Grande Futebol
Osvaldo: a vida de 'rockstar', a liberdade e o churrasco a ganhar aos abdominais
2018-09-24 14:45:00
Osvaldo abriu o livro sobre uma carreira no futebol sempre marcada pela vida noturna e pela paixão à música.

Lembra-se daquele tipo que apareceu na cidade do Porto com uma guitarra às costas para jogar futebol? Sim, esse mesmo, Pablo Daniel Osvaldo. A curta passagem pelos azuis e brancos, em 2016, não deixou saudades no reino do dragão. O estilo de vida à ‘rockstar’ e a paixão pela música sempre falaram mais alto durante toda a carreira do ex-internacional italiano e foi por isso mesmo que decidiu colocar um ponto final no desporto rei e pendurar as chuteiras em 2017, somente com 31 anos. Fez as delícias dos adeptos do Espanyol, encantou na capital italiana e sempre foi herói para os ‘hinchas’ argentinos… mas a verdade é que Osvaldo preferiu os churrascos e as noitadas à alta competição.

O futebol dá muito à vida de uma pessoa… mas também tira. A Osvaldo retirou-lhe o mais importante direito que se pode ter: a liberdade. Pelo menos, assim o diz o próprio ex-jogador. “Porque deixei o futebol? Sentia-me cada vez mais angustiado com o ambiente do futebol, que também foi mudando. Atenção, não renego em absoluto o futebol: amo-o e é o melhor que me aconteceu na vida. (...) Mas, retirou-me a liberdade. E a minha liberdade não tem preço, nem se negoceia”, confidenciou o ítalo-argentino em entrevista ao diário espanhol ‘Marca’.

Hoje em dia, Osvaldo tem uma banda de rock e blues que dá pelo nome de ‘Barrio Viejo’ e já lançou um disco: ‘Liberación’. Não é nada incomum ver o ex-futebolista a tocar nos bares de Barcelona, noite dentro, até porque o próprio diz que não é “muito amigo” do dia. “Em certa parte, estou mais feliz do que antes, pelo menos mais tranquilo. O futebol fazia-me feliz, mas o ambiente do futebol não. Sempre pensei em ter uma banda de rock. Quiçá, tenho talento para isso, no fim de contas trata-se de descobrir. Quando comecei no futebol, não imaginei a carreira que iria ter”, confessou Osvaldo. Mesmo por isso, é agora momento de olhar para aquilo que ele fez no desporto rei.

Foi no Banfield, em plena Argentina, que Osvaldo deu os primeiros passos no futebol. Seguiu-se o Huracán, clube no qual passou grande parte da formação e fez a estreia como sénior. Bastou uma época na equipa principal para o futebol europeu tocar à campainha. Era a Atalanta a chamar Osvaldo. Com 19 anos, a experiência na cidade de Bergamo não foi a melhor e realizou apenas três jogos em 2005/06. Seguiu-se um empréstimo ao US Lecce e os bons sinais que mostrou por lá levou a Fiorentina a apostar nele. Uma temporada e meia pouco conseguidas depois, foi altura do Bolonha FC aparecer na carreira do ítalo-argentino. Na segunda metade da época de 2009/10, o clube italiano decidiu emprestar o avançado ao Espanyol e aí houve uma reinvenção.

Em 21 jogos, Osvaldo marcou oito golos pelo emblema catalão e deixou os responsáveis do clube convencidos. Cerca de 4,6 milhões de euros foi o preço que o Espanyol pagou para ficar com o atacante a título definitivo. Em 2010/11, teve a temporada mais concretizadora da carreira, com 14 golos apontados em 26 partidas, números que fizeram a AS Roma desembolsar 16 milhões pela contratação do ex-futebolista. Em duas épocas na capital italiana deixou um repertório de 28 remates certeiros em 57 compromissos. Em 2013, o Southampton pagou 15 milhões de euros pelo passe de Osvaldo, mas foi aí que começou a queda. Em 2014 esteve cedido à Juventus e até jogou, mas falhou em ser decisivo. Seguiram-se empréstimos ao Inter Milão, Boca Juniors… e depois veio o FC Porto. No Dragão, o avançado ainda fez 12 partidas, quatro delas como titular, mas um único golo marcado fez com que não deixasse saudades nos adeptos azuis e brancos. Regressou à Bombonera e ainda voltou aos relvados, neste ano, pelo Talleres-RdE, um clube de bairro argentino.

“Já não me dá mais vontade de jogar. Agora, tenho a possibilidade de fazer o que nunca pude, olhar para trás e pensar no que fiz. Antes, não me dava conta disso.” Nos dias que correm, o futebol só preenche a vida de Osvaldo quando está com os amigos, nas peladinhas do costume. E só isso já custa ao cantor. “Fumo muito, ontem fui jogar futebol com os meus amigos e custava a respirar. Hoje, dói-me tudo”, confessou Osvaldo na entrevista à ‘Marca’

No que diz respeito ao desporto rei ao mais alto nível, Osvaldo considera que a beleza de ‘jogar à bola’ tem vindo a desvanecer com a “máfia” que tem assolado o futebol. “O futebol em si é o mais bonito do planeta. Se não fosse pela máfia que o rodeia… os futebolistas na Europa estão mais preocupados se vão bem penteados, as cores das chuteiras… e agora com o VAR. Quem o inventou certamente que não jogou futebol na sua vida. Nem sequer deve gostar. Justo? Podem marcar-te um golo em fora de jogo, mas tu também a eles… Podes ganhar um Mundial com a mão aos ingleses. Com o VAR, retiras o fator humano e a picardia ao futebol, que é o mais lindo. Quando pretendes fazer um desporto perfeito, retiras-lhe a emoção.”

Osvaldo tinha talento, é um facto. Mas, não o aproveitou da melhor forma. O próprio ex-jogador admitiu, ainda assim, que “gostaria de jogar como Messi”, mas “não ser como ele”. O estilo de vida de um futebolista como o craque do FC Barcelona é algo que não entra na cabeça de Osvaldo. “Ele vive numa prisão de ouro. Não poderia estar aqui a beber um copo. Talvez isso não lhe importe, mas a mim sim. A esse nível não estás nem na tua casa. Compras a maior televisão do mundo e nem pões os pés na tua sala. O dinheiro nunca me importou, mas também o gastei de forma estúpida.”

As palavras de Osvaldo sobre Messi não ficaram por aí. “A última vez que o vi foi quando lhe ofereci o meu albúm. Não é meu amigo, mas sim uma pessoa agradável, que te abraçam e te transmitem boa energia. Perguntou-me: ‘deu-te pela música?’ Não me entendeu, creio, pensou que estava louco. Se eu fosse o Messi não deixaria o futebol, por mais que quisesse. És o melhor jogador do mundo e isso não é só porque é o que melhor sabes fazer, mas tens que te dedicar as 24 horas dos 365 dias por ano, ainda que o seu talento seja natural.”

E foi aqui que apareceu o nome de Cristiano Ronaldo. Osvaldo comparou o estilo de vida completamente distinto que levava quando era futebolista, comparado com o do internacional português. “O Cristiano não nasceu sendo um génio como o Messi. É uma máquina, é mais esforço do que talento, mas tem o mesmo valor. O Cristiano gosta de chegar a casa e fazer 150 abdominais. Eu prefiro acender o fogareiro para fazer um churrasco”, confidenciou Pablo Daniel Osvaldo.

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