Fora da Bancada
"É uma sensação de que são mais espertos do que o comum da população"
2021-06-11 22:40:00
Deputadas de CDS e BE arrasam comportamentos de grandes devedores como Luís Filipe Vieira e Nuno Vasconcellos

Quase sete anos depois da queda do BES, o Parlamento começou a ouvir alguns dos grandes devedores ao antigo império de Ricardo Salgado. Um dos nomes mais mediáticos a ser chamado à comissão parlamentar de inquérito (CPI) às perdas registadas pelo Novo Banco foi o de Luís Filipe Vieira, antigo presidente da Promovalor, mas conhecido dos portugueses por ser presidente do Benfica.

Estou aqui porque sou presidente do Benfica”, afirmou mesmo Luís Filipe Vieira, numa CPI em que foi ouvido por causa de uma imparidade de 202 milhões da Promovalor nas contas do Novo Banco. Vieira é apontado pelos deputados como sendo um dos grandes devedores do Novo Banco: nas contas da CPI, as dívidas combinadas de Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcellos e Moniz da Maia chegam aos 1500 milhões de euros.

No entanto, as respostas dadas por estes três grandes devedores, naquela que é a décima CPI envolvendo um banco, acabaram por gerar mais dúvidas ou polémicas do que explicações. “O que mais me choca é a displicência. Quando pergunto quanto é a dívida e não sabem sequer dar-me um número...”, comentou Cecília Meireles, do CDS.

A deputada centrista foi, a par de Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, uma das vozes mais ativas nas audições a Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcellos e Moniz da Maia. Afastadas no espetro político, as duas parlamentares foram unânimes na condenação dos comportamentos exibidos pelos grandes devedores nessas audições, em declarações ao ‘Sexta às 9’, da RTP.

“Já aconteceu na Caixa [Geral de Depósitos], já aconteceu na primeira [CPI] do BES e o padrão continua a acontecer aqui. É gozar com o país. É sobretudo gozar com os outros, é uma sensação de que são mais espertos do que o comum da população e que isso lhes dá direitos especiais, mas não os deveres de cumprirem compromissos”, sustentou Cecília Meireles.

Para quem vê os resumos das audições nos noticiários, fica uma sensação de que os grandes devedores “vão lá gozar” com os deputados. “Já ouvi essa expressão”, comentou Mariana Mortágua: “Nunca me senti gozada. Sinto-me revoltada, enquanto cidadã e contribuinte, mas o ridículo daquelas situações, quem o passa, quem o sofre e quem fica ligado a ele para o resto dos anos são os devedores que vão lá fazer aquele tipo de prestação”.

A sensação geral é de impunidade. Quem ficou a dever ao Novo Banco (que ‘nasceu’ com a resolução do BES) até pode nunca vir a pagar, mas pelo menos já não se livra da ‘fama’. “Se não fosse pela comissão de inquérito, todos os grandes devedores sairiam igualmente impunes, com uma diferença: o país não saberia”, realçou Mariana Mortágua.

Salientando que “há muitos empresários a quem a vida correu mal e que não conseguem pagar o que devem”, Cecília Meireles garantiu que esta situação não se aplica a Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcellos e Moniz da Maia: “Estamos a falar de pessoas que podiam pelo menos pagar uma parte do que devem, mas escolheram ter outras estratégias de meter o património a salvo e esquecer a dívida”.

A deputada centrista ironizou com os grandes devedores à banca que se apresentam “sempre vítimas de alguma coisa ou de alguém”, insistindo que “não há razão para esta indignação”. “Todas compreenderemos que vítimas aqui somos todos nós, que andamos a pagar aquelas contas”, apontou.

Mariana Mortágua frisou que “é preciso perseguir quem põe o dinheiro fora para não pagar dívidas” e criticou a demora da justiça nos casos de grande criminalidade. “Falta mais celeridade e mais consequência neste tipo de julgamentos. Há uma diferença na forma como se julgam pequenos delitos e como se julga esta grande delinquência. É uma rede de delinquência, é uma grande máfia”, finalizou.