Prolongamento
Targino, o "bom malandro": Alentejo-Brilho-Benfica-Alentejo
2018-01-16 22:00:00
Manuel Machado e Luís Filipe apresentam-nos o novo reforço do Lusitano.

O bom malandro”. Sem maldade, mas com ternura e amizade. É desta forma que, ao Bancada, o treinador Manuel Machado define Tiago Targino. Lembra-se deste extremo rápido, sorridente e com a pele bem morena, que corria que se fartava, em qualquer das alas? Aos 31 anos, Targino, outrora apontado como um dos mais promissores jogadores portugueses, está de regresso ao nosso país, para jogar no Lusitano Ginásio Clube, de Évora, no distrital alentejano. Poderia era ter sido mais original na escolha do clube... mas já lá vamos.

Antes de qualquer outra coisa, quisemos saber quem é o Tiago João Targino da Silva. Não o jogador, a pessoa. Para Luís Filipe, ex-jogador do Sporting, do Benfica, do SC Braga, entre outros – que partilhou o balneário com Targino – trata-se de “uma pessoa divertida, alegre e com um lado muito brincalhão”. Questionado sobre alguma história curiosa que tenha vivido com Targino, Luís Filipe deixou no ar, entre risos: “Era um rapaz jovem e... bem vivido. Tinha muitas histórias”.

Bem vivido, caro Luís? Aqui há gato... Fomos tirar as dúvidas com Manuel Machado, que assume que Targino nem sempre teve, fora do campo, um comportamento 100% adequado a um jogador profissional de futebol. Ainda assim, garante: “Era um bom miúdo. Sem qualquer maldade. Tinha a tal malandragem, mas eu conhecia-o bem e sempre lhe dei muitos conselhos, durante a carreira”. Luís Filipe lembra que “ele contava muitas histórias... e gostava de fazer os outros rir”, antes de alertar: “Isso também pode ter sido prejudicial para ele porque as pessoas, por vezes, tendem a olhar para um jogador brincalhão e divertido como alguém que não trabalha. Ele tem é de encontrar o equilíbrio entre o momento de brincar e o momento de trabalhar”.

Benfica ali perto. Tão perto...

Ainda um pequeno rapazola, Targino saiu da pacatez e tranquilidade alentejanas – é natural de Beja – para se aventurar no apaixonado e exigente Vitória de Guimarães. “Eu vi-o num jogo de juniores e decidi imediatamente levá-lo para a equipa principal”, recorda Manuel Machado, que explica, ao Bancada, quem é o futebolista Targino: “É um jogador que faz da explosão e da velocidade em espaços longos as principais características. Ataca muito bem a profundidade e o espaço”. Manuel Machado queria comparar Targino a um jogador atual. Sugerimos Gelson Martins e o treinador português diz que têm semelhanças, sim, mas que Targino “não é tanto do pequeno crochê e da pequena finta”. “É mais como Boateng ou o Dramé, que estiveram recentemente no Moreirense. E tal como estes dois, tem um excelente potencial físico. A natureza foi amiga dele”, compara.

Voltamos a Guimarães. O brilho de Targino, no Minho, chegou a ser bem forte e colocou-o na rota do Benfica. O acordo esteve feito e assinado. Metade pago, até. Depois, as trevas. O jogador sofreu uma lesão grave, bastante grave. Há quem diga que nunca mais foi o mesmo e Luís Filipe fala-nos disso. “Por muito que se queira, com uma lesão daquelas não se volta ao nível de antes. Há um défice em relação ao que era antes”, explica.

Targino chegou até a assumir que ponderou colocar as chuteirinhas no armário e sair do futebol. Mas como é que um craque apontado ao Benfica e que chegou a ser um dos destaques das seleções jovens de Portugal (esteve em três torneios de Toulon) acaba, ainda antes dos 30 anos, a procurar um clube modesto que o acolha? Poderia ter chegado a outros patamares? Para Luís Filipe e Manuel Machado, sim: “Tinha capacidade para isso. Numa altura muito boa da carreira foi bafejado pelo azar da lesão”, lembra o ex-lateral, que destaca ainda o fator psicológico, para além do défice físico já explicado anteriormente: “Psicologicamente, o não ter podido ir para um grande clube (Benfica) também pode ter afetado”.

Manuel Machado subscreve: “Não teve uma má carreira, ele teve uma carreira bonita. Mas, com as ferramentas que tinha, poderia ter ido bem mais longe".

Caramba, rapaz, e a originalidade?

Targino abraçou, agora, um novo desafio: o Lusitano Ginásio Clube. E sabe de onde vem o Targino? Vem do Lusitanos. Parece trocadilho, mas não é. Que falta de originalidade, amigo Tiago! O último clube de Tiago Targino foi o Lusitanos, de Andorra, ainda que, nos Pirenéus, o jogador tenha ficado pouco tempo. Tal como no AEL Limassol (Chipre), no Jagiellonia Bialystok (Polónia), no Trofense, no Lobito (Angola) e no Sampedrense (distrital de Viseu).

Com o respeito que o Lusitano - histórico clube eborense - merece, perguntamos: não parece pouco para um Targino com apenas 31 anos? Manuel Machado concorda - "Acho que é pouco, sim. Poderia ter ido mais longe, por aquilo que já falámos" - e Luís Filipe mostra confiança no ex-colega: “Com respeito pelo clube para onde vai agora, acho que ele tem qualidade para muito mais e para outras divisões”.Mas, às vezes, é preciso dar um passo atrás para dar dois passos à frente”, dispara.

Em Évora, o Campo Estrela será, espera Targino, o palco de um possível renascimento de uma estrela. Será esta a última paragem de Targino? Que decida “o bom malandro”.