Portugal
Marítimo: o caldeirão dos Barreiros tem o caldo a entornar
2018-03-09 17:15:00
As recentes atitudes de Carlos Pereira estão a causar algum desconforto entre os adeptos do clube madeirense

Está o caldo entornado na Madeira. Carlos Pereira, presidente do Marítimo, virou-se contra a equipa após a pesada derrota (5-0) frente ao Benfica, no Estádio da Luz, no passado sábado e apontou o dedo ao treinador e aos jogadores. Fábio Pacheco foi o principal visado e o jogador foi mesmo afastado do grupo para ser “avaliado pelo departamento médico”. O Bancada quis saber como estão a viver, os sócios do Marítimo, este momento complicado do clube e percebemos que o ambiente está pesado.

Todos sabemos que a lógica do futebol depende sempre do que acontece à bola. Se entra ou se bate no poste. E os estados de graça dependem também desse movimento incerto. Há uns meses, o Bancada falou com os sócios do Marítimo sobre a excelente campanha que o clube insular estava a realizar. Daniel Ramos possuía um recorde de imbatibilidade no Estádio dos Barreiros (do Marítimo) e os sorrisos abundavam. Mas as coisas mudaram e a boa disposição deu lugar a um sentimento de frustraçãom e desconforto.

O Marítimo realizou dez partidas em 2018 e apenas venceu uma. Para amostra tem seis derrotas, mais uma do que aquelas que tinha em toda a época até ao virar do ano. Daniel Ramos deixou de ser imbatível e jogos em casa e as vitórias começam a escassear. No passado sábado, o Marítimo deslocou-se ao Estádio da Luz e perdeu por 5-0, mas o pior nem foi a pesada derrota. O pior veio depois, quando Carlos Pereira decidiu agir. Criticou duramente as opções do treinador e atacou a atitude dos jogadores.

Fábio Pacheco foi o principal visado e acabou afastado do restante grupo de trabalho. Carlos Pereira diz que enviou o jogador para o departamento médico para ser avaliado. Quer saber se o abaixamento de forma do jogador na partida frente ao Benfica, que, segundo o presidente dos maritimistas, foi muito acentuado, tem na base nalguns problemas físicos. A decisão de Carlos Pereira em afastar o jogador gerou uma onda de apoio ao atleta, desde do Sindicato dos Jogadores a antigos colegas de Fábio. Mas não só. O “GoalPoint” - site especializado em estatísticas e desempenhos em jogos - analisou a exibição de Fábio Pacheco e as conclusões a que chegou são as seguintes:

- Nenhum jogador interceptou mais passes neste jogo do que Fábio Pacheco. Só Ricardo Valente somou tantas intercepções como Fábio, mas, curiosamente, foi o primeiro a ser substituído

- Nos 17 jogos em que foi titular esta época, este foi o terceiro jogo em que Fábio Pacheco interceptou mais passes. Só contra Rio Ave (6) e Braga (5) fez mais.

- Antes deste jogo, Fábio Pacheco tinha uma média de 2,8 passes interceptados a cada 90 minutos. Contra o Benfica foram 4, ou seja, 43% a mais que o seu normal.

- Para além de ter sido o melhor neste aspecto defensivo, Fábio Pacheco foi ainda o segundo jogador do Marítimo com mais desarmes (2), faltas cometidas (3) e aquele que mais passes acertou (16).

 Da Madeira, as reações são calculadas. O amor ao clube e o desejo de ver a equipa a dar a volta ao mau momento obrigam à contenção. Foi isto que percebemos quando contactámos alguns sócios do Marítimo. Dinarte Andrade, líder da claque Fanatics, rejeitou prestar declarações por não querer prejudicar a equipa numa altura em que os próprios adeptos maritimistas sentem dificuldade em perceber a atitude de Carlos Pereira ao criticar ferozmente as escolhas de Daniel Ramos e ao afastar Fábio Pacheco do restante grupo de trabalho.

Para Rita Nobre, sócia do Marítimo há 35 anos, a atitude do presidente “só veio desestabilizar a equipa” numa altura em que as coisas não têm corrido bem e disse ao Bancada que sente “os adeptos ao lado da equipa de Daniel Ramos”. A mesma ideia foi-nos transmitida por Luís Vasconcelos, adepto do clube insular: “Eu penso que o presidente queria tomar uma posição, mandar uma mensagem ao grupo, mas acredito que não tenha sido a mais correcta”, lamentou.

Relativamente à situação de Fábio Pacheco, as coisas ainda estão a ser digeridas pelos adeptos. Ninguém, na Madeira, acredita em facilitismos, mas os adeptos queriam que a equipa tivesse deixado uma imagem bem diferente daquela que deixaram no Estádio da Luz, até porque pretendiam calar todas as vozes que têm acusado o Marítimo de facilitar nas deslocações à Luz. Nas últimas quatro visitas ao terreno do Benfica, o Marítimo perdeu outros tantos jogos sofrendo 20 golos e não marcando qualquer um.

Espera o Luís que todos estes acontecimentos “sirvam de força interior aos jogadores, para que deem a volta à situação” e acredita que “vai ser com esta equipa técnica e com estes jogadores que vamos dar a volta ao mau momento” até porque “os adeptos vão estar sempre prontos para apoiar a equipa, seja em que condições for”, atirou.

O Marítimo é neste momento oitavo classificado com 33 pontos e no domingo, às 16h, recebe o Vitória de Setúbal no Estádio do Marítimo.