Prolongamento
“As operações de Jorge Mendes parecem um carrossel”, escreve New York Times
2020-10-06 12:40:00
Jornal dedica artigo ao superagente português, com Benfica, FC Porto, Mourinho, Espírito Santo e Vieira em destaque

“As operações de Jorge Mendes parecem um carrossel, no qual um grupo interminável de atletas flutua de um clube para outro. Ao garantir as comissões, Mendes dirige um sistema sofisticado e meticulosamente coreografado”, escreve o prestigiado jornal New York Times (NYT), num artigo sobre o empresário português, que continua a faturar milhões, não obstante a crise que afeta os clubes, em resultado da pandemia.

O empresário é o principal alvo desta reportagem, mas as ligações do superagente ao Benfica e ao FC Porto (bem como algumas das transferências protagonizadas neste mercado de verão) também são visadas, assim como os negócios que envolvem o Wolverhampton e o Tottenham, clubes treinados por Nuno Espírito Santo e José Mourinho, respetivamente.

“A pandemia deixou a indústria do futebol e dificuldade, mas o dinheiro ainda flui para Jorge Mendes, um dos agentes mais poderosos do mundo. O empresário conseguiu mais um verão extremamente lucrativo”, enquadra aquele periódico, numa peça publicada nesta segunda-feira.

De acordo com o NYT, estima-se que a pandemia provoque perdas de 4,5 mil milhões de euros, um rombo financeiro que resulta do cenário de incerteza, da ausência de público e da retração do mercado publicitário.

“Mas a crise também criou alguns vencedores”, escreve o jornal norte-americano: “Entre os maiores está Jorge Mendes, o empresário e agente de jogadores português que, nas últimas duas décadas, tem conquistado uma boa fatia do mercado de transferências de jogadores, na ordem dos sete mil milhões de dólares por ano. E neste ano, apesar do colapso do futebol, Mendes parece estar melhor do que nunca”.

O jornal cita a venda do passe do defesa-central Rúben Dias, que se transferiu do Benfica para o Manchester City, por 68 milhões de euros, de acordo com o comunicado enviado pelas águias à CMVM.

“Jorge Mendes enviou Rúben Dias do Benfica para o Manchester City. Depois, substituiu-o por outro cliente”, refere o jornalista, numa alusão a Otamendi, também representado pelo agente português e que custou aos cofres encarnados 15 milhões de euros.

Mas há mais negócios. Jorge Mendes “tirou James Rodríguez da casota do Real Madrid para o transformar numa estrela no Everton”. E “conseguiu que o Wolverhampton vendesse o defesa irlandês Matt Doherty para o Tottenham e o avançado português Diogo Jota para o Liverpool”.

Mais uma vez, os substitutos de Doherty e de Diogo Jota foram jogadores representados por Jorge Mendes: Nelson Semedo, ex-jogador do Barcelona, e Fábio Silva, jovem promessa transferida do FC Porto para os ‘wolves’ num negócio de 40 milhões de euros.

“Podemos dizer que a rede de poder de Jorge Mendes resistiu ao coronavírus. É como se ele tivesse a vacina”, refere o jornal, citando uma frase de Pippo Russo, jornalista do transalpino Calciomercato.

Na reportagem, recorda-se a ligação da Gestifute à Fosun, bem como as presenças de Nuno Espírito Santo no comando técnico do Wolverhampton e de José Mourinho no Tottenham. O NYT escreve que Mourinho é “um dos clientes mais importantes de Mendes”.

“As ligações do Wolverhampton a Jorge Mendes têm sido objeto de escrutínio no futebol inglês, com diversos clubes a reclamar desta estreita ligação com a Fosun, com Espírito Santo e com uma mão-cheia de jogadores do plantel”.

Os negócios intermediados pelo superagente português tendo em vista a transferência de jogadores do FC Porto são escrutinadas, nesta peça, que apelida a venda de Fábio Silva e o empréstimo de Vitinha de “negócios curiosos”.

“A enfrentar uma crise financeira e com grandes dívidas a vencer, o FC Porto recorreu a Mendes para encontrar compradores para algumas das suas estrelas em ascensão. Mendes convenceu a Fosun, os seus sócios chineses no Wolverhampton, a pagar uma verba que poderá chegar a 70 milhões de dólares [cerca de 60 milhões de euros] por dois jovens altamente cotados, embora sem experiência: Vítor Ferreira, um jovem de 20 anos, e Fábio Silva, avançado de 18 anos”, realça a reportagem.

O FC Porto “rejeitou explicar por que razão pagou 25 por cento de comissão na venda de Fábio Silva”. E se as comissões pagas pelos dragões são referenciadas neste artigo, também aquelas que o Benfica terá pago aquando da transferência de João Félix para o Atlético Madrid merecem uma referência.

“A comissão de Mendes por Fábio Silva atingiu valores consideravelmente acima da média, mas não incomuns: no ano passado, quando Mendes conseguiu a venda do adolescente do Benfica João Félix para o Atlético Madrid, terá ganho cerca de 35 milhões de dólares [30 milhões de euros]”.

Luís Filipe Vieira é, igualmente, citado neste artigo: “Em 2018, o presidente do Benfica, o maior clube português, descreveu o papel de Mendes como um serviço de táxi, que transporta os melhores ativos do clube numa direção, trazendo milhões de volta”.

E a reportagem passa ainda pela saída de Carlos Vinícius para o Tottenham, mais um negócio que envolve Benfica, Jorge Mendes e o clube londrino, que na época passada acordara o empréstimo de Gedson, médio formado no Benfica e pouco ou nada utilizado por José Mourinho.

“A chegada de Rúben Dias ao Manchester City foi uma má notícia para Nicolas Otamendi, que joga na mesma posição. Mas Jorge Mendes também encontrou uma solução: Otamendi foi prontamente vendido ao Benfica por 15 milhões de euros, preenchendo a vaga de Rúben Dias. Mendes, como agente de Otamendi, lucrou novamente”, insiste o NYT.

A terminar, aquela alusão ao “carrossel de Mendes”, frase que é dita nos meandros do futebol e que o jornal norte-americano reproduz.