Portugal
SC Freamunde diz que não terá custos salariais com os novos jogadores
2018-02-03 18:20:00
O clube de Freamunde não pagou ordenados aos seus jogadores e na sexta-feira apresentou mais seis reforços

O SC Freamunde, que não pagou ordenados durante a primeira metade da época, apresentou, na sexta-feira, nada mais, nada menos do que seis novos futebolistas: Cláudio Silva, Carlos Quintero, Tiago Queiroz, Lucas Cardoso, Tomás Oliveira e Kyle Parks.

A situação explica-se da seguinte forma: a disputar a Série B do Campeonato de Portugal, o SC Freamunde formou um plantel no início da temporada 2017/18. Assinou contratos. Alguns profissionais, outros não profissionais. A meio de outubro de 2017 pagou o mês de agosto. Daí para a frente nenhum jogador do plantel viu um cêntimo vindo do clube. Mais de metade do plantel rescindiu, no fim de dezembro, os contratos que os ligavam ao Freamunde e na sexta-feira o clube presidido por Miguel Pacheco apresentou seis novos reforços.

Questionado pelo Bancada, Miguel Pacheco, presidente do SC Freamunde, garantiu que o “clube não vai ter nenhum custo com os novos jogadores”, começou por explicar. “Os ordenados destes jogadores vão ser pagos pelos clubes que os emprestam ao Freamunde e em alguns casos serão os empresários a fazê-lo. O Freamunde não terá qualquer custo”, reforçou.

Perguntámos a Miguel Pacheco como podia explicar o facto de ver mais de metade do plantel rescindir por falta de pagamentos e depois reforçar a equipa com seis novos jogadores. Ao Bancada, o presidente do SC Freamunde confirmou que o plantel se viu dizimado, já que não pagava os ordenados, mas o mesmo facto não pareceu incomodar Miguel Pacheco: “É verdade que saíram muitos. Ficaram os melhores”, atirou.

O Bancada contactou alguns do jogadores que se viram nesta “insustentável” situação. Rui Nereu é um deles. O guarda-redes formado no Benfica estava a realizar uma excelente temporada, mas a situação complicou-se, por mais boa vontade que Rui tivesse. “A situação ficou insustentável”, começou por desabafar o jogador que estava em Freamunde há três anos.

“Eu tenho pena que a situação tenha chegado a este ponto. Eu gosto do clube e tinha uma boa relação com os adeptos”, contou Rui Nereu ao Bancada. “Mas estar longe da minha família, do meu filho e ter os problemas que fui tendo dificultou tudo”, revelou o guardião que está agora livre para assinar por outro clube.

Com as emoções à flor da pele, Rui Nereu garantiu ao Bancada que apenas “um enorme espírito de equipa e de companheirismo entre todos os jogadores do plantel permitiu que as coisas fossem geridas da forma que foram”, com o grupo a apoiar-se entre si nos momentos mais complicados de cada um.

Situação, esta, que foi confirmada, ao Bancada, por Rúben Neves. O médio que também rescindiu em dezembro, rumou ao CD Cinfães, e lembrou os momentos complicados por que passou na primeira metade da época. “Em outubro recebemos o mês de agosto”, revelou. “As promessas eram sempre as mesmas: ou vinham investidores ou as coisas tinham de ser aprovadas em assembleias. Sempre as mesmas conversas”, foi dizendo Rúben Neves.

Rúben Neves também não tem dúvidas que foi o grande companheirismo entre todos os elementos do plantel que permitiu que as “dificuldades fossem sendo ultrapassadas no dia-a-dia”. Isto porque em finais de novembro o clube informou que não ia haver dinheiro para ninguém antes do Natal, “talvez em janeiro”, foi o que foi dito ao plantel que se viu obrigado a recorrer ao Fundo de Garantia Salarial do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol.

O jovem Luís Cortez foi outro dos que se viu neste embrulhada. A situação tornou-se insustentável para o jogador formado nas escolas do Sporting e que passou pelo Belenenses em que a “única solução foi rescindir com o Freamunde”. Cortez joga agora no Trofense e é aí que espera relançar a sua carreira. Para este jovem, mais do que os adversários dentro do campo, há obstáculos que o futebol português insiste em colocar-lhe à frente.

“É muito complicado para nós”, começou por desabafar Luís Cortez. “Eu vejo as situações dos meus colegas e fico triste. Veja-se o caso do Nereu, por exemplo, que estava a fazer uma excelente época e que se viu sem clube com toda esta situação."

Não será caso único o SC Freamunde, e muitos do jogadores com quem o Bancada contactou questionam, mais do que os clubes, os mecanismos do futebol português que permitem que casos como este continuem a acontecer. É no mínimo estranho que um clube que não cumpriu com os seus compromissos durante metade da temporada - num caso que se tornou público - que em janeiro esteja habilitado a inscrever novos atletas.