Rui Pinto está em prisão preventiva para a justiça portuguesa "encobrir" alguns "grandes criminosos" que continuam "aí à solta", acusou Ana Gomes, que não quer deixar o caso cair no esquecimento.

Um dia após a revista Sábado ter revelado que o colaborador do Football Leaks terá espiado magistrados e outras figuras do Estado, a eurodeputada apontou o dedo à "atuação seletiva" da justiça portuguesa, "para ir atrás de uns e encobrir outros".

"Rui Pinto pode ser um delinquente, mas os grandes criminosos estão aí à solta e não vejo as autoridades a atuarem contra eles", afirmou, numa entrevista ao Diário de Notícias.

O que mais tem irritado Ana Gomes é que, ao contrário das autoridades de outros países (como Espanha), Portugal não pediu ajuda a Rui Pinto para combater outro tipo de criminalidade com consequências bem mais pesadas nas contas nacionais, a fraude e a evasão fiscal.

"Eu não sei se Rui Pinto cometeu delitos. É um assunto que a Justiça tem de apreciar. Aquilo que eu sei é que o Rui Pinto é uma pessoa com excecionais capacidades informáticas que colaborou com a Justiça de vários países", salientou.

"Não entendo como é que a justiça portuguesa não lhe pediu colaboração quando outros o fizeram e por causa disso já recuperaram imenso dinheiro, de fuga ao fisco e branqueamento de capitais", insistiu a eurodeputada.

Ana Gomes reiterou que Rui Pinto "é um 'whistleblower', mesmo que tenha cometido alguns delitos", pelo que 2deve ser posto ao serviço do Estado", caso haja vontade política de "ir atrás da grande criminalidade".

Também os advogados do colaborador do Football Leaks afirmaram que o cliente está a ser vítima de uma "perseguição judiciária" por parte das autoridades portuguesas.

"Não há razão legal para manter Rui Pinto na prisão", garantiu Francisco Teixeira da Mota, em entrevista ao Le Monde.

"É espantoso que os dados [sirvam] ​​para criminalizar pesadamente e de forma injusta Rui Pinto, mas não para criminalizar aqueles que são responsáveis, os grandes delinquentes do futebol português", acrescentou William Bourdon.

"Rui Pinto é o alvo de uma perseguição judicial que se explica pelo poder do mundo do futebol português, clubes e agentes. Desde o primeiro momento, Rui Pinto apenas quis esclarecer o mundo e o que ele descobriu ultrapassou os seus piores pesadelos.O que dará lugar dentro de alguns anos a grandes processos de fraude fiscal", concluiu o advogado.