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Relações históricas entre futebol e política em análise no Lisbon Talk
2020-01-30 18:00:00
Berlusconi e Macron entre os casos analisados

Relações históricas entre futebol e política em análise no Lisbon Talk

Lisboa, 30 jan 2020 (Lusa) - O ciclo de conferências Lisbon Talk, organizado pelo Clube de Lisboa, analisou hoje as relações históricas entre a política e o futebol, numa reflexão que incluiu os casos de Sílvio Berlusconi, Emmanuel Macron ou Maurício Macri, entre outros.

O escritor e jornalista Simon Kuper foi um dos oradores da palestra, na qual vincou a "relação muito próxima" entre as duas dimensões, considerando que não se resume apenas a um aproveitamento político de regimes autoritários, abrangendo igualmente democracias. No entanto, desvalorizou o impacto das vantagens obtidas pelos políticos com a associação a feitos desportivos.

"Com Emmanuel Macron, a associação ao futebol não ajudou, porque as pessoas suspeitaram de uma tentativa de aproveitamento pessoal. A verdade é que quatro meses depois da vitória da seleção francesa no Mundial 2018 nasceu o movimento de protesto dos 'coletes amarelos'", afirmou o autor de obras como 'Soccernomics' e 'Football Against the Enemy'.

Apesar do exemplo francês mais recente, Simon Kuper sublinhou que o "futebol é um meio de mensagem muito poderoso" e "um bom método para perceber a sociedade". Ato contínuo, apontou o caso do ex-primeiro-ministro de Itália e ex-presidente do AC Milan, Sílvio Berlusconi, que partiu do futebol para se afirmar no contexto político do seu país.

"Berlusconi passou do futebol para a política com uma metáfora sobre o futebol: 'Decidi ir para o campo'. Então, prometeu transformar Itália como revolucionou o AC Milan, desde que pegou no clube em meados dos anos 80", explicou, relembrando ainda como nos Estados Unidos se viram fenómenos similares: "George W. Bush foi administrador da equipa de basebol dos Texas Rangers antes de ser governador" e, posteriormente, presidente norte-americano.

Nem o atual presidente norte-americano, Donald Trump, foi esquecido na análise, com o colunista do jornal Financial Times a citar a sua ligação ao mundo do 'wrestling' como uma forma de afirmação junto da classe trabalhadora americana, onde esta modalidade ainda tem grande implantação popular.

Por outro lado, identificou a Argentina como "'ground zero'" do aproveitamento do futebol pela política. Partindo da teoria que diz que a ditadura militar de Jorge Videla viciou a seu favor o Mundial de futebol de 1978, passando pela ascensão de Maurício Macri à presidência do país em 2015, após liderar o Boca Juniors entre 1995 e 2007, Simon Kuper admitiu que "o futebol ajudou o Papa Francisco, enquanto fã, a posicionar-se na opinião pública 'como um de nós'".

Igualmente presente na conferência esteve Raquel Vaz-Pinto, professora universitária e investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais, que se centrou na ação da China em relação ao futebol e de como esta ligação assenta numa doutrina de 'soft power' de Pequim a nível internacional.

"Para a elite chinesa e para o Partido Comunista chinês, o futebol é um tema muito importante", observou, indicando o investimento de grandes empresas próximas do regime em clubes europeus como uma manifestação desse 'soft power'. Entre os clubes com laços a Pequim identificou Atlético de Madrid, Wolverhampton, Manchester City e Slavia Praga.

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