estado remetido ao silêncio (apenas interrompido muito excecionalmente) desde as eleições do passado outubro de 2020. Só que tendo a paixão que tenho e que partilho com tantos milhões, não é possível manter esse mesmo silêncio perante o espetáculo degradante para o Benfica e o seu bom nome que tanto a direção de Luis Filipe Vieira como o ex-candidato Noronha Lopes e seus assessores estão a dar."

Numa altura em que o sistema de voto eletrónico no Benfica volta a dar que falar, com a Mesa da Assembleia Geral a avançar com a contagem dos votos físicos para verificar os resultados eleitorais, Gomes da Silva lembra que as dúvidas quanto ao sistema eletrónico de votação já surgiram antes do último ato eleitoral.

"Fui o único que tomou a posição pública de não ir votar esse mesmo orçamento [junho de 2020] porque não acreditava no sistema de voto electrónico que se anunciava. A minha candidatura já tinha tomado a iniciativa de contactar a Comissão Nacional de Eleições e foi em resultado disso que os benfiquistas souberam que o sistema de Voto Eletrónico não era certificado por tal entidade. Mais ninguém teve essa preocupação".

Rui Gomes da Silva explica que esteve sempre "disponível para todos os entendimentos necessários para assegurar aos benfiquistas uma eleição transparente e sem mácula."

O antigo dirigente diz que aquilo que não fez nem admite é ver um Benfica "independente de poderes externos, ajoelhado a empresários de futebol ou subjugado a operadores televisivos". "Nunca estive disponível para aceitar um Benfica que não seja integralmente dos sócios. Nem Portugal é a Alemanha, nem o Bayern de Munique é o Benfica."

Certo do caminho que tem vindo a percorrer, Rui Gomes da Silva explica que foi a sua forma de ser e pensar que o levaram a deixar a administração do clube. "Por não aceitar jogadas ou mentiras aos sócios, deixei a direção em 2016, para lutar cá fora por um Benfica diferente. Recusei a entrega a Jorge Mendes da preferência total quanto aos atletas do Benfica, camadas jovens incluídas".

A esse respeito, Rui Gomes da Silva 'puxa dos galões' e admite que andou a lutar sozinho nos últimos anos. "Denunciei sozinho nos últimos anos que o Benfica estava transformado numa coutada de um empresário. Denunciei sozinho que Luís Filipe Vieira estava a utilizar o Benfica como bloqueio a problemas pessoais exteriores ao clube. Denunciei sozinho que Luís Filipe Vieira estava a encher a estrutura de não-benfiquistas, cuja única lealdade seria ao vencimento que receberiam e a mais nada."

E outras coisas. "Denunciei sozinho a sabotagem ao possível penta", referiu Gomes da Silva, sustentando, em comunicado publicado no blogue Novo Geração Benfica, que procurou chamar a atenção dos benfiquistas para "as comissões, transferências, OPA vergonhosa" e outros assuntos "que tantos defenderam em artigos de opinião".

Mas não se fica por aqui Rui Gomes da Silva. O antigo vice-presidente do Benfica diz que o tentaram calar. "Fui afastado da SIC porque acharam que era assim que me calavam. Passei a ser atacado no mesmo programa em que participei durante anos".

Rui Gomes da Silva recorda que esses foram os tempos em que "os indignados de hoje defendiam Luis Filipe Vieira e louvavam negócios como o de João Félix."

Por ver o Benfica a caminhar na "degradação", Rui Gomes da Silva diz que quebra o silêncio e avisa que querem entregar a SAD a um "testa de ferro". "Esta degradação a que querem conduzir o Benfica tem o objetivo maior de querer entregar a SAD a um testa de ferro em nome de interesses financeiros obscuros."

A ideia, revela Gomes da Silva, passa também "por entregarem os direitos televisivos, anos antes do fim do contrato, a quem sempre lutou contra o Benfica."

Ao lado do comentário de Gomes da Silva não passa a "vergonhosa reunião entre Luis Filipe Vieira e Pinto da Costa" que foi "mais um sinal da subjugação do Benfica aos poderes instalados". "Ou vamos acreditar em quem num dia diz que não foi campeão por influência da arbitragem e no dia a seguir senta-se com o clube campeão dos penáltis?"

A este respeito, Rui Gomes da Silva nota que as aproximações de Vieira ao FC Porto têm ajudado os dragões. "As ligações de Vieira ao FC Porto assumidas sem vergonha nos últimos tempos e a forma como a degradação da qualidade do plantel tem protegido os interesses do FC Porto e garantido entradas diretas na Champions por parte do clube do Apito Dourado não parecem incomodar todos".

Gomes da Silva diz que "nem todos se podem gabar de não estar ligados aos interesses ou de não estar dependente de amizades com dirigentes do Apito Dourado."

Por isso, assegura que irá continuar vigilante. "Continuarei a defender o Benfica, mesmo que o tenha de continuar a fazer sozinho entre as 'elites' ou 'grupos de influência'. Digo não à degradação do Benfica, seja pela ação de Luís Filipe Vieira seja pela ação de quem quer tomar o poder a qualquer custo. O Benfica é nosso".

Na publicação, Rui Gomes da Silva realça o trabalho que já desempenhou dentro do Benfica mesmo quando integrava as direções de Luís Filipe Vieira. "Lutei - quase sozinho - dentro do clube por um Benfica Europeu, ambicioso, e dominador a nível nacional. Lutei sozinho por cortarmos definitivamente os laços com a Olivedesportos ou empresas que a substituíssem mas que mantivessem o poder nas mesmas pessoas."

Gomes da silva lembra que defendeu "quase sozinho que o Benfica era suficientemente grande para deter os seus direitos televisivos e ser um player no mercado das transmissões desportivas televisivas".

Por isso, nota que a Benfica TV com os jogos na Luz e a Liga Inglesa, que chegaram a ser transmitidos pelo canal do clube, "provaram que estava certo nessa defesa do interesse do Benfica".

Rui Gomes da Silva diz que é preciso pensar no bem do clube. "As pessoas passam mas o Benfica deve ser - sempre, mas sempre - preservado."