Visto da Bancada
Luís Vilar (nº 151)
2017-11-10 12:30:00
Luís Vilar recordou com o Bancada um jogo que marcou o início de uma caminhada que enche de orgulho todos os portugueses

O jogo que hoje recordamos no Visto da Bancada, com a preciosa colaboração de Luís Vilar, está carregado de simbolismo. A vitória de Portugal frente à República da Irlanda (3-0), no Estádio da Luz, não só carimbou a qualificação da seleção nacional para o Euro’1996, como marcou o início de uma caminhada – com alguns avanços e recuos, como são todas as caminhadas de sucesso – que culminou no verão de 2016, com a conquista do Campeonato da Europa, em França.

Até ao momento em que Rui Costa conseguiu fazer a bola viajar, elegantemente, por cima do enorme guarda-redes irlandês, marcando o primeiro golo da seleção nacional na noite de 15 de novembro de 1995, Portugal havia participado em apenas um campeonato da Europa (França’1984) e em dois campeonatos do Mundo (Inglaterra’1966 e México’1986). Daí para cá, a seleção lusa só falhou a presença no Mundial’1998, em França.

Luís Vilar não tem dúvidas da importância que treinadores como Carlos Queiroz, Nelo Vingada e Jesualdo Ferreira tiveram na mudança de paradigma que esteve na base da conquista de 1991, no Mundial de juniores, marcando o futuro de todas a seleções nacionais. É que foi essa equipa, com jogadores como Luís Figo, João Vieira Pinto, Fernando Couto, Paulo Sousa, entre outros, a dar início, com a qualificação para o Euro’1996, a uma era sem igual no futebol português que, objetivamente, teve o ponto alto na conquista do Euro’2016, em França.

“Muita gente não dá o devido valor”, começou por dizer Luís Vilar ao Bancada. “A chegada, ao futebol português, na década de 80, de pessoas do mundo académico, como era o caso de Carlos Queiroz, veio dar início a uma nova realidade no nosso futebol”, explicou o doutorado em Ciências do Desporto, ao Bancada.

"A interação entre o mundo académico e as práticas de treino que teve início na década de 80, com o aparecimeto de treinadores como Carlos Queiroz, Nelo Vingada e Jesualdo Ferreira é ainda hoje um paradigma singular em Portugal, que faz com que sejamos a maior potência mundial na produção de treinadores (per capita) de elevada qualidade", destacou Luís Vilar, alguém que vai dedicando grande parte da vida a investigar questões relacionadas com a performance e a metedologia de treino no futebol.

As conquistas podem até nem ficar por aqui, mas a noite que viu Cristiano Ronaldo levantar a taça, com olhos molhados pelas lágrimas, em pleno Estádio de França, em Paris, já ninguém tira aos portugueses.

Mas vamos ao jogo que nos trouxe aqui.

Luís Vilar recorda um final de tarde chuvoso. Convencer o pai a levá-lo, então com 13 anos de idade, ao Estádio da Luz, veio a revelar-se uma tarefa complicada.

“Não foi fácil convencer o meu pai a levar-me à bola nessa noite. Estava a chover muito. Mas no fim lá o convenci”, revelou Luís Vilar que jamais se esquecerá das bancadas do antigo Estádio da Luz “completamente cheias” e do momento em que se viu a festejar o golo de Rui Costa segundos antes dos demais adeptos que o rodeavam na bancada do terceiro anel, no topo sul. Exatamente atrás da baliza onde foram marcados os três golos.

“Recordo-me que o Rui Costa já tinha tentado o chapéu duas vezes, antes do golo, e quando ele remata, no lance do golo, vi que a bola ia entrar. Eu estava mesmo no enfiamento da jogada. Fui o primeiro a festejar o golo. A bola ainda bate na barra antes de entrar, mas já levava destino certo”, lembrou o diretor-adjunto da Faculdade de Ciências da Saúde e do Desporto da Universidade Europeia.

O sensacional golo de Rui Costa, aos 60 minutos, serviu de bálsamo a uma equipa ansiosa e pressionada para conseguir aquilo que há muito se desejava: Portugal numa grande competição de seleções. Hélder e Cadete viriam a confirmar a grande noite da seleção, então orientada por António Oliveira, e colocaram o resultado no 3-0 final. Portugal estava no Euro’1996 e a aventura estava apenas a começar.