Jogo do Povo
Trofense. O lugar onde as árvores deixam raízes eternas
2023-12-07 16:20:00
Entrevista a Diogo Viana, jogador do Trofense, da Liga 3

Os sonhos que contam as histórias costumam começar por ‘era uma vez’. E se for ideia cumprir o que a literatura tem por tradição, então bem que esta história começaria com ‘era uma vez um menino no Algarve que sonhava ser Ricardo Quaresma’.

Se os sonhos fossem concretizados num sopro de instante, bem que os pozinhos mágicos transformariam em segundos os sonhos de uma vida inteira. Mas é certo e sabido que a magia, por si só, não chega. É, pois, preciso trabalhar e correr atrás do sonho.

Com Diogo Viana, uma das estrelas da Liga 3, o trabalho com a bola foi sempre o meio privilegiado para atingir o fim sonhado e desejado. Foi assim que cedo despertou a cobiça dos observadores - agora diz-se scouting, num inglês cada vez mais global - nos primeiros pontapés que deu na bola. Mas Diogo sabe e sempre soube o lugar onde as árvores deixam as raízes.

No seu modo de interpretar os conceitos do futebol e na alegria do jogar e no talento de definir o jogo, rapidamente o Sporting viu nele uma estrela de futuro. 

A distância entre o Algarve e a capital passou a ser uma barreira que, nos tempos mais modernos, seria mais simples de ultrapassar com as novas tecnologias. Porém, houve tempo em que um telefonema era uma espécie de melhor beijo e abraço que a família, ao longe, poderia dar a quem lutava pelo sonho da bola.

E esse sonho ficou mais perto a cada ano, mas também a distância foi aumentando na proporção da saudade de um filho do Algarve que não esquece as raízes, ainda hoje, e que, em tempos, o FC Porto viu como um craque do futebol. 

Diogo Viana já pisou os grandes palcos, vestiu camisolas de clubes que muitos sonham vestir e já percorreu uma estrada no futebol que, em criança, sonhou trilhar. Há fotos. Que, segundo se diz, cada uma vale por mil palavras. 

De Portugal à Bulgária, da Holanda (ou Países Baixos como agora se diz) à Roménia, os caminhos deste algarvio (já há muito um nortenho de ‘adoção’) têm sido feitos de confiança atrás da bola.

Hoje, é jogador do Trofense, uma das figuras da Liga 3 e foi por aí que o Jogo do Povo encontrou o jogador que poderia, perfeitamente, estar a jogar numa I ou II Liga, por exemplo, mas procura, aos 33 anos, ser feliz acima de tudo, independentemente do patamar competitivo nacional onde esteja.

Liga 3 é “competitiva” mas tem alguns “relvados impraticáveis”

Com uma carreira recheada de experiências nos mais altos patamares do futebol nacional, Diogo Viana admitiu que é um jogador “realizado” na Trofa e numa Liga 3 que é “competitiva” mas que tem relvados que deixam a desejar.

“É uma Liga muito competitiva, há muita qualidade”, apontou Diogo Viana, em declarações ao Bancada, falando de um campeonato que é um “misto de malta jovem com mais velha”. 

No Trofense, Diogo Viana, que na última época ajudou o Farense a subir à I Liga, encontrou um projeto “muito aliciante” no que ao futebol diz respeito.

E quando a cortina do espetáculo abre e o show promete, Diogo Viana diz que o palco é algo que passa para secundário.

“Tive propostas da II Liga mas o Trofense é um clube incrível, a Trofa é uma cidade com gente incrível, que não me fizeram pensar duas vezes”, revelou Diogo Viana, lamentando, contudo, o estado de alguns tapetes onde se compete na Liga 3.

“O que menos tenho gostado é os relvados dos adversários que por vezes são impraticáveis”, confessou o camisola 77 do Trofense.

Capitão do plantel, Diogo Viana tenta aplicar no balneário e no campo aquilo que aprendeu com alguns dos nomes grandes do futebol português e com os quais teve oportunidade de se cruzar ao longo da carreira.

O atleta do Trofense sabe que um grupo é composto por diferentes formas de pensar a vida e, por vezes, o futebol. Por isso, procura que os seus companheiros encontrem sempre um ponto de cruzamento entre todos para que os resultados sejam os desejados.

“Iam de carro emprestado ou alugavam, as coisas não eram fáceis nessa altura para nós, vê-los ir embora depois do esforço que faziam para me ver, deixava-me sempre triste mas depois lembrava-me que estava ali a seguir o meu sonho por eles”

Aos 33 anos, Diogo Viana sabe que ainda é um jovem com coisas para aprender mas também ensinar e o maior de todos os conselhos que gosta de deixar aos que agora chegam ao futebol ‘mais a doer’ é de que tenham sempre os pés na terra.

“Os miúdos têm que ouvir mais porque têm que perceber que estamos ali para os ajudar. A mim, os mais velhos ajudaram-me bastante e devo muito a carreira que tive a eles, pelos valores que me passaram e agora tento fazer o mesmo com os mais novos”, reconheceu Diogo Viana, não escondendo que Pedro Emanuel, no FC Porto, por exemplo, o marcou.

Pronto para uma ida às compras com Costinha, o ministro

De resto, ficou uma amizade porque, no futebol, esses também são troféus que se guardam na memória e no coração, tal como certas ‘partidas’.

“O Pedro Emanuel foi meu capitão no FC Porto e já me pagou o almoço e abriu umas garrafinhas”, disse Diogo Viana que, num registo bem humorado, não escondeu que iria perfeitamente às compras com Costinha, o ‘ministro’.

“Acho que ia tentar aprender a ter o estilo do ministro Costinha nas compras com ele”, assegurou Diogo Viana, em declarações ao Jogo do Povo.

Carro alugado ou emprestado para ir do Algarve ver Diogo Viana

Hoje, o jogador é uma das figuras mais reputadas e prestigiadas da Liga 3. Mas nem sempre o futebol foi motivo de alegria, visto que obrigou a separações da família.

“Os meus pais na altura não tinham carro próprio”, recorda Diogo Viana, falando dos tempos em que estava na formação do Sporting e os pais percorriam as estradas do Algarve até Lisboa para o acompanhar. 

“Iam de carro emprestado ou alugavam, as coisas não eram fáceis nessa altura para nós, vê-los ir embora depois do esforço que faziam para me ver, deixava-me sempre triste mas depois lembrava-me que estava ali a seguir o meu sonho por eles”, recordou Diogo Viana, hoje um pai de família também com um herdeiro do seu sangue desde 21 de junho de 2022, a data que não esquece este jogador que tem em Ricardo Quaresma o seu “ídolo de infância”.

É na Trofa que Diogo Viana dá seguimento a uma carreira no futebol e, aos 33 anos, sente que é preciso cuidar cada vez mais do capítulo físico, até porque habilidade com a bola nos pés sempre teve.

Por isso, antes de cada treino, e 'logo pela manhã, logo pelo acordar', já depois de beber um “cafezinho”, vai sempre fazer um “pré-treino” para estar mais “soltinho” quando o treinador der por iniciado o apronto.

No final, a “banheira de gelo” é a companhia para “recuperar” antes de regressar a casa para estar em família e para ter a possibilidade de brindar os seus mais próximos com os sabores e saberes à mesa.

Diogo Viana aprendeu a cozinhar pelo telefone em chamadas com a mãe nos tempos em que estava a jogar nos Países Baixos. De então para cá, ficaram habilidades e uma paixão pela cozinha deste algarvio que se encantou de amores por uma médica dentista e por isso admite ficar na região norte onde a família está estabelecida.

“Nasci no Algarve e serei sempre algarvio, tenho muito orgulho na terra da minha mãe e onde fui criado, mas a verdade é que vivo e vou passar a minha vida no norte”, confessou Diogo Viana, vendo agora o Algarve como o seu “destino de férias”.

Mas como na vida as férias têm datas determinadas e até elas é preciso trabalhar, Diogo Viana admite que seguirá na Liga 3 com o Trofense a tentar alcançar os objetivos que a equipa tem traçados.

“O objetivo é levar o Trofense às ligas que merece, seja quando for. É lá que têm que estar não só pelo clube, mas pelas pessoas que estão a gerir esta instituição que em nada deixa faltar aos jogadores”, disse o capitão do Trofense, em declarações ao Jogo do Povo, onde não negou que fora dos relvados, se fosse possível, gostaria de tocar bateria num concerto de Nininho Vaz Maia.

Porque Diogo Viana sabe e sempre soube o lugar onde as árvores deixam as raízes. E mesmo que a carreira tenha erguido distâncias, ao longe, nunca deixou de ter os seus perto, tão perto como o desejo de vencer, agora como em todos os outros dias que foi para dentro de campo.

Hoje, é na Trofa que faz a sua carreira, um clube com eternas raízes já semeadas nos palcos grandes do futebol português. E Diogo Viane sabe que os jogadores são como as árvores, quando a raíz é forte, fica a sua presença para sempre.