Portugal
A corrida entre um autoMabil de alta cilindrada e uma carripana velha
2018-03-31 18:25:00
Mabil fez um golo e uma assistência.

Falámos ontem de uma metamorfose, no Rio Ave-Estoril, e hoje falamos de outra: FC Paços de Ferreira e GD Chaves trocaram de papéis e a metamorfose foi boa para os pacenses, que venceram por 2-0. E atenção: este Paços foi muito bom. Um autoMabil – o trocadilho é fácil, mas Mabil merece-o – de alta cilindrada contra um Chaves em modo carripana velha.

Ainda na comparação com o Rio Ave-Estoril, há que dizer que hoje, na Mata Real, ao contrário de ontem, o resultado foi inteiramente justo. Poucos se atreverão a dizer o contrário e, mesmo esses, devem ter dificuldade em dizê-lo sem se rirem. A metamorfose que referimos é simples de explicar: o Chaves, habitualmente dominador e com bola em sua posse, foi subjugado. O Paços, habitualmente confortável em transições, foi o rei da festa, na Mata Real.

Molinhos, molinhos...

A primeira oportunidade de golo até foi para o GD Chaves, num belo remate de Perdigão, mas isso não é sinónimo de entrar melhor no jogo. Foi pontual. A partida começou com o Paços mais forte. Continuou com o Paços mais forte. Só no finalzinho o Paços deixou de ser mais forte, mas porque quis.

As equipas surgiram com sistemas táticos semelhantes, o que deixou, quase sempre, o jogo baseado em coberturas individuais. Ora, quando um jogo está nesta base, a predisposição inidividual para defender acaba por ser mais determinante do que quando o processo é mais coletivo. Foi assim que o Paços dominou o jogo. Os jogadores do Chaves – sobretudo Stephen e Bressan – foram muito molinhos e chegaram sempre atrasados à zona da bola. Stephen sabe jogar, mas não dá a agressividade que dá Jefferson, algo mais visível quando joga Bressan, um jogador com muita técnica, mas já algo lento e pouco intenso. Isto – para além de os laterais do Chaves terem jogado tao fechadinhos – permitiu ao Paços criar, rodar, circular e verticalizar. Tudo com tempo e espaço.

Mabil – o tal do autoMabil – joga muito a isto. Atenção a este rapaz. O extremo desequilibrou, criou, definiu bem e, aos 28 minutos, assistiu Luiz Phellype para um golo justo.

Nota ainda para uma questão individual: o SC Braga desperdiçou dois jogadores que, hoje, influíram, de forma diferente, neste jogo. Assis é um trinco tremendo. Muito bom no desarme, muito rápido e sempre muito limpo nas interceções. Do outro lado, não jogou Djavan. E que falta fez. Este lateral que o SC Braga também deixou sair dá saída de bola ao Chaves e, sobretudo, uma profundidade e uma capacidade de se esticar no campo que a equipa de Luís Castro muito gosta de aproveitar. E que faltou.

Golo. Mais nada.

Na segunda parte, veio mais uma dose de justiça. Mabil, aos 54 minutos, aproveitou uma bola perdida na área e finalizou bem. Bem, como quase tudo o que fez neste jogo.

A partir do segundo golo, houve mais Chaves. Luís Castro montou um 4x4x2, com Platiny junto a William, houve mais Chaves, até porque o Paços deixou de querer jogar. Os transmontanos tiveram mais posse de bola – ainda que consentida – e mostraram aquilo que costumavam fazer antes da metamorfose de hoje: saber circular, sobretudo com Tiba em jogo, e criar condições para os alas desequilibrarem.

Não houve muito jogo, até ao final. O Chaves dominou, sim, mas sem capacidade de criar oportunidades de golo. O Paços foi colocando marcha-atrás no seu autoMabil e o tempo passou. Ainda houve um golo anulado a Davidson, aos 90+2, que parece ter sido bem decidido pela equipa de arbitragem (boa exibição de Hélder Malheiro).