Grande Futebol
Lennon correu perigo de vida e diz que não jogar levou-o à depressão
2018-05-13 17:40:00
O agora jogador do Burnley revela que esteve "num lugar muito escuro"

A polícia foi chamada para intervir junto a uma das autoestradas mais movimentadas dos arredores de Manchester. A queixa relatava que um homem em “situação precária” corria perigo de vida. Um porta-voz da polícia informou que “um homem na casa dos 30 anos foi detido segundo as leis de saúde mental no Reino Unido. O homem era Aaron Lennon. Relatos dos acontecimentos contam que os agentes policiais estiveram à conversa, com o internacional inglês, cerca de 20 minutos até o deterem. Um ano depois, o agora jogador do Burnley, revelou que esteve “num lugar muito escuro durante muito tempo”.

Quando os agentes da polícia chegaram ao local e deram de caras com Aaron Lennon, o, então jogador do Everton, apresentava estar muito enervado. As negociações entre os policiais e o futebolista prolongaram-se até que, eventualmente, os agentes convenceram o antigo jogador do Tottenham a cooperar. Lennon foi levado para o hospital e o Everton comunicou que o jogador iria ser tratado. O clube de Liverpool informou também que o jogador sofria de um doença de stress.

Hoje o jogador abriu o coração, ainda que lhe custe falar do momento que foi acima referido. Numa entrevista publicada no “Telegraph”, Aaron Lennon revelou ter passado por dias complicados e admitiu, ainda, que até aquele momento, na tal autoestrada, o futebol já não lhe dava prazer: “Estive num lugar muito, muito escuro durante muito tempo, mas agora estou a recuperar todos os dias e ando entusiasmado para vir para os treinos outra vez e, estar a desfrutar de cada dia, é muito importante para mim”, disse Lennon.

O atacante, que conta com 21 internacionalizações pela seleção inglesa, esteve dez temporadas ao serviço do Tottenham antes de ser emprestado ao Everton devido à escassa utilização no clube londrino. Em Liverpool, Lennon fazia, com regularidade, parte das opções iniciais de Roberto Martinez, o treinador espanhol que liderava o Everton altura, mas, com a chegada de Ronald Koeman, o extremo foi perdendo espaço até que, na sua pior fase nos Toffees, esteve cerca de dois meses e meio sem jogar.

“Antes de chegar ao Burnley [janeiro último]  estive cinco anos sem desfrutar do meu futebol, mas agora divirto-me novamente”, revelou Aaron Lennon que reconheceu ter sido difícil lidar com o facto de não fazer parte das escolhas do treinador: “Não diria que perdi a paixão pelo futebol, mas estive longos períodos sem ser chamado à equipa. Começas a entrar num estado em que já não te sentes um futebolista. Treinas a semana toda e depois não estás envolvido com a equipa no fim-de-semana. Isso era difícil. Foi duro”, explicou Lennon, de 31 anos.

Estas foram as primeiras palavras públicas de Aaron Lennon depois do internamento. O jogador decidiu fazê-lo uma vez que na próxima segunda-feira dá-se o início da Semana de Sensibilização para Doenças Mentais. O alerta vai para o facto de ninguém estar imune às doenças mentais. A patologia não discrimina e pode afetar pessoas dos vários quadrantes da sociedade independentemente de qualquer outra condição. Um estudo detalhado da Fifpro, o sindicato internacional de jogadores, descobriu  que, em 2015, 38 por cento de atuais futebolistas, e 35 por cento de antigos futebolistas, sofrerem de depressão a determinada altura nas suas vidas.

Aaron Lennon foi, durante alguns tempos, o jogador mais jovem a estrear-se na Premier League. Aconteceu em agosto de 2003 quando entrou, vindo do banco, numa partida que o Tottenham acabaria por perder 2-1. O irreverente atacante tinha apenas 16 anos e 129 dias. Por isso, não é estranho para Lennon ter de lidar com a pressão, fá-lo desde tenra idade, o pior para o jogador é não fazer parte das escolhas dos treinadores, como o próprio reconheceu.

“Para mim, não jogar ao fim-de-semana é uma tristeza. Vou para casa e não sou uma pessoa feliz. Não desfruto do tempo”, e acrescentou: “Há muita conversa sobre os jogadores de futebol não se importarem com o facto de não jogarem, mas eu não creio que haja muitos futebolistas, que não são convocados ao fim-de-semana, e que fiquem contentes”, afirmou Aaron Lennon.

O extremo veloz, que chegou ao Burnley em janeiro, agradeceu todas as mensagens de apoio que tem recebido desde que a sua situação se tornou pública. “As pessoas do mundo do futebol têm sido magníficas comigo durante os tempos difíceis porque passei”, disse Lennon que não esqueceu “toda a gente no hospital”: “Ainda há muitas pessoas a quem tenho de agradecer pessoalmente por tudo o que fizeram por mim”, sublinhou.