Portugal
"O adversário tem mais três penáltis a favor do que contra? Está bem. E depois?"
2020-03-11 17:40:00
Duarte Gomes elogia o "talento" humano em relativizar as polémicas do futebol face à pandemia de Covid-19

A pandemia de Covid-19 tomou conta da atualidade, interrompendo competições ou ditando jogos à porta fechada, para prevenção de contágio, e tornando visível um "talento" especial da humanidade, como apontou Duarte Gomes.

Na crónica habitual para o jornal Expresso, o antigo árbitro internacional puxou o novo coronavírus para o destaque que merece, realçando que, "de um momento para outro, a discussão fútil ou o penálti assinalado por causa da tal mão deixaram de ser importantes".

"Em situações-limite, o Homem tem esta capacidade. A capacidade natural de dar às coisas a ordem certa, colocando-as no devido lugar", sustentou.

E as rivalidades no futebol ou os erros da arbitragem, por mais "importantes" que sejam, não chegam aos calcanhares da "preservação da vida em si".

O Covid-19 veio alterar a nossa vida, fechando escolas e universidades, bibliotecas e piscinas, equipamentos culturais. O desporto não ficou à margem, com estádios e pavilhões a serem também encerrados. 

Uma "realidade paralela" em que jogos da Liga dos Campeões ou da Liga Europa, as duas mais importantes provas europeias de clubes, são realizados sem público, para travar o contágio. E que desperta "o mais básico e primitivo instinto humano", o da sobrevivência.

"De um momento para outro, a discussão fútil com o vizinho, o problema pendente com o patrão ou o penálti assinalado por causa da tal mão deixaram de ser importantes. Passaram para um plano inferior, microscópico. As coisas que até aqui tinham valor deixaram de o ter, porque valores maiores se levantam", frisou.

Para Duarte Gomes, a Humanidade tem "uma espécie de talento", escondido até surgirem estas situações-limite, "que nos leva a priorizar e relativar tudo o que deve ser priorizado e relativizado".

"São raros os momentos em que as circunstâncias da vida nos ensinam qualquer coisa. Vamos aproveitá-los", exortou.

"O senhor da mercearia leva mais dez cêntimos do que o homem da padaria? O adversário tem mais três penáltis a favor do que contra? A senhora da farmácia disse que o remédio faria efeito em quatro dias e ainda não fez? Está bem. E depois? E depois? Vamos deixarmo-nos de minudências. Temos uma vida que se perde a cada segundo. A cada sopro", argumentou.

Numa altura em que o mundo enfrenta a pandemia de Covid-19, o ex-árbitro finalizou com um importante alerta: "É preciso cuidar bem do presente, porque é no futuro que viverão as nossas crias e as crias que eles terão".