Prolongamento
Vilaverdense vive um sonho: "Agora, venha o Benfica!"
2017-10-16 21:30:00
"Toda a vila está unida em torno do clube", sublinha ao Bancada o presidente, Eduardo Milhão

Vila Verde está a viver um sonho com o histórico feito do seu Vilaverdense, equipa do terceiro escalão do futebol português que este domingo bateu o pé ao Boavista, afastando os axadrezados da Taça de Portugal. Um dia único nos 64 anos de vida do clube, um dia que o presidente, Eduardo Milhão, jamais esquecerá. "Agora, que venha o Benfica!", afirma ao Bancada, ainda contagiado pelo golo apontado por Rafael Vieira ao cair do primeiro tempo. "Toda a vila está unida em torno do clube, toda a gente está satisfeita com o feito do nosso clube. Nunca o Vilaverdense havia ganho a uma equipa do escalão principal", enfatiza o líder do clube do distrito de Braga, que agora sonha com um grande. E se puder ser o Benfica, melhor.

"Não sou racista e não tenho qualquer preferência por um clube da primeira Liga, mas olhando para a nossa terra, na zona de Braga, que tem muitos benfiquistas, gostaria de receber o Benfica até por uma questão de receita. Que venha o Benfica!", sublinha Eduardo Milhão. Na Luz ou em Vila Verde? Nem uma coisa, nem outra. "Teríamos de jogar noutro estádio, pois não temos as condições necessárias para receber um grande. Preferia que fosse em Braga do que no Estádio da Luz". O campo da Cruz do Reguengo, onde joga habitualmente o Vilaverdense, tem capacidade para apenas 950 lugares sentados, explica o presidente dos minhotos. "Quanto muito, contando com o chamado peão, pode levar três a quatro mil pessoas."

Se não for o Benfica, qualquer um dos grandes seria bem vindo, segundo o líder do Vilaverdense. "Receber um grande é o sonho de qualquer equipa. Seria o acentuar da festa, seria a cereja no topo do bolo. A Taça de Portugal dificilmente será para uma equipa pequena e seria uma grande festa receber, Benfica, Sporting ou FC Porto. É sempre honroso receber um dos grandes do nosso futebol."

O treinador, António Barbosa, diz não ter preferência relativamente ao adversário, mas gostaria de jogar na condição de visitado. "Vamos esperar pelo que o sorteio nos vai dar e depois prepararmos a equipa para tentar ganhar", afirma ao Bancada, sublinhando: "Gostaria era de jogar em casa."

Há duas épocas, o responsável técnico do Vilaverdense estava nos regionais, pelo que não tem qualquer dificuldade em admitir que o triunfo frente ao Boavista foi o mais importante da curta carreira. “Não sei se sou o treinador mais feliz do mundo, mas sou feliz por ver a felicidade destes jogadores. Este grupo é especial, o que fizemos é histórico, é o ponto alto da minha carreira. Ficamos muito felizes por dar esta alegria. Foi um marco histórico para toda a vila e espera que não seja o único."

Foi em 2013 que António Barbosa decidiu que queria ser treinador de futebol. "Desempreguei-me precisamente porque desejava ser treinador", conta, sustentando: "Treinar nos campeonatos profissionais é o meu objetivo. Há duas épocas estava no último escalão, a sete da primeira Liga. O Prozis Academy, onde estava, foi o primeiro clube que surgiu do zero e subiu logo de divisão, com vários recordes: mais golos marcados, menos golos sofridos."

A alegria da Taça de Portugal contagiou tudo e todos, mas quer treinador, quer presidente não deixam de lembrar que o grande objetivo do Vilaverdense é outro: chegar à segunda Liga. "Contra o Boavista, soubemos sofrer. É um triunfo, uma vitória inesquecível, mas o mais importante é o foco neste projeto e no objetivo de subir. Podemos sempre sonhar com qualquer equipa, mas estamos concentrados no campeonato e na subida de divisão", refere António Barbosa num discurso que é acentuado por Eduardo Milhão. "O nosso grande objetivo é subir à segunda liga. É esse o nosso objetivo, que é muito difícil. Só duas equipas é que vão subir e espero que a minha seja uma delas", diz o presidente do Vilaverdense. "São 80 equipas para dois lugares", frisa, lembrando o grande investimento de "20/25 equipas". "Estamos na série mais difícil, com o Fafe e o Vizela, que desceram, como adversários."

É neste contexto que António Barbosa enfatiza a importância de a equipa descer à terra e concentrar-se no objetivo primordial da época. "Perdemos a liderença na última semana, pelo que o importante é ganharmos no fim de semana ao Mondinense no sentido de lutarmos pela subida à segunda liga." O Vilaverdense é nesta altura, decorridas que estão seis jornadas, o quarto classificado da série A do Campeonato de Portugal, com 11 pontos, menos um dos que os segundos classificados (Pedras Salgadas e União Torcatense) e menos três do que o líder Vizela. Três vitórias, dois empates e uma derrota, 10 golos marcados e seis sofridos é o saldo da equipa liderada por António Barbosa.

O orçamento para o futebol do Vilaverdense anda na ordem dos 500 mil euros, formação incluída. "Mais de metade do valor é para a equipa sénior", refere o presidente do clube, destacando a ajuda dos patrocinadores. "Temos o apoio de um patrocinador de relevo nacional, que nos ajuda muito. Estamos equilibrados e, por isso, temos a ambição de levar a equipa à segunda liga. Dentro do campeonato em que estamos as infraestruturas podem considerar-se razoáveis, mas numa possível subida teremos de alterar muita coisa."

Um "herói" chamado Rafael Vieira

Um dos trunfos para concretizar o sonho do Vilaverdense é Rafael Vieira, jogador formado no Vitória de Guimarães e que viveu este domingo o momento mais alto da curta carreira ao marcar o golo do triunfo perante o Boavista. "Apareci nas costas do Talocha e tive a felicidade de marcar. Costumo subir nas bolas paradas", recorda ao Bancada o defesa-central, de 25 anos, que apontou o primeiro golo da temporada, precisamente diante dos axadrezados. "É o golo mais importante da minha carreira, um golo histórico, pois é a primeira vez que o Vilaverdense chega à quarta eliminatória da Taça de Portugal, mas espero marcar muitos mais", frisa, admitindo que gostaria de voltar ao clube que o formou. "Sou portista, mas tenho um carinho muito especial pelo Vitória de Guimarães, pois foi lá que fiz a minha formação. Se gostaria de voltar? Claro que sim. Jogar num clube da Liga principal é o meu objetivo."

Questionado relativamente ao sorteio da Taça de Portugal, Rafael Vieira diz não ter preferência quanto a qualquer dos grandes. "São três equipas de nível mundial e não tenho preferência. Claro que o sonho de qualquer equipa mais pequena é jogar contra um dos grandes pois dá visibilidade e é importante em termos financeiros. Mas também seria bom se jogassemos com o Vitória de Guimarães ou com o Braga."

Hummels, defesa-central internacional alemão do Bayern de Munique, que durante muitos anos foi um símbolo do Borussia de Dortmund, é a grande referência de Rafael Vieira que não esquece, no entanto, o veterano Nené, capitão do Vilaverdense que, entre outros clubes, representou o SC Braga, o Desportivo das Aves e o FC Arouca. "Tenho admiração pessoal pelo Hummels. É um jogador com quem me identifico bastante, mas há um jogador da nossa equipa que é um exemplo para todos nós. É o Nené que, apesar de ter 38 anos, parece um miúdo de 20. É o nosso capitão."

Depois da vitória frente ao Boavista, o central do Vilaverdense sublinha que é fundamental manter a mesma atitude no campeonato nacional de seniores. "Não somos os piores por termos perdido com o Mirandela nem agora somos os melhores por ganhar ao Boavista. Há que manter a mesma raça, o mesmo caráter para concretizarmos a nossa grande meta de subirmos à segunda liga."

Um oásis no meio da crueldade dos incêndios

O Vilaverdense é uma espécie de oásis no meio da crueldade dos incêndios que este fim de semana voltou a assolar o nosso país e a que o concelho de Vila Verde não escapou. "A vitória sobre o Boavista foi uma alegria que acabou por ser atenuada por tudo que se passou", refere ao Bancada o presidente do clube sensação da Taça (na foto a discursar). "É uma grande tragédia o que se está a passar em Portugal com incêndios atrás de incêndios". "O distrito de Braga tem sido bastante assolado", lembra também o treinador. "Esperemos que mais ninguém sofra com esta situação, que não haja mais vítimas mortais."

De resto, o clube minhoto fez questão de mostrar solidariedade através de uma mensagem publicada nas redes sociais. "O Vilaverdense está totalmente solidário com todas as pessoas afetadas pelos incêndios que estão a lavrar nesta altura em Portugal. Prestar também as nossas condolências a quem, infelizmente, perdeu familiares. Aos nossos guerreiros, os bombeiros, um forte apreço, já que têm sido, uma vez mais, incansáveis nesta luta."