Prolongamento
"É uma vida nova, sem bebida, sem drogas, sem prostituição", conta Jardel
2019-07-16 15:20:00
Antigo futebolista viaja pelos extremos de uma vida na montanha-russa

O talento conduziu-o ao estrelato, resumido num número: 470. Foram os golos que Super Mário apontou, ao serviço de clubes como o Vasco, Grémio, FC Porto, Galaratasaray e Sporting, entre outros.

Ainda vestiu a camisola da seleção brasileira e conseguiu apontar um golo, nos 10 jogos em que se tornou internacional.

Jardel voou entre os centrais e tocou o céu, sobretudo entre os anos de 1992 e 2003, o apogeu da sua carreira.

Depois, veio a queda. Dependência de drogas, de álcool, depressão, polémicas na política, problemas financeiros e bens penhorados.  

Agora, vive um dia de cada vez, a recuperar dos problemas que o levaram a perder tudo, inclusive amigos.  

Em entrevista à Globo, o antigo avançado do FC Porto e do Sporting, faz uma viagem a esse passado obscuro, aos tempos em que, em Fortaleza, experimentou cocaína. Conseguiu libertar-se e enfrenta uma "luta que não é fácil", porque "o cãozinho vem perturbando".

Apesar de tudo, sente-se feliz. “Estou noutra vida, nunca me senti tão bem. Uma mudança radical, uma transformação tremenda. Hoje tenho muita fé em Deus, que vai me manter muito tempo assim. É uma vida nova, sem bebida, sem drogas, sem prostituição. Estou há quatro meses sem tomar remédio para dormir. Sou uma pessoa renovada e bem consciente de que posso servir a sociedade com esse resgate, com palestras, com várias coisas que estão vindo devagarinho. A vida está mais saborosa. A cada dia, fico mais contente com minha atitude, com essa mudança", conta.

Jardel agarra-se è fé, vai à igreja "três vezes por semana", e ao futebol, como adepto e como intermediário. "Estou num caminho com direção, bem agradável, bem tranquilo, com paz espiritual", garante.

Agarra-se também à memórias: "Às vezes, caio na real, porque as pessoas dizem 'Jardel, tu és o único brasileiro com duas Botas de Ouro na Europa, foste artilheiro da Libertadores, artilheiro da Champions League, campeão. Tu tens que te valorizar mais'. Comecei a dar mais valor a mim mesmo".

Nesta montanha-russa, tem a forte convicção de que não cometerá os erros do passado. "É uma luta diária. Mas sei que essa vida não é para mim. Já passou. Espero manter-me assim para o resto da vida. Tenho certeza de que vai dar tudo certo", realça o antigo futebolista.

A sua "vida desgraçada", como o próprio refere, retirou-lhe tempo. "Essa vida tirou o tempo que eu poderia ter aproveitado melhor. Vou fazer 46 anos, foram de oito a nove anos em que andei em um mundo muito cruel. Senti, no meu coração, que não dava mais para continuar naquela vida desgraçada, uma vida que não me levava a nada. Estava a tomar muito remédio para a depressão e comecei a procurar a igreja". 

Essa vida desgraçada retirou-lhe tempo e os amigos: "Quando você tem muito dinheiro, está cheio de amigos. Quando não tem, todo o mundo desaparece. E eu também me distanciei deles. Percebi que, quando ganhava milhões por mês, estava cheio de amigo para eu pagar a conta, e agora não. Agora os amigos saíram".

E retirou-lhe também dignidade, uma vez que Mário Jardel se tornou no primeiro deputado estadual a ser afastado de funções, por desvio de dinheiro público: "Estive mal, com depressão, no vício, e o que posso ter feito de errado foi aquele dinheiro passado do assessor para a próxima campanha, que a gente tinha combinado, e o resto estou com a consciência tranquila, não fiz nada de errado. Tráfico de droga? Lavagem de dinheiro? Nada foi provado e durmo tranquilo. Espero que o Ministério Público encontre uma solução, porque tenho bens penhorados".

Mário Jardel vive em dificuldades. Mas diz que "o dia mais feliz da sua vida é o presente, o dia de hoje", porque é mais um de "superação", com "cara limpa".

"Está na hora de parar e ficar a recordar. Vida que segue... Vida que segue. Procuro o melhor possível, diariamente, dar o exemplo, viver mais, até aos 100 anos", conclui.