Portugal
O Sporting (quase) a ser Sporting
2018-03-15 21:45:00
Os leões dificultaram uma eliminatória que nunca pareceu complicada e lembraram episódios antigos

Uma primeira mão que deixou a sensação de que o resultado foi muito curto para a diferença entre as duas equipas. Um golo sofrido em fora de jogo na primeira jogada do (segundo) encontro. Oportunidades de golo falhadas de forma incrível. Um penálti desperdiçado em tempo de compensação. Uma eliminatória que à partida estava controlada e que por momentos se viu a fugir entre os dedos. Onde é que nós já vimos este filme? Ou um muito parecido? O Sporting esteve quase a ser Sporting não fosse o golo de Battaglia, o herói improvável, numa partida em que quase tudo o que podia correr mal, correu mesmo mal.

Teremos de recuar uma semana para poder pensar na crónica do jogo desta noite. É que contrariando o que Jorge Jesus afirmou no final da partida da primeira mão, que o Sporting venceu por 2-0, ficou a sensação de que os leões poderiam ter vencido essa partida com mais folga e, logo, trazer uma vantagem que desse maior espaço de manobra para esta segunda mão. Mas não aconteceu, e ao Sporting era pedido que não mostrasse receio, que confirmasse a sua superioridade e que, no mínimo, evitasse uma entrada forte do Viktoria Plzen. Mas o Sporting fez tudo menos isto.

O Sporting começou, logo no lançamento do desafio, a demonstrar um receio exagerado. Jorge Jesus temeu o jogo aéreo, falou nisso e pediu aos jogadores que tivessem cuidado extra com as bolas pelo ar. E o que é que aconteceu? Logo na primeira jogada do desafio o Sporting sofreu um golo. Como? Pelo ar. E para adensar mais a trama, Bakos, o autor do golo do Viktoria Plzen, estava fora de jogo no momento do cruzamento. Nada a que o Sporting não esteja já familiarizado em jogos europeus. O pior cenário para os leões montou-se com apenas cinco minutos de jogo.

Ora, isto era o Sporting a ser Sporting. A complicar, com a conivência do árbitro assistente, uma eliminatória que parecia sob controlo. À memória dos mais antigos terá surgido as eliminatórias frente a Casino Salzburgo e Rapid Viena, nas quais o Sporting levava uma vantagem de 2-0 de Lisboa para depois se ver eliminado. Mas regressando ao jogo desta quinta-feira. O Viktoria pressionou muito o Sporting, mas das poucas vezes que o conjunto português passou a primeira barreira de pressão via-se com condições de visar a baliza de Hruska e só não marcou, ainda na primeira parte, porque Bryan Ruiz foi Bryan Ruiz e falhou um golo cantado depois de uma grande assistência de Bas Dost, um dos melhores do Sporting esta noite.

Na segunda parte, o Sporting entrou relativamente bem, mas voltou a falhar na finalização. Desta feita foi Acuña, que estará ainda a tentar perceber como falhou um golo já depois de ter enviado a bola ao poste. O argentino, que esteve muito ausente de toda a partida até ser substituído por Montero, foi incapaz de empurrar a bola para uma baliza deserta, aumentou a pressão para o Sporting e fez acreditar os jogadores do Plzen que era possível chegar ao milagre, que Pavel Vrba havia pedido na antevisão do encontro.

E como um azar nunca vem só, o Viktoria Plzen marcou mesmo, estavam decorridos 64 minutos. E perdoe-me o treinador do Sporting, mas nasceu de uma bela jogada de entendimento com o esférico sempre na relva, nada de bola no ar e muito menos de jogo direto. Estava empatada a eliminatória e os sportinguistas de mãos na cabeça. “Onde é que eu já vi isto?”, deveriam estar a perguntar-se.

Mas calma, ainda não tínhamos visto tudo. Só faltava mesmo o Sporting falhar um penálti no último minuto. E para tornar a coisa ainda mais rocambolesca, na recarga um jogador leonino falhar o golo de forma escandalosa. Exato. Mas foi mesmo isso que aconteceu. O conjunto português viu um penálti cair do céu aos trambolhões que Bas Dost falhou. Hruska defendeu para a frente, mesmo para os pés de Bruno Fernandes, que de tão longe fazem maravilhas, mas que a dois metros da baliza enviaram a bola por cima da trave.

Deu sempre a sensação de que o Sporting era superior ao Viktoria Plzen, mas era evidente também que as amarras psicológicas e a gritante falta de eficácia na hora de rematar à baliza teimavam e empurrar a equipa de Jorge Jesus para mais uma desilusão. Já se estava à espera. Mas não. E aqui é que surge o quase que está entre parênteses no título. Surpreendentemente, o Sporting marcou, por intermédio de um herói improvável, Battaglia reduziu para 2-1 e escancarou as portas dos quartos de final da Liga Europa ao Sporting.

E perceba-se esta surpresa da minha parte. Nada tem a ver com a qualidade, ou superioridade do Sporting perante este Viktoria Plzen, que como referi, as espaços chegou a ser evidente. Surpreendentemente, porque o rumo que os acontecimentos tomavam, lembravam outros episódios mais antigos. O descontrolo de uma equipa que teima em dificultar as coisas que não são assim tão complicadas.