Visto da Bancada
Tiago Botelho (nº 245)
2018-03-10 12:30:00
A festa estava estragada, tudo corria mal, os adeptos adversários já celebravam e não se podia beber uma cerveja

O Tiago não quis esperar pelo fim do jogo. Estava perdido. Não havia nada mais a fazer. Faltavam dez minutos para o fim da partida, o Sporting perdia por 2-0 e estava a jogar com menos um jogador. Na bancada destinada aos adeptos do SC Braga já se fazia a festa e os leões viam a Taça de Portugal a fugir. O Tiago convenceu o amigo a deixarem o estádio, não queria ficar preso na saída e ver a festa dos outros. Mal sabia ele que 40 minutos depois estaria de regresso às bancadas para festejar a conquista da Taça de Portugal.

“A noite anterior tinha sido longa”, começou por contar Tiago Botelho, capitão da equipa de futsal Desportivo Operário Rangel, ao Bancada. “Veio um amigo de Londres, uns dias antes, só para ver o jogo e como é normal fomos beber um copo na noite anterior. Mas, como um copo se transformou numa saída que durou a noite toda, lembro-me de estar no Estádio do Jamor, no dia seguinte, com uma enorme dor de cabeça e a apanhar com o sol que estava fortíssimo, mas como quem corre por gosto não se cansa, estava feliz da vida.”

Mas a felicidade do Tiago durou pouco. Cédric Soares fez falta na área do Sporting e viu o cartão vermelho, estavam decorridos, apenas, 14 minutos. Eder converteu o pontapé de penálti e colocou o SC Braga em vantagem. A dor de cabeça que até então se suportava, piorou drasticamente e o sol cresceu ainda mais. A vida começava a complicar-se para o Tiago. E complicou-se ainda mais dez minutos volvidos. É que o SC Braga marcou o segundo, desta feita por intermédio de Rafa. Começava a ser difícil encontrar algo de positivo naquele sofrimento. Era a dor de cabeça que piorava ao segundo. Era o sol que parecia estar a usar toda a sua força só no Tiago. E era o Sporting a perder por 2-0 e com menos um jogador. Para piorar, não se podia beber uma cerveja e ainda faltava mais de uma hora para o jogo acabar.

“Era a dor de cabeça, era o sol, era o resultado e o Sporting que não estava a jogar nada. Do pior”, recordou o Tiago que chegou a representar os leões nos escalões de formação. “A verdade é essa. O Sporting não estava a jogar nada e com menos um jogador era uma questão de tempo. Era esperar pelos 90 minutos e entregar a taça ao Braga. Quando o jogo chegou aos 80 minutos disse aos meus amigos para irmos embora. Evitávamos a confusão, apanhávamos as rulotes sem ninguém e ainda bebíamos uma cerveja, ou duas”, explicou entre gargalhadas.

E assim fizeram. Puseram-se a caminho. E quando já tinham o objetivo em vista, leia-se, a rulote com cerveja, ouviram os gritos de festejos de um golo. “Txiiii… 3-0”, disse o amigo do Tiago. Será? “Ó amigo. Quem marcou?”, perguntaram a um senhor que passava. “O Slimani”, respondeu o homem com uma bifana na mão. O Tiago e o amigo discutiram a estratégia a seguir: “Vamos à rulote, apanhamos uma cerveja e voltamos – aquela viagem não podia ser em vão” -, lembrou o Tiago. E quando estão novamente perto das portas de entrada para o estádio ouvem novos festejos. E desta vez deu para perceber que a festa era verde. Estava empatado o jogo.

O empate durou o tempo de prolongamento e só se desmontou na marcação dos pontapés de penálti. “Voltámos a entrar. Naquela altura já os portões estavam abertos e vimos o prolongamento, os penáltis e a festa”. A festa que meia-hora antes parecia impossível.