Prolongamento
Real Sport Clube prepara estreia na 2ª Liga: Real Revolução
2017-07-13 21:00:00
Clube de Sintra vive momento de mudança com obras no estádio, criação de uma SDUQ e uma equipa "sedenta de aparecer"

Quando se sobe a rua que nos leva até ao Complexo Desportivo do Real Sport Clube, no Monte Abraão, em Massamá, onde treina a equipa profissional de futebol que prepara a estreia histórica nos campeonatos profissionais, depois de na última temporada ter conquistado o título de campeão nacional do Campeonato de PortugalPrio, passa-se obrigatoriamente pela Escola Secundária Miguel Torga e é um verso do poeta que nos vem de imediato à memória sem sabermos a realidade que vamos encontrar. “E os passos que deres/Nesse caminho duro/Do futuro/ Dá-os em liberdade/Enquanto não alcances/Não descanses/De nenhum fruto queiras só metade”.

À proeza inédita de chegar pela primeira vez aos campeonatos profissionais, o Real Sport Clube enfrenta aquele que é o maior desafio da sua curta história, desde que foi fundado em 1951, na sequência da fusão entre o Grupo Desportivo de Queluz e o Clube Desportivo e Recreativo de Massamá. A chegada aos campeonatos profissionais, com tudo o que isso implica: a construção de novas infraestruturas e a criação de uma sociedade desportiva cumprindo assim os requisitos da Liga para poder competir na competição, e a introdução de uma nova mentalidade no clube, ainda mais ambiciosa, mas com os pés bem assentes no chão. E, claro, uma equipa de futebol, jovem, com a média de idades mais baixa da 2ª liga, orientada por um treinador também ele jovem e com um percurso ascendente.

Quando chegamos à casa futebolística do Real é todo um cenário de reconstrução aquele que se nos depara. A equipa treina com intensidade no relvado sob as ordens do treinador Filipe Martins, o obreiro da subida histórica do clube à 2ª Liga, preparando ao pormenor a estreia no segundo escalão do futebol profissional, enquanto à volta dão-se os últimos retoques nas melhorias das infraestruturas que o clube foi obrigado a fazer para cumprir os requisitos da Liga. Ouve-se o barulho das máquinas, o som do ferro, dos camiões a recolher o entulho, há quem esteja a aprontar os novos bancos de suplentes, que segundo as indicações da Liga tiveram de ser alargados para 14 lugares, mas também as indicações do jovem técnico do Real no relvado, as vozes dos jogadores, e quando, por vezes, as máquinas se silenciam, ouve-se o toque na bola. “Isto está quase a acabar…”, diz um dos operários passando a mão pela testa, preparado para conduzir a carrinha que leva mais um pouco de entulho, referindo-se ao estado das obras. “Para eles [jogadores] também não é fácil. Dizem que é fácil, mas eu era incapaz de correr aquele campo todo”.

“Está a ser uma verdadeira revolução. Uma remodelação dentro da revolução”. Quem o diz é o presidente do clube, Adelino Ramos orgulhoso por este momento histórico que o clube da Linha de Sintra atravessa. “Estávamos conscientes de que tinha de ser assim. Que era necessário fazermos estas obras. O que no inicio nos causou alguma angústia, perante a necessidade que tínhamos de cumprir os prazos que nos foram sempre impostos pela Liga. Mas estamos a conseguir”, remata com um sorriso.

Adelino Ramos mostra-se convicto que o clube vai ter tudo pronto para receber em casa o Leixões, na estreia do clube na 2ª Liga, a 8 de Agosto. O sorteio da primeira fase da Taça da Liga até foi “simpático” para os realistas ao determinar uma deslocação ao Restelo para defrontar o Belenenses. “Acaba por nos dar mais algum tempo. Mas mesmo que tivéssemos de jogar em casa, fazemos ponto de honra de ter o plano de trabalho concluído dentro das datas iniciais que assumimos com a Liga. Para nós, e para os nossos parceiros, nomeadamente a Câmara Municipal de Sintra, é um ponto de honra começarmos a jogar em casa com as obras concluídas. O primeiro jogo do campeonato será em casa com o Leixões (6 de agosto) e fazemos questão de ser na nossa casa”.

“Estamos preparados. Aquela fase inicial do nervosismo e da ansiedade foi sendo ultrapassada com o decorrer das obras e por ver que os nossos parceiros, neste caso os responsáveis pelas empreitadas, estão a cumprir dentro dos timings que foram impostos. Há um outro pormenor que pode ficar mais para o final, mas neste momento estou muito tranquilo relativamente à execução do plano de trabalhos. Se tivéssemos de começar o campeonato no próximo fim de semana estaríamos prontos”, reforça Adelino Ramos.

Para além do apoio da Câmara e da Junta de Freguesa de Queluz e Belas, que é o grande patrocinador do clube surgindo o nome nas camisolas, o Real tem outros patrocinadores, sobretudo de pequenas empresas locais. Mas agora com a  subida do clube à 2ª Liga, Adelino Ramos aponta a mais parcerias “pela visibilidade que este campeonato proporciona”. “Com esta subida, esperamos que haja outros interessados em assumir compromissos de parcerias ajudando o Real Sport Clube nesta caminhada que pretendemos que seja uma caminhada com sucesso”.

Alargamento de uma bancada, nova logística e torres de iluminação

E têm sido muitas as obras. Elas são o alargamento da bancada sul, que passa a ter dois sectores, o dos visitantes com cerca de 700/800 lugares e o sector do público em geral com cerca de 400 lugares, mantendo-se o sector 1, que é dos sócios, com cerca de 800 lugares. Para além do alargamento da bancada, o clube teve de proceder à instalação de infraestruturas de apoio logístico para cada sector. Ou seja, teve de instalar sanitários, posto médico, e um bar. Teve ainda de alargar o espaço para a Comunicação Social. O sistema de iluminação será a terceira grande área de obra, a última a ser concluída. As quatro novas torres de iluminação, que custaram cerca de 200 mil euros, já estão no Complexo e nos próximos dias serão colocadas.

Para além do alargamento da bancada na zona sul, das infraestruturas logísticas e área de iluminação o Real teve ainda de fazer mais uma empreitada, isolar o estádio com vedações por motivos de segurança. “O Estádio está inserido num complexo bastante aberto e como é natural as questões de segurança começam logo pela criação de acessos específicos para cada um dos sectores. Esses acessos tem de ser devidamente limitados no sentido de encaminhar os adeptos para os respetivos setores”, explica o líder do clube da Linha de Sintra.

As obras, confirmou Bancada in loco, prosseguem a um ritmo elevado para serem cumpridos os prazos exigidos pela Liga aos clubes estreantes na Liga profissional. “Este é um desafio enorme que estamos a enfrentar”, diz o presidente do clube Adelino Ramos que recebeu a reportagem numa sala contígua à da Direção e onde se pode avistar o campo onde a equipa treina e se ultimam os últimos retoques no melhoramento das infraestruturas do estádio. “Estamos a cumprir o plano de trabalhos que delineámos dentro dos prazos. E a prova disso é que os relatórios da Liga têm sido positivos. Teremos no dia 20 a vistoria final da Liga”.

Segundo Adelino Ramos, as obras de melhoramentos do estádio corresponderam a um orçamento que “anda à volta dos 600 mil euros”. O líder do Real diz ainda que os prazos só foram possíveis de cumprir “porque tivemos uma abertura extraordinária da Câmara Municipal de Sintra em que o seu presidente se empenhou pessoalmente no sucesso deste empreendimento. Está a ser um apoio fundamental para a execução desta obra”.

Pedro Proença dá as boas-vindas a Adelino Ramos, presidente do Real SC pela chegada do clube aos campeonatos profissionais (Facebook/Real SC)

A criação de uma SDUQ, outra grande mudança

Para além do melhoramento das infraestruturas do estádio, o Real teve de fazer outra grande mudança. Numa Assembleia-Geral histórica que decorreu no passado dia 2 de junho foi aprovado por unanimidade a criação da SDUQ – Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas, dando assim cumprimento a um dos principais pressupostos financeiros para a participação do Real SC nos campeonatos profissionais, na sequência da subida à 2ª Liga. A 30 de junho, a direção dirigida por Adelino Ramos seria eleita para um mandato de quatro anos, até 2021, ele que está no clube desde 2015, quando foi eleito pela primeira vez.

“Tínhamos um de dois caminhos. Ou passávamos para uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD) que só seria possível com interesse de algum investidor, ou avançávamos para uma SDUQ – Sociedade Desportiva Universal por Quotas – cujo sócio único é o clube. Dado os prazos muito curtos que tínhamos pela frente para concretizar este requisito fundamental para participar nos campeonatos profissionais, optámos, e por decisão dos sócios, por avançar, para já, pela SDUQ, em que o Sócio único é o clube. Não significa isto que num futuro próximo, não se possa enveredar por uma SAD assim que tivermos um parceiro certo para nos acompanhar nesse caminho”.

Deslocações na 2ª Liga são fatia muito pesada no orçamento

O presidente Adelino Ramos não quis revelar o orçamento para o futebol para  época de estreia na 2ª Liga, apenas referindo tratar-se de um orçamento que considera “adequado” para se cumprir o objetivo da permanência. “Sabemos quais são as nossas capacidades e não damos um passo maior do que a perna. O orçamento que elaborámos é o orçamento que nos possa garantir uma época tranquila, e a consequente permanência. Vamos tentar cumprir o orçamento dentro desse objetivo”.

Com a chegada do Real aos escalões profissionais, o peso das deslocações no orçamento para a nova temporada é, no entanto, significativo. “Comparado com as épocas anteriores, a fatia das deslocações é, de facto, uma das que tem mais peso no nosso orçamento. Porque infelizmente a grande maioria dos clubes que participam nesta 2ª Liga são do centro-norte. Temos o Benfica B, Sporting B, o Cova da Piedade, o resto é tudo centro-norte, dois clubes da Madeira e um dos Açores.

O presidente do Real SC, falou ainda da constituição do plantel para a nova temporada. “Apostámos num equilíbrio entre jogadores novos com talento e que possam resultar em fator de potenciação desse talento com um ou outro jogador já com alguma experiencia neste ou noutros campeonatos . O plantel ainda não está fechado, faltam-nos duas ou três posições que nos falta completar. É um assunto que está a ser trabalhado para que possa corresponder às nossas expetativas”.

Treinador do Real SC, Filipe Martins, não teme o desafio de tentar assegurar a permanência do clube na 2ª Liga (Facebook/Real SC)

Filipe Martins, o treinador que quer uma equipa “sedenta de aparecer”

Filipe Martins, o treinador do Real Sport Clube, é um dos principais responsáveis pelo momento histórico que o clube está a atravessar ao ter conduzido a equipa à 2ª Liga e conquistado o título de campeão nacional do Campeonato de PortugalPrio na última temporada. Com um carreira iniciada em 2011/12 na formação do CD Belas onde treinou sucessivamente os sub13, sub15 e sub17, Filipe Martins, de 39 anos, chegou ao Real Sport Clube em 14/15 para treinar os sub-17. No ano seguinte, treinou os sub-19 e na última época na primeira experiência numa equipa sénior fez o que fez. Segue-se a 2ª Liga e o jovem treinador não se assusta com o desafio que tem pela frente.

“É um grande desafio para todos nós, mas estamos preparados para o enfrentar. O objetivo passa por assegurar a permanência. Só podemos pensar assim. Esta é uma equipa jovem, talvez a mais jovem da 2ª Liga - os dois jogadores mais velhos têm 31 anos (Sabry) e 26 anos (Kikas) - assim como deverá ter também o orçamento mais baixo. Mas isto não corta a nossa ambição e vontade de trabalhar cada vez mais e melhor”, assegura Filipe Martins que norteou a constituição do plantel em dois vetores: “procurámos ir buscar jogadores que estavam identificados com o clube, que já tinham por cá passado, com jovens com margem de progressão e ambiciosos. Tivemos de procurar jogadores alvo dentro da nossa ideia para o projeto. Gostava de ter o Pizzi e o William Carvalho, mas se não podemos não temos de arranjar desculpas".

A aposta na juventude é assumida por Filipe Martins que resume tudo à qualidade. “Prefiro um jogador imaturo com qualidade, do que um jogador maduro mas com menos qualidade”, diz. “A experiência vai-se ganhando. A qualidade tem-se ou não se tem”.

A carreira de Filipe Martins tem sido sempre em crescendo. O jovem treinador confessa-se feliz por isso. “Tenho subido um degrauzinho de cada vez. Agora, na 2ª Liga vai ser um desafio mais exigente para o clube e para mim. Mas penso que temos uma equipa para corresponder às expetativas”.

Ponto alto na carreira de Filipe Martins até ao momento é a conquista do Campeonato de PortugalPrio e a consequente subida do Real à 2ª Liga. O momento mediático do treinador foi talvez quando a equipa da Linha de Sintra defrontou o Benfica para a Taça de Portugal, a época passada, mas Filipe Martins lembra outros feitos. “Não foi só esse jogo, eliminámos o Arouca da Taça e fomos campeões. Foi uma época muito importante para o clube que num ano de semiprofissionalismo teve sucesso e agora no profissionalismo vamos procurar esses momentos de mediatismo. Temos a Taça da Liga, por exemplo, e vencer no Restelo não está fora do nosso alcance”, assume.

Filipe Martins não receia o desgaste de uma competição tão longa como a 2ª Liga. “O desgaste vai ser sustentado por motivação. Estamos todos a trabalhar para voltar a fazer história, e voltar a fazer história é garantir a permanência neste primeiro ano nos campeonatos profissionais”.

O técnico do Real desvaloriza ainda o facto de a equipa estar a treinar com as obras de remodelação do estádio a decorrerem ao mesmo tempo – antes desta reportagem a equipa esteve alguns dias em Óbidos em estágio. “Faz parte da mudança. O clube está a viver um momento de transição com a entrada nos campeonatos profissionais, e até a nível de mentalidades estamos a passar por um momento de mudança mas cheios de ambição Não queremos fazer mais uma época, mas a época”, assume um treinador para quem o mais importante no futebol “é ganhar”. “Se puder acrescentar um futebol atrativo, tanto melhor”, diz Filipe Martins que gosta de começar a construir equipas “pelos alicerces” e “não pelo teto”. “Não me considero um treinador defensivo, normalmente as minhas equipas pressionam alto”, salienta.

 

Viveiro de craques é inspiração para novo desafio

Quando se entra na sala contígua à sala de imprensa, onde o treinador Filipe Martins dará as conferências antes e depois dos jogos, as paredes estão preenchidas por retratos de antigos jogadores que passaram pela formação do Real, para além dos troféus que o clube foi conquistando ao longo da sua história dispostos em armários. Na lista de craques salta logo à vista Nani, o internacional português que por ter jogado na formação do Real ainda vale algum dinheiro ao clube sempre que é transferido para outro clube que não do próprio país, graças aos mecanismos de solidariedade. “Ainda vamos recebendo de vez em quando algum dinheiro. Ás vezes são jogadores que passaram há muitos anos por aqui e somos alertados para uma transferência”.

Dos mais mediáticos, e para além de Nani, figuram na lista vip nomes como o de Jorge Andrade, Ivan Cavaleiro, Marco Matias, Wilson Eduardo, Jordão, Pedro Mendes, Ivanir, Vaz Tê, Calvete, João Gonçalves, Paulo Renato e até a futebolista Dolores Jacome Silva.

Adelino Ramos reforça a ideia de que a formação é “uma das grandes apostas” do clube. “Se há setor onde o Real Sport Clube se pode orgulhar tem sido ao nível da formação que ao longo destes 20 anos tem dado excelentes frutos ao clube”

Orgulho no ecletismo

O presidente Adelino Ramos tem orgulho no ecletismo do clube: “O slogan do Real Sport Clube é ‘Mais do que um clube’. O feito histórico e inédito da equipa sénior de futebol não deve levar-nos a desvalorizar outros brilhantes resultados obtidos pelo Real Sport Clube quer ao nível do futebol como aconteceu com os juniores que subiram esta época à 1ª Divisão nacional, às nossas escolinhas. Aliás, neste momento está em processo final de certificação por parte da FPF como o Real Sport Clube sendo uma das escolas de clubes de referência nacional. Temos ainda mais 20 modalidades, como, por exemplo, o tiro com arco com vários títulos de campeões nacionais e regionais, artes marciais, dança, atividades gímnicas, num total de 1000 atletas”.

“Temos um Complexo Desportivo virado para o futebol, mas na nossa sede, em Massamá, os ginásios estão ocupados com os nossos atletas que praticam essas modalidades e as nossas instalações em Queluz, onde está sediada a nossa equipa com tiro com arco. Este clube é um clube eclético. Sendo a sua génese o futebol, evoluiu de uma forma muito positiva. É um clube sempre em movimento”, reforça o presidente do Real.

Com 2.750 sócios pagantes, um número que resulta de uma atualização feita no início do ano passado, Adelino Ramos prevê um crescimento a curto prazo. “Essa tendência já está a verificar-se. Já na parte final da época passada estava a verificar-se uma tendência de inscrição de novos sócios que nós queremos que se confirma ao longo desta época. O Real é um clube que a nível do concelho de Sintra, pelas atividades que desenvolve, mas também pelo número de associados, é o top dos clubes do concelho de Sintra. É o único clube que o concelho de Sintra tem nas competições profissionais de futebol. Isso não pode ser desvalorizado pela autarquia. Espero que o Real Sport Clube possa receber mais apoios”.

Nota: o nome do Real Sport Clube surge muitas vezes na imprensa escrito como Real de Massamá, mas o presidente do clube compreende que, por uma questão geográfica, o clube seja referido como de Massamá, mas o nome real é mesmo…Real Sport Clube como os associados fazem questão de que seja designado.