Portugal
FC Porto entre o dilema de Casillas e a tendência de Conceição para os jovens
2017-06-30 17:00:00
Embora o espanhol seja uma “mais-valia”, técnico tem optado pela juventude nas balizas dos últimos clubes que orientou

A dúvida em relação à continuidade de Iker Casillas no FC Porto poderá levantar um problema na baliza azul e branca. A experiência e as qualidades do guardião espanhol, de 36 anos, são apreciadas, como prova a opinião de um ex-dragão que já ocupou o posto, considerando-o mesmo uma “mais-valia”. No entanto, uma eventual saída do veterano guarda-redes poderia ser resolvida através da tendência mostrada recentemente por Sérgio Conceição, vindo a optar pela juventude em detrimento da experiência num passado recente.

De acordo com João Fonseca, guardião que representou o FC Porto entre 1977 e 1982, a continuidade de Casillas “será uma vantagem” para a equipa. “Embora a primeira época não tivesse sido tão produtiva, na segunda deu para verificar que é um guarda-redes de nível mundial”, frisou ao Bancada, antes de explicar que a “adaptação” pode ter sido um fator condicionante: “mesmo vindo de um país próximo, a vida acaba por ser diferente e é complicado fazer essa mudança. Também joguei em Espanha [Ourense, entre 1973 e 1975 e em 1982/83] e sei que não é fácil”.

Sem querer opinar sobre questões financeiras, uma vez que a continuidade de Casillas poderá sair cara aos cofres do clube, Fonseca não tem dúvidas em afirmar que Casillas faria “falta ao FC Porto”, considerando-o uma “mais-valia” e ignorando os números do bilhete de identidade. “A idade não conta, porque cada ano que passa vamos adquirindo mais experiência. Sem menosprezar o valor das outras opções, ele é de nível superior. Um bom guarda-redes é aquele que vale muitos pontos e ele na última época valeu muitos pontos, mesmo sem o FC Porto ter sido campeão”, apontou o antigo guarda-redes natural de Matosinhos, agora com 69 anos.

Números a favor da juventude

Se muitos treinadores optam por dar a baliza a guarda-redes experientes, alinhando pela ideia de que o pico da carreira nesta posição surge na casa dos 30 anos, Sérgio Conceição tem sido o oposto disso. Sobretudo nos três últimos clubes por onde passou. Na temporada passada, quando chegou ao FC Nantes optou por continuar a dar a titularidade a Rémy Riou, de 29 anos. No entanto, não demorou muito a trocar o dono da baliza. Poucos jogos depois, a titularidade foi para o jovem Maxime Dupé, de 23 anos. Uma decisão que valeu algumas críticas dos adeptos, mas que o técnico português manteve até final da temporada. Em 26 jogos com Conceição, o mais jovem foi utilizado em 19 deles.

Mas um exemplo ainda mais marcante desta opção pela juventude, aconteceu na época anterior, em 2015/16, ao serviço do Vitória de Guimarães. O experiente Douglas, então com 32 anos, começou como titular, mas só foi utilizado por ele em seis jogos. Conceição ainda testou Assis, de 25 anos, num jogo, mas a grande aposta acabou por ser em Miguel Silva, na altura com apenas 20 anos. O jovem internacional Sub-21 português manteve sempre a titularidade até final da época, acabando por realizar 24 partidas.

Antes disso, no SC Braga, Sérgio Conceição alternou toda a temporada de 2014/15 entre dois jovens, depois da saída de Eduardo, que era o titular na época anterior. Kritciuk, de 23 anos, atuou em 20 encontros, enquanto Matheus, de 22 anos, foi titular em 23 encontros. Pelo meio ainda utilizou o jovem Victor Golas, de 21 anos, numa partida da Taça da Liga.

Se recuarmos até às primeiras experiências de Conceição, ao serviço de Olhanense e Académica, os números já não mostram a mesma tendência, embora a dimensão dos clubes fosse mais modesta e as opções disponíveis também não o permitissem. Nos 41 jogos feitos pela Académica, Ricardo Nunes, na altura com 30 anos, foi utilizado em 39 partidas e Peiser, de 33 anos, em apenas dois encontros.

Já no Olhanense as opções dividiram-se entre o antigo internacional Ricardo (oito jogos), quando este tinha 36 anos, e o brasileiro Bracali (nove jogos), de 31 anos. A outra opção no plantel era o também veterano Bruno Veríssimo, que acabou por nunca jogar. Isto na segunda época nos algarvios, pois na primeira, em 2011/12, quando se estreou como treinador principal, entrando a meio da temporada, a opção caiu sempre no brasileiro Fabiano, então com 23 anos. Guarda-redes que, aos 29 anos, ainda pertence aos quadros do FC Porto, depois de ter estado emprestado ao Fenerbahçe nas duas últimas épocas.

Mexicano à espreita

Tendo em conta estes dados, que nos mostram que nos 176 jogos feitos por Sérgio Conceição como treinador principal a média de idades dos guarda-redes utilizados é de 27,22 anos – se tivermos em conta as últimas três épocas é de apenas 23,20 anos -, até poderão existir opções no plantel dos azuis e brancos para satisfazer esta tendência do técnico, de 42 anos. O internacional Sub-21 português, José Sá, de 24 anos, poderia ser uma opção, ele que está na Rússia ao serviço da Seleção Nacional na Taça das Confederações.

Ainda assim, João Fonseca acredita que há outra boa opção de futuro no Dragão. “Há um guarda-redes no FC Porto que tem muita qualidade: o Gudiño”, aponta. O antigo guardião lembra casos antigos, que podem servir de exemplo para uma aposta no mexicano: “Se não apostarmos na juventude nunca saberemos. Foi assim que o Vítor Baía e outros apareceram. Quem não arrisca não petisca”.

Aos 21 anos, e depois de na temporada passada ter realizado 31 jogos ao serviço da equipa B do FC Porto, Gudiño poderia ser assim uma eventual surpresa nos trabalhos portistas na pré-temporada. A verdade é que a idade não seria um problema para o técnico, uma vez que Sérgio Conceição já lançou um guarda-redes de apenas 20 anos às feras, como foi o caso do vitoriano Miguel Silva. “Em termos de futuro, sem menosprezo em relação ao José Sá, o Gudiño é uma boa opção”, sublinha João Fonseca.