Portugal
Miguel Cardoso dá início à reconstrução do Rio Ave para 2017/18
2017-06-27 22:00:00
O Rio Ave regressa ao trabalho esta quarta-feira. O Bancada falou com Duarte Sá, o "eterno capitão", sobre a nova época

O Rio Ave regressa, esta quarta-feira, ao trabalho, numa época de grandes desafios. Não só a fasquia está elevada pela boa temporada realizada em 2016/17, como há a necessidade de reconstruir uma equipa que perdeu muitas das suas peças-chave neste defeso. Além disso, essa reconstrução será feita por um novo treinador, Miguel Cardoso, que terá a sua primeira experiência enquanto treinador principal.

Entre jogadores que já foram vendidos e outros cujo período de empréstimo termina agora, a base da equipa que realizou uma excelente segunda volta sob o comando de Luís Castro, foi muito abalada. Roderick Miranda foi contratado pelo Wolverhampton WFC e Krovinovic é reforço do Benfica, enquanto Rafa Soares (FC Porto), Petrovic (Sporting) e Gil Dias (AS Mónaco) estavam no clube por empréstimo. Além destes cinco jogadores que faziam parte da equipa-tipo de Luís Castro, há mais três jogadores que estavam emprestados – Héldon (Sporting), Gonçalo Paciência (FC Porto) e Adama Traoré (AS Mónaco) – e André Vilas Boas deverá encerrar a carreira de jogador.

Apesar de todas estas saídas, os vila-condenses apresentaram apenas um jogador até ao momento: Nuno Santos, o extremo que representou o Vitória de Setúbal na última temporada.

A reconstrução de Quinito em 1982

Esta necessidade de reconstruir o plantel depois de uma época bem conseguida não é novidade para o Rio Ave. O melhor exemplo disso encontra-se recuando até ao final da temporada 1981/82, em que o clube conseguiu a sua melhor classificação de sempre.

O recentemente falecido Mourinho Félix conduziu a equipa até ao quinto lugar, deixando o clube no final da época. Quinito foi o escolhido para a difícil missão de reconstruir uma equipa que perdeu cinco dos dez jogadores mais utilizados na temporada anterior: o guarda-redes Francisco Trindade, os defesas Baltemar Brito e Filipe Figueiredo, o médio Paquito Saura, e o avançado Álvaro Soares.

Um dos jogadores mais importantes que se manteve de uma época para a outra, foi Duarte Sá, o capitão de equipa e que explicou ao Bancada as principais dificuldades enfrentadas na altura, assim como os aspetos mais importantes para a reconstrução da equipa.

"A equipa de 1981/82 era uma grande equipa", lembra o "eterno capitão" que recorda com um enorme saudosismo a brilhante época do Rio Ave: "Mesmo analisando com a distância devida e com os diferentes contextos temporais posso afirmar que a essa equipa foi a melhor equipa de sempre do Rio Ave. Era muito difícil vencer a equipa do Rio Ave", reforça.

O resultado foi que dessa equipa muitos jogadores saíram. "Lembro-me que o Figueiredo foi para o Boavista, o Paquito foi para o Vitória de Guimarães e depois para o FC Porto, o Quim foi para o FC Porto, o Zé Manel foi para o Boavista, o Pires e o Álvaro que eram os dois avançados foram para o Boavista. Essa equipa ficou praticamente desfeita.O Quinito quando chega em 1982 tem uma equipa completamente diferente", explica Duarte Sá.

"O que é que foi feito? O que se faz naturalmente nestas ocasiões é preciso recrutar nos escalões inferiores. E foram buscar outros com mais experiência, o Casaca, o N’Habola. Acontece é que o Rio Ave é um clube que facilita a integração de novos jogadores. E o processo repete-se. É claro que os resultados foram diferentes. Mas o futebol é assim mesmo", constata o antigo lateral-esquerdo que viu o Rio Ave ficar em oitavo lugar em 192/83.

 Analisando o desafio que Miguel Cardoso agora enfrenta, Duarte Sá considera que "é evidente que o Miguel Cardoso não pode fugir à herança que herda". Mas acredita "que o Rio Ave ainda tem muito tempo para construir uma equipa capaz de honrar a tradição e de manter o clube num patamar que habituou toda a gente nas últimas épocas."

Para Duarte Sá a saída "alguns jogadores importantes não pode abalar a coesão da equipa aré porque ficaram lá outros que também são bons", releva.

Ao anúncio da retirada do capitão André Vilas Boas, Duarte Sá lamenta que assim seja: "Tenho pena que o André Vilas Boas tenha deixado de jogar porque era um jogador muito importante no balneário", destaca.

Sobre o novo treinador vilacondense o antigo símbolo do Rio Ave garante ter "muito boas referências do Miguel Cardoso" e revela a "esperança fundada de que o Rio Ave conseguiu um bom treinador." 

"Jorge Mendes? É aquilo que eu considero um amigo do Rio Ave e, portanto, em igualdade de circunstâncias ele dará preferência ao Rio Ave na hora de colocar jogadores. E o Rio Ave tem beneficiado desse bom relacionamento que tem tido com o Jorge Mendes e espero que isso se mantenha", explicou quando questionado sobre a relação que tem existido entre o empresário de jogadores e o clube de Vila do Conde.

À espera de reforços

Perante o cenário já descrito de saídas e entradas de jogadores, Miguel Cardoso espera, necessariamente, por reforços. Quando chegarão e em que moldes ainda não se sabe.

Por um lado, o Rio Ave deverá estar, este ano, em melhores condições de atacar o mercado, depois dos encaixes realizados com as vendas de Krovinovic (três milhões de euros) e de Roderick Miranda (50% de três milhões de euros), além de uma percentagem dos 40 milhões de euros que o Manchester City pagou ao Benfica por Ederson. Por outro lado, os empréstimos conseguidos na época passada foram muito importantes para a equipa, particularmente nos casos de Rafa Soares, Gil Dias e Petrovic, e essas oportunidades, frequentemente requerem paciência no mercado.

Com ou sem caras novas no plantel, os trabalhos avançam a partir desta quarta-feira, com a realização de testes médicos e, para o próximo domingo, está já agendado um jogo amigável com a Seleção Concelhia. A equipa realizará um estágio entre os dias 16 e 23 de julho e começará a época oficialmente a 30 de julho, com um jogo da Taça da Liga.

Em 1982/83, Quinito acabou por ficar no oitavo lugar, piorando o quinto posto do seu antecessor. Esta época, Miguel Cardoso tentará, no mínimo, fazer igual, uma vez que o Presidente do Rio Ave, António Silva Campos, já assumiu o objetivo de ficar entre os primeiros oito classificados da Liga. No final da época saberemos se a reconstrução do novo treinador foi bem sucedida.