Grande Futebol
A moeda de Eusébio, a pastilha de Cruyff e a música. As superstições do futebol
2018-01-14 13:30:00
Yerry Mina descalçou-se para pisar o Camp Nou pela primeira vez, uma das muitas superstições no fenómeno futebolístico.

Moedas da sorte, pisar o relvado descalço, cuspir pastilhas para o meio-campo dos adversários, ou simplesmente ouvir as mesmas músicas durante vários anos antes de entrar dentro das quatro linhas. Quem está familiarizado com o mundo do futebol sabe que as superstições são alguns dos fenómenos que mais fazem parte do protocolo de preparação para os jogos, adotado por vários jogadores. Assim o pudemos testemunhar nesta semana, quando Yerry Mina, central colombiano, foi apresentado em pleno Camp Nou como o novo reforço do FC Barcelona.

Depois de assinar o contrato, Yerry Mina prosseguiu para a habitual sessão no relvado de Camp Nou com adeptos presentes, para dar toques e mostrar-se aos aficionados blaugrana. Pois bem, antes de entrar pela primeira vez no relvado que pretende pisar em muitas ocasiões, o defesa sul-americano descalçou os sapatos e pisou o terreno. O motivo? "Faço-o em minha casa. Há uma frase no Brasil que diz: ‘com a planta dos pés tocarás no terreno que queres conquistar’. E eu quero fazer história aqui, com todos", explicou o próprio à comunicação social. A verdade é que o fenómeno das superstições tem já uma vasta história no desporto rei, seja em Portugal ou no estrangeiro, com várias lendas do futebol pelo meio.

A moeda de Eusébio, a indumentária de Futre e a fé de Fernando Santos

Em Portugal, a superstição sempre foi moda no mundo do futebol. Recuando vários anos no tempo, Eusébio ficou conhecido por colocar uma moeda de sorte na chuteira direita antes de entrar em campo. Com o primordial intuito de ser uma ‘mania’ que resultava em golos, a verdade é que o registo finalizador de Eusébio faz jus à moeda, pelo que ninguém se pode atrever de dizer que esta superstição não resultou. Ainda no antigo internacional português, mais recentemente, por volta até do Euro 2004, Eusébio foi visto várias vezes com uma toalha branca na mão… acessório que se tornou em amuleto para o “Pantera Negra”.

De Eusébio para Paulo Futre, as superstições não se perderam no tempo. Tal como chegou a garantir o próprio Futre, todas as superstições que tinha enquanto jogador foram acumuladas quando representou o FC Porto. No que concerne à indumentária, os chinelos nunca poderiam estar ao contrário no balneário e pulseiras só as poderia utilizar no pulso direito. Futre tinha ainda o hábito de fazer três cruzes com álcool sempre que partia alguma coisa e preconizava o silêncio absoluto quando ia no autocarro e passava um carro funerário.

Crédito: Guilherme Venâncio / LUSA.

Agora, até à atualidade e ao selecionador nacional, Fernando Santos. Todos conhecem a fé que move o treinador português, o crucifixo que utiliza sempre no banco de suplentes durante os jogos e as constantes rezas. Porém, a superstição também é um ponto de foco para o timoneiro da equipa das quinas. Ora veja… durante o Euro 2016, sempre que se reunia de forma informal com a comunicação social depois dos encontros, Fernando Santos fazia questão de as mesas estarem colocadas em forma de “U”. Tal como foi relatado por jornalistas, após a vitória na meia-final da prova, contra o País de Gales, as mesas não estavam em posição e foi o próprio selecionador a colocá-las. Deu resultado? Para saber a resposta a esta questão, basta olhar para o troféu relativo ao Campeonato da Europa, conquistado por Portugal na final contra a França, em pleno solo gaulês.

Johan Cruyff a cuspir pastilhas e Lineker a temer o que mais gostava de fazer

A lenda e o legado que Johan Cruyff deixou neste fenómeno que conhecemos como desporto rei é insubstituível. É devido ao antigo jogador e treinador holandês que uma filosofia de nome tiki taka começou a imperar na Catalunha, mais precisamente no FC Barcelona, clube do qual é uma das principais figuras históricas. Porém, foi nos tempos áureos do Ajax que o “Holandês Voador” foi portador de algumas das superstições mais curiosas do futebol. Não só Cruyff tinha por hábito atingir o guarda-redes Gert Bals antes do início de cada encontro, como também cuspia uma pastilha para o meio-campo da equipa adversária a anteceder o apito inicial. Será que estas ‘manias’ tiveram efeito? A carreira histórica de Cruyff que o diga.

Crédito: EPA.

Já que falamos em avançados que deixaram legado, o nome de Gary Lineker tem que entrar nesta equação. O antigo internacional inglês tinha, enquanto jogador, uma das superstições mais curiosas do futebol, tendo em conta as funções que tinha dentro das quatro linhas. Foram 329 os golos que Lineker marcou em 649 jogos disputados na carreira. Mas, ao invés das finalizações dentro de campo, no aquecimento para as partidas, o atacante recusava-se a testar a pontaria, pois não queria gastar golos. Aliada a esta superstição, Lineker também trocava sempre de camisola ao intervalo quando não apontava qualquer golo na primeira parte de um compromisso.

Kolo Touré e um atraso que custou um amarelo

Quando se fala em superstição, há que mencionar o nome de Kolo Touré. Porquê? Ainda bem que pergunta. Pois bem, o central marfinense sofreu na pele as consequências de um ritual nos tempos em que esteve no Arsenal. Quando representou os gunners, Touré tinha a ‘mania’ de ter que ser o último jogador a entrar em campo… situação que lhe custou um cartão amarelo num jogo em pleno Liga dos Campeões, no ano 2009.

Então num encontro diante da AS Roma, William Gallas teve que receber tratamento a uma lesão, ao intervalo, pelo que demorou demais a voltar para o jogo. Como o francês não entrava em campo, Touré também não o fazia… devido à superstição que já aqui foi mencionada. Assim sendo, o jogo reiniciou-se sem ambos os jogadores e quando Touré entrou dentro das quatro linhas, com a partida a decorrer, foi admoestado com o cartão amarelo pelo árbitro, por entrar em campo sem autorização do juiz do encontro.

Dos hinos nacionais às músicas comerciais: há de tudo, até beijos a Barthez

Agora, a música. Quem já jogou futebol, ou esteja dentro dos alicerces de qualquer desporto, sabe que muitos dos praticantes optam por ouvir música antes do início de qualquer jogo, seja por motivação ou pura descontração. O panorama do futebol não foge à regra e as superstições entram no quadro de que aqui se fala. Por exemplo, o antigo capitão da República Checa, Tomas Rosicky, recusava-se a cantar o hino nacional em voz alta, devido a ter perdido todos os jogos nas seleções jovens em que o fez.

Mas, não só de hinos se fazem as superstições. O antigo capitão do Chelsea e jogador do Aston Villa, John Terry chegou a confessar que ouviu, durante vários anos, o mesmo disco do cantor Usher no carro antes de cada partida. A seleção francesa também tinha um ritual musical em 1998, tal como muitos o reportaram. Antes de irem para o relvado, os jogadores ouviam a música “I Will Survive”, de Gloria Gaynor, no balneário. Ainda nessa mesma seleção e competição, antes de cada jogo o central Laurent Blanc dava um beijo na cabeça do guarda-redes Fabien Barthez. Resultou? Parece que sim. A verdade é que a seleção gaulesa venceu o Campeonato do Mundo nesse mesmo ano.