Portugal
Matheus Pereira, o irreverente do Sporting a quem é preciso dar confiança
2017-07-06 17:30:00
José Postiga jogou com ele na formação leonina e não tem dúvidas: "Se jogar com mais regularidade, é um caso sério"

“Matheus Pereira fazia os passes, eu fazia os golos”. Ninguém como José Postiga, avançado contratado esta época pelo Rio Ave, conhece tão bem o avançado brasileiro do Sporting que vai para a terceira época de leão ao peito em busca de merecer a confiança plena de Jorge Jesus, depois de duas temporadas em que prometeu mais do que confirmou. O terceiro passo na carreira sénior de Matheus Pereira pode ser decisivo.

“Jogámos juntos desde os iniciados até os juniores. Tínhamos um bom relacionamento dentro de campo e fora dele. Ainda hoje somos grandes amigos”, conta ao Bancada o irmão de Hélder Postiga, antigo avançado do FC Porto e Sporting, que tem a mesma idade de Matheus, 21 anos. “Ele jogava tanto à direita, como à esquerda, mas preferia à direita. Ele é canhoto e gostava de puxar para dentro”, recorda.

Postiga não tem dúvidas que Matheus merece ficar no plantel principal do Sporting para a nova época e ser aposta de Jorge Jesus com mais frequência. “Tem qualidade suficiente para ser titular do Sporting, mas para que isso aconteça tem de jogar com mais regularidade, se isso acontecer será um caso sério. Mas não sei se não seria melhor para ele ser emprestado para crescer como jogador. Se na época passada ele já tivesse sido emprestado, hoje estaria em muito melhores condições para discutir um lugar no onze do Sporting”.

A irregularidade das aparições de Matheus na equipa principal do Sporting nestes dois últimos anos não é para José Postiga um factor de instabilidade psicológica do avançado. “Ele é muito forte psicologicamente, é diferente dos outros, irreverente, apesar de eu achar que ele precisa de ter mais confiança do treinador. Se tivesse jogado com mais regularidade, já tinha assegurado um lugar no onze. Tem muito talento”.

José Postiga dá o exemplo do que aconteceu a Gelson para explicar a importância de um jogador ser aposta contínua de um treinador. “Tanto ele como Gelson são dois excelentes jogadores. Gelson acabou por afirmar-se mais cedo, porque foi ganhando confiança”. Jorge Jesus chegou, aliás, a dizer de Gelson Martins que era “o mais talentoso jovem da formação” com quem já tinha trabalhado.

Aparições aos fogachos

O percurso de Matheus Pereria na equipa principal do Sporting tem-se caracterizado por fogachos onde surge como aposta de Jesus e logo desaparece das contas do treinador leonino. Na última temporada, o avançado brasileiro que chegou a Alvalade aos 13 anos, apareceu pela primeira vez a titular frente ao FC Porto, no Estádio do Dragão. O jogo não lhe correu da melhor maneira, já que foi rendido ao intervalo. Depois disso, regressou à equipa B onde num espaço de menor pressão conseguiu boas exibições e golos que ajudaram a equipa secundária a recuperar na tabela.

Já na reta final do campeonato, Jesus voltou a dar-lhe uma oportunidade. Devido à lesão de Adrien, Bryan Ruiz descaíu para a zona central do meio-campo e, sem Bruno César e Alan Ruiz suspensos, e com Podence a ser opção para segundo avançado, Matheus surgiu a titular contra o Tondela. E depois de as câmaras da televisão terem captado o momento em que Jesus o chamou ao banco para lhe dar instruções e dizer-lhe com um misto de paternalismo e veemência “joga como treinas”, Matheus foi a tempo de corresponder e de fazer um passe decisivo para um dos quatro golos de Bas Dost. E Matheus amplificou a situação, exultando as suas características: “Jorge Jesus disse-me para fazer o meu trabalho, para jogar como tenho jogado na equipa B. Disse-me para fazer o que melhor sei: ir para cima, driblar, fazer golo, dar passe…”

Na temporada anterior, 2015/16, Matheus Pereira ainda deixou no ar a hipótese de afirmar-se de vez. E logo à primeira, já que foi a sua época de estreia onde fez 18 jogos e marcou 5 golos ao serviço da equipa principal.  O primeiro jogo ao serviço dos leões aconteceu frente ao Besiktas (1-1) para a Liga Europa. Fez dois jogos consecutivos (Vilafraquense, 4-0) e Skenderbeu (5-1), nos quais marcou quatro golos. Mesmo assim, voltou a desaparecer das contas de Jesus para ser utilizado nas taças internas, com destaque para o jogo da Taça de Portugal com o FC Porto (2-0) onde foi a grande surpresa no onze e realizou boa exibição. Depois foi o habitual. Somou 122 minutos, apenas 32 na Liga.

Agora segue-se o terceiro passo na carreira de Matheus Pereira. Resta saber se um passo em frente para se assumir como candidato ao onze ou se um passo atrás (empréstimo) para ganhar consistência e dar depois dois em frente. Têm a palavra Matheus Pereira e Jorge Jesus.