Portugal
"Não se sente aquele espírito", diz Rui Águas sobre o Benfica
2021-12-28 09:05:00
Antigo avançado projeta o clássico do Dragão

FC Porto e Benfica abordam com ânimos antagónicos o ‘clássico’ da 16.ª jornada da I Liga, na quinta-feira, após a recente vitória dos ‘dragões’ sobre as ‘águias’ nos ‘oitavos’ da Taça de Portugal, observa o ex-futebolista Rui Águas.

“Não quer dizer que as coisas se repitam nos mesmos moldes. Os confrontos nunca são iguais, mas, entre um e outro, o tempo é muito curto e a questão psicológica é sempre fundamental. Quem ganha, evidentemente aborda este segundo jogo de maneira muito diferente de quem perde e é difícil mudar muito em poucos dias”, frisou à agência Lusa o ex-avançado de ‘encarnados’ (1985-1988 e 1990-1994) e ‘azuis e brancos’ (1988-1990).

O FC Porto, líder da I Liga, com os mesmos 41 pontos do campeão nacional Sporting, recebe o Benfica, terceiro, com 37, na quinta-feira, às 21:00, no Estádio do Dragão, no jogo de conclusão da 16.ª ronda, a derradeira de 2021 e penúltima da primeira volta.

“Faz parte do trabalho do treinador a intervenção nos jogadores, no sentido de as coisas correrem de outra forma. Contudo, entre a palavra e a execução, é importante que a transmissão do que sejam as ideias do treinador seja aceite e recebida neste segundo jogo, de acordo com o quão mau foi o primeiro”, avaliou o ex-internacional português.

Em 23 de dezembro, no mesmo recinto, os ‘dragões’ impuseram-se por esclarecedores 3-0, ao marcarem três golos em 31 minutos e resistirem em inferioridade numérica e sem dificuldade aparente na segunda parte, dois dias após um encontro entre Jorge Jesus e dirigentes do Flamengo sobre um eventual regresso do técnico ‘encarnado’ ao Brasil.

“Não se viu uma equipa no Benfica e viu-se um FC Porto a mandar desde o início. É sempre uma felicidade marcar cedo, mas não é à toa que os golos também apareceram assim que começou a partida. Houve um espírito coletivo que o FC Porto mais uma vez demonstrou e o Benfica não esteve perto de o mostrar. Nestes jogos, além da qualidade individual das equipas, sobressai muito o conjunto em vez da individualidade”, notou.

Considerando que os ‘clássicos’ “normalmente seriam ou deveriam ser competitivos”, Rui Águas, de 61 anos, acredita que os ‘dragões’, que somam sete duelos consecutivos sem derrotas frente às ‘águias’, vão partir “em vantagem” para o último jogo ‘grande’ do ano.

“O FC Porto está mais confortável, embora precise também deste resultado e tenha um terceiro adversário [Sporting] que durante anos não teve. Sete pontos de diferença na tabela tinham em conta dois clubes, mas agora existem três. O Benfica pode ficar a sete de dois adversários e complicar ainda mais uma eventual recuperação”, enquadrou.

O ex-avançado, que conquistou quatro campeonatos e três Taças de Portugal, encontra naquele arranque demolidor do conjunto de Sérgio Conceição “marcas comuns aos jogos todos”, sobretudo “em casa e quando leva as coisas ainda mais a sério em ‘clássicos’”.

Se os ‘azuis e brancos’ já estavam afastados da Taça da Liga e relegados da Liga dos Campeões para a Liga Europa, a equipa de Jorge Jesus sofreu na semana passada o primeiro revés nas metas para 2021/22 e prepara-se para “muito mais do que um jogo”.

“O Benfica joga muito em função do atraso pontual e da instabilidade que se sente em redor da equipa. É um jogo que pode definir tudo: aspirações na I Liga, estabilidade da equipa e até o futuro da própria equipa técnica. Ou seja, tudo aquilo que já percebemos que se vai pondo em causa. Por isso, é algo mais que um ‘clássico’ normal”, apontou.

Confiando numa “alteração radical”, mas sem prejuízo do tradicional 3-4-3’, Rui Águas assume ser “difícil de prever” a postura dos ‘encarnados’, que acentuaram os problemas na defesa, já debilitado pela lesão do brasileiro Lucas Veríssimo até ao fim da época.

O argentino Nicolás Otamendi, expulso no jogo da Taça, vai desfalcar o trio de centrais, e o espanhol Grimaldo, infetado com covid-19, abrirá uma vaga no corredor esquerdo, ao passo que o uruguaio Darwin Núñez, ‘artilheiro’ da I Liga, com 13 golos, está lesionado.

“Mesmo marcando bastantes golos em vários jogos, aquilo que o Benfica tem mostrado em relação às expectativas criadas e ao investimento feito não tem sido convincente para muita gente e para mim também não. A equipa não dá uma imagem de força em termos coletivos, mas pontualmente a nível individual. Não se sente aquele espírito que, muitas vezes, vai além de tudo e consegue ganhar mesmo em ambientes adversos”, lamentou.

Jorge Jesus ainda não derrotou Sérgio Conceição desde o regresso à Luz, em 2020/21 - dois empates no campeonato e dois desaires na Taça de Portugal e na Supertaça - e tem enfrentado assobios e lenços brancos dos adeptos, sobretudo a partir da derrota sofrida na receção ao campeão nacional Sporting (1-3), em 03 de dezembro, na 13.ª jornada.

“Raide do Flamengo antes do ‘clássico’? Olho de uma maneira estranha, porque não é normal. Já não era normal no dia-a-dia. Agora, quando se prepara um jogo com um dos principais rivais e isto acontece, não me parece que seja admissível. Quer queiramos, quer não, é algo que desestabiliza equipa e jogadores. Não achei normal”, comentou.