Prolongamento
Vitória de Guimarães faz da aposta nos jovens jogadores uma fórmula de sucesso
2017-08-18 20:00:00
A equipa B do Vitória tem projetado vários jovens jogadores que acabaram por singrar no plantel principal

Um autêntico ‘viveiro’ de jovens jogadores para o plantel principal. A equipa B do Vitória de Guimarães tem proporcionado, em anos recentes, várias mais-valias à elite vimaranense. João Vigário, Hélder Ferreira e Marcos Valente são os novos casos numa lista que conta com nomes como Hernâni, Ricardo Pereira, João Pedro, Josué Sá e Miguel Silva, entre outros.

Com um projeto vincado na aposta em jogadores da formação, ou então que cheguem ao clube e ganhem experiência no conjunto secundário, o Vitória tem conseguido concretizar a afirmação de jovens atletas no principal escalão futebol português, ao mesmo tempo que mantém uma senda de resultados que já é hábito no clube. Que motivos levam então ao aproveitamento de talentos que chegam à cidade-berço por lapidar?

Nas palavras de alguém que está bem enraizado com tudo aquilo por que passou o conjunto secundário do Vitória, ou seja Armando Evangelista, ex-treinador da equipa B vimaranense, o sucesso que se tem verificado passa pelo intuito claro da direção do clube. “Não adianta traçar objetivos de formar jogadores ou deixar um pouco de lado os resultados se da parte do clube não houver uma aposta clara na formação. O que existe em Guimarães é uma aposta clara na formação”, começou por salientar o técnico em declarações ao Bancada.

Quem corrobora a aposta nos jovens para se tornarem em peças-chave do plantel é David Caiado, jogador que passou pelo Vitória em 2014/15 e esteve igualmente integrado na equipa secundária dos minhotos. “O verdadeiro sentido do projeto passa pelo principal objetivo que é formar jogadores e homens capacitados para poder servir a equipa principal a curto ou médio prazo”, considerou o médio de 30 anos ao Bancada.

Vigário, Ferreira e Valente numa senda que tem dado bons resultados

Desde o final da época passada no plantel do Vitória, João Vigário tem assumido neste início de temporada papel de destaque no onze inicial escolhido por Pedro Martins. O jovem de 21 anos tem sido o ‘dono’ da lateral esquerda vimaranense, tanto na Supertaça Cândido Oliveira, como nos dois compromissos já realizados na Liga portuguesa.

Hélder Ferreira e Marcos Valente, por seu turno, estrearam-se em 2017/18 na equipa principal vitoriana. O avançado de 20 anos fez grande parte da formação no clube da cidade-berço e disputou 39 encontros pela equipa B na época passada. No início desta temporada, foi aposta surpresa de Pedro Martins, quando foi lançado como titular logo no primeiro jogo. Ao invés, Marcos Valente não representou o Vitória nas camadas jovens, mas a campanha levada a cabo na equipa B em 2016/17 resultou na chamada ao plantel principal e na titularidade na Supertaça.

Ora, estes três jogadores surgem, neste início de época, na senda de vários que desde a criação da equipa B têm feito sentir a sua presença no Vitória. Ainda no atual plantel dos vimaranenses é possível encontrar raízes da turma secundária. O que têm em comum os guarda-redes Miguel Silva e Migue Oliveira, os defesas Josué Sá, Konan e Sacko, o médio Joseph Amoah e os avançados Xande Silva e Raphinha? Todos eles passaram pela equipa B do Vitória e já se afirmaram no plantel principal ou então estão em busca da oportunidade ideal para tal.

São estes os únicos casos de sucesso até então? É percetível que não, de todo. Entre os nomes com passagem pela equipa secundária contam-se surgem também Ricardo Pereira e Hernâni, ambos do FC Porto hoje em dia, Alex Pinto (recente contratação para a equipa B do Benfica) e ainda João Pedro, que em 2017 rumou aos Estados Unidos, para representar o LA Galaxy.

A metodologia não coloca de parte o resultado, mas individualiza o talento

É muitas vezes abordada a metodologia que deve ser levada a cabo nos plantéis com jovens jogadores ou nas equipas que fazem a transição para os conjuntos principais, com o foco na formação a ser considerado primazia em relação aos resultados. O Vitória tem ficado conhecido pela aposta em dar experiência de futebol competitivo aos jovens jogadores, mas sem colocar de parte os resultados, não obstante a descida ao terceiro escalão logo no surgimento da equipa secundária.

“Isso de esquecer os resultados por vezes pode induzir em erro, porque um jogador para ser formado nunca pode pôr de parte no seu processo de formação o ganhar, porque só se podem formar jogadores campeões se os habituarem a ganhar. Um jogador que na sua formação perca mais vezes do que aquelas que ganha, é um jogador que, á partida, vai crescer de uma forma derrotista”, vincou Armando Evangelista ao Bancada, recordando as diretrizes que levava a cabo aquando da passagem pela equipa B do Vitória, que colocava, por vezes, maior importância no desenvolvimento de um jogador em específico, devido à perspetiva de vir a ser mais-valia para o plantel principal.

“A equipa técnica por vezes deixa de lado a preparação de um jogo e direciona-se mais para questões táticas coletivas, porque por vezes, na formação de jogadores, é preciso direcionar-se mais o treino e tempo para a individualidade, para aquele que jogador que sabemos que a curto prazo poderá lá chegar [ao plantel principal]”, referiu o treinador.

Através da comunicação constante entre as equipas técnicas de ambos os conjuntos, a metodologia introduzida nos treinos da turma secundária vai ao encontro da que é realizada no plantel. Pelo menos, assim o era quando Armando Evangelista e David Caiado estiveram em Guimarães. O jogador explicou esse padrão de treino ao Bancada.

“No dia-a-dia, os treinos iam muito ao encontro daquilo que é praticado na equipa principal. Sistema e modelo de jogo iguais e as constantes troca de impressões entre os técnicos de ambas as equipas eram evidentes e isso levava a que o jogador estivesse sempre a ser equacionado para poder dar o salto a qualquer momento. Salto esse que se torna muito mais fácil, visto que terem uma dinâmica muito parecida facilita a sua integração”, referiu David Caiado. Nas palavras do médio, a principal diferença reside na “pressão” que envolve representar uma equipa no principal escalão do futebol português ou na segunda Liga. “O único aspeto que é mais variado prende-se com a questão da adaptação à pressão que existe na equipa principal, que na equipa B é quase inexistente. E aí, depende do jogador e da personalidade para dar esse salto, mas a nível de trabalho técnico e tático são dadas aos jogadores todas as ferramentas para singrar.”

Uma atmosfera que é propícia ao desenvolvimento

São vários os fatores que se afiguram como fulcrais para o correto desenvolvimento do potencial de um jogador e a preparação para singrar no plantel principal. A atmosfera vivida em torno da equipa e o semblante levado a cabo pelos responsáveis enquadram-se neste parâmetro. A valorização do trabalho dentro e fora das quatro linhas, assim como o lapidar do talento do jogador são norma comum em Guimarães.

Assim o diz David Caiado, que guarda recordações de um espaço que propicia de forma autêntica o desenvolvimento dos jovens futebolistas. “É um espaço bastante saudável no ponto de vista futebolístico. Falo de uma etapa onde o jogador é valorizado e potenciado no dia a dia com o sonho de chegar a jogar com a equipa principal”, atestou o médio ao Bancada.

Reestruturação financeira resultou em aposta que agora é norma comum

A aposta do Vitória nos jovens jogadores teve como base a reestruturação financeira, recentemente levada a cabo no emblema de Guimarães. Que dá conta dessa situação é Armando Evangelista, que vivenciou, na primeira pessoa, esses tempos na cidade-berço. “Quando iniciei o meu trabalho, o Vitória estava numa reestruturação financeira profunda, em que haviam orçamentos muito rigorosos e era necessário rentabilizar aquilo que se formava. Fez-se então uma aposta clara nos jogadores da formação, que são jogadores que para o clube saem mais em conta”, referiu o ex-treinador da equipa B dos vimaranenses.

Quando se olha para o figurino atual do plantel principal do clube, é percetível que esta mesma aposta no jovem jogador permanece como um dos estandartes do Vitória, pela presença de vários jogadores, referidos acima no texto, provenientes da formação secundária. A estratégia que tem vindo a ser implementada na equipa B do Vitória aparenta estar para continuar, pois a média de idades dos onze jogadores mais utilizados neste início de época (pouco mais de 21 anos) mantém-se no mesmo nível da que era apresenta pelos onze que contaram mais jogos disputados na temporada passada. Ao nível das nacionalidades, também se mantém a predominância de jovens jogadores portugueses.

O rival do Minho também é ‘viveiro’ de jovens craques

No Minho, não só o Vitória de Guimarães conta com uma equipa secundária fornecedora de jogadores para o plantel principal. O SC Braga também tem sido pautado, em tempos recentes, pela aposta em jovens da equipa B na elite do futebol português. No atual figurino do conjunto orientado por Abel Ferreira – já foi o timoneiro da equipa B do SC Braga -, está vincada a presença de jovens portugueses que subiram recentemente de categoria.

O principal destaque vai para Bruno Xadas, que tem arregalado os olhos e todos os adeptos bracarenses e também do desporto rei, neste início de época. O médio português de 19 anos tem sido o ‘obreiro’ da manobra ofensiva dos arsenalistas e as exibições, a par das que realizou no Mundial Sub-20, estão a captar a atenção do futebol português.

Após uma parte final da formação realizada no clube, Xadas foi chamado ao plantel principal no final da temporada passada, depois de assinar 11 golos em 30 encontros pela equipa B na Segunda Liga, em 2016/17. “Um daqueles jogadores que tem algo de diferente”, tal como já tinha explicado Emílio Peixe ao Bancada, que faz das capacidades técnicas e táticas as principais armas. O centrocampista é mais uma das provas de que os conjuntos secundários dos clubes são fundamentais para a primeira experiência dos jogadores com o futebol sénior.

A par de Xadas, também Pedro Neto e Bruno Jordão integram esta época o plantel principal do SC Braga. O jovem avançado de 17 anos estreou-se em 2016/17 no principal escalão do futebol português, depois de passar pela equipa B e camadas jovens dos bracarenses, enquanto que o médio de 18 anos ainda aguarda o primeiro compromisso oficial pelos minhotos, tendo passado 2016/17 no conjunto secundário do SC Braga, após ter sido contratado ao União de Leiria. Porém, estes não são casos únicos. Xeka, atualmente no Lille OSC, e Mauro, ainda no SC Braga, também fazem parte do elenco que passou pela equipa dos arsenalistas e acabou por vingar.

Quanto ao figurino da equipa B para esta época, os bracarenses apresentam-se em 2017/18 com algumas mudanças de jogadores, mas mantém a aposta em jovens jogadores, mantendo a média dos 21 anos de idade nos onze mais utilizados até então em comparação com a temporada passada, assim como a primazia pelos portugueses. Nestes parâmetros, de todas as equipas secundárias presentes na Segunda Liga, a do Benfica é a que apresenta maios diferenças, pois em 2016/17 os onze jogadores mais utilizados eram de nacionalidade portuguesa, números que diminuíram para oito neste começou de época. Neste parâmetro e no que diz respeito à media de idades, tanto SC Braga, Benfica, FC Porto e Sporting, assim como o Vitória de Guimarães, mantêm as estratégias que levaram para os relvados em 2016/17.