Prolongamento
Quatro grandes, uma surpresa e duas enormes desilusões na Liga
2017-08-28 21:20:00
Bancada faz um primeiro balanço de um arranque de campeonato que promete

Bastaram quatro jornadas para o campeonato português ter a habitual configuração com os habituais três grandes nas três primeiras posições, mas com uma nuance substancial em relação à classificação final da época passada: o campeão Benfica está na terceira posição e foi o primeiro dos crónicos candidatos ao título a perder pontos na luta pelo campeonato, graças à ação de um espetacular Rio Ave, que soma precisamente o mesmo número de pontos dos encarnados, fruto de um sensacional começo de prova com três vitórias e um empate.

Tendo em conta que entramos agora na primeira pausa da Liga, o Bancada faz um primeiro balanço de um arranque de campeonato que promete, onde surgem, para já quatro “grandes”, uma enorme surpresa e duas desilusões.

O Sporting é, nesta altura, o líder com 12 pontos resultantes de quatro vitórias correspondentes a 10 golos marcados e um sofrido, contra nove golos apontados e nenhum sofrido do FC Porto, o segundo classificado, com igual número de triunfos. Ou seja, os leões beneficiam do facto de terem mais remates certeiros do que os dragões. Mais três jornadas e teremos o Sporting-FC Porto, agendado para 1 de outubro.

A equipa de Jorge Jesus começou a Liga da melhor forma, mas basta recuarmos até ao início da última época para encontramos registo idêntico: quatro jogos, quatro vitórias, só com uma diferença: 8-1 em golos contra os 10-1 desta época. O descalabro começou na quinta jornada com os leões a perderem em Vila do Conde, frente ao Rio Ave por 3-1. Desta feita, o clube de Alvalade desloca-se a Santa Maria da Feira, onde perdeu na última época e mora uma das equipas sensação.

Jorge Jesus remodelou por completo a defesa (só Rui Patrício e Coates escaparam à revolução, no pleno sentido do termo), mas a equipa não se ressentiu disso. Pelo contrário. Evidencia uma assinalável consistência defensiva com o treinador a apostar cegamente em Patrício, Piccini, Coates, Mathieu e Fábio Coentrão, o seu quinteto de eleição. O registo de um golo sofrido em quatro jogos só é, de resto, superado pela extraordinária performance do sector mais recuado de Sérgio Conceição. Casillas, Ricardo Pereira, Felipe, Marcano e Alex Telles formam uma defesa de betão conforme saltou à evidência este domingo em Braga.

Se a defender o Sporting tem mostrado apreciável consistência, a atacar também tem correspondido. Os leões têm nesta altura o melhor ataque da Liga com dez golos apontados. Apesar do sentido goleador, só quatro jogadores fizeram golos no campeonato: Bas Dost (3), Gelson (3), Bruno Fernandes (3) e Adrien, o único “outsider”, com um remate certeiro.

Na zona central do meio-campo, o conjunto verde e branco não se tem ressentido da ausência de William Carvalho. Este domingo, até jogou sem William e Adrien, com sucesso. Battaglia vem sendo aposta recorrente de Jorge Jesus, que tem em Bruno Fernandes uma preciosa valia em termos técnicos e de polivalência, quer na posição “8”, quer mais adiantado no apoio direto ao ponta-de-lança.

Como resultado de tudo isto, os leões apresentam um registo dominador, com uma média de posse de bola de 57 por cento, conforme pode constatar nos números abaixo.

SPORTING

Posse de bola – média de 57%

Remates – 50

Cantos – 20

Faltas – 70

Cartões amarelos – 6

Se o Sporting tem evidenciado assinalável consistência, o mesmo pode dizer-se do FC Porto. Apenas com uma contratação (Vaná), Sérgio Conceição manteve a estrutura da equipa, apostando no regresso de “proscritos” como Aboubakar, Marega e Ricardo Pereira, que se têm revelado de extrema utilidade.

O internacional camaronês soma quatro golos marcados em quatro jornadas, registo só superado pelo benfiquista Jonas com cinco remates certeiros. Ou seja, não só correspondeu à chamada como fez esquecer André Silva, entretanto transferido para o Milan. Já Marega tem suprido a ausência de Soares por lesão. O maliano também não desapontou respondendo com dois golos no regresso ao Dragão, enquanto Ricardo Pereira relegou o até aqui intocável Maxi Pereira para o banco de suplentes. Óliver ganhou expressão em campo com Sérgio Conceição e é agora o ponto de referência do jogo do FC Porto, todo o universo gira em torno do cerebral espanhol, com Danilo como precioso auxiliar no trabalho de “sapa” do meio campo. Nas alas, brilham os virtuosos Corona e Brahimi.

O treinador do FC Porto tem conseguido aliar a agressividade à criatividade, formando uma equipa acutilante, rematadora, muito mais do que o Sporting (80 contra 50) e consistente do ponto de vista defensivo. De resto, os azuis e brancos são a equipa mais dominadora da Liga, com um registo de posse de bola muito perto dos 60 por cento.

FC PORTO

Posse de bola – média de 59,5%

Remates – 80

Cantos – 36

Faltas – 50

Cartões amarelos – 7

O Benfica é o único dos três grandes que já perdeu terreno neste início de Liga. O empate averbado em Vila do Conde frente ao Rio Ave fez as águias descolarem de Sporting e FC Porto, com menos dois pontos. Nada que seja estranho, aliás, nos arranques de época de Rui Vitória.

Com saídas relevantes como são os casos de Ederson, Nélson Semedo e Lindelof, o treinador do Benfica tem apostado em Bruno Varela, André Almeida e Jardel para colmatar estas faltas. O quinteto defensivo, liderado por Luisão, não tem comprometido, contabilizando apenas mais um golo sofrido do que o líder Sporting.

No meio campo, Filipe Augusto tem sido a solução de recurso para colmatar a ausência do lesionado Fejsa, com Vitória a apostar em Sálvio e Cervi nas alas, tendo o pendular Pizzi como grande referência de toda manobra da equipa.

O empate com o Rio Ave veio atenuar a produção atacante evidenciada até então e que teve maior expressão na goleada de 5-0 aplicada ao Belenenses. Com Jonas em grande, como habitualmente sucede (o brasileiro já é o melhor marcador da Liga com cinco remates certeiros, mais um do que Aboubakar), os encarnados têm em Seferovic uma das grandes surpresas deste início de época. O internacional suíço conta três remates certeiros, os mesmos do sportinguista Bas Dost.

Cabe agora à equipa de Rui Vitória mostrar qual é a verdadeira cara de 2017/18: o Benfica avassalador que goleou o Belenenses por 5-0 e atirou quatro bolas aos postes; ou o Benfica tímido que se sujeitou em boa parte de jogo ao ritmo imposto pelo Rio Ave, num desafio em que conseguiu terminar com posse de bola inferior aos vila-condenses?

BENFICA

Posse de bola – média de 54%

Remates – 66

Cantos – 31

Faltas – 76

Cartões amarelos – 6

É este Rio Ave que finalizou o empate com o Benfica com superior posse de bola que surge como grande sensação deste campeonato, surgindo na quarta posição, com os mesmos 10 pontos dos encarnados, a dois de Sporting e FC Porto.

Miguel Cardoso, em estreia no campeonato nacional, montou uma equipa positiva, sempre com a baliza adversária em vista, com três criativos (Óscar Barreto, Iuri Ribeiro e Francisco Geraldes) atrás do homem mais adiantado (Guedes).

Os vila-condenses até começaram a Liga de forma algo tímida, vencendo o Belenenses com um golo de Francisco Geraldes, arrancando na jornada seguinte um triunfo por 2-1 no Estádio do Bessa, frente ao Boavista. O bom início de temporada ganhou consistência com nova vitória, desta feita, por 2-0, perante o Portimonense. Desta feita, foi Barreto quem esteve em evidência. O empate com o Benfica, em jogo em que até esteve a vencer, mais não faz do que confirmar o início prometedor, ao nível do alcançado por Pedro Martins em 2015/16.

De resto, os números expressam a atitude positiva do Rio Ave perante o jogo. Em todas as quatro jornadas já disputadas, a equipa de Miguel Cardoso registou superior posse de bola, até no encontro com o Benfica. Mais significativo ainda é o facto de em termos absolutos, o onze de Vila do Conde ter mais posse de bola do que o campeão nacional nas quatro jornadas já disputadas: (56 por cento contra 54).

RIO AVE

Posse de bola – média de 56%

Remates – 38

Cantos – 15

Faltas – 65

Cartões amarelos – 9

A outra surpresa da Liga

Em Santa Maria da Feira, mora a outra sensação do campeonato. Responsável pela primeira continuidade do clube nortenho no escalão maior do futebol português, Nuno Manta Santos vai de recorde em recorde.

O treinador, de 39 anos, está a conduzir os fogaceiros naquele que já é o melhor arranque de temporada da história. Em quatro jogos, a equipa azul contabiliza duas vitórias e dois empates. Começou algo tímida com duas igualdades, diante do CD Tondela e do Moreirense, e vai agora em duas vitórias consecutivas: diante do FC Paços de Ferreira e do CD Chaves, perante o qual protagonizou a grande surpresa da ronda, a par do triunfo do CD Tondela em Moreira de Cónegos.

O Feirense é nesta fase o sexto classificado só superado pelos três grandes, pelo sensacional Rio Ave e o consistente Marítimo, fruto de um futebol assertivo assente numa boa estrutura defensiva. O conjunto nortenho sofreu tantos golos quanto o Benfica (2), tendo apontado, no entanto, apenas cinco golos.

A solidez defensiva permite-lhe marcar pouco e angariar muito. Etebo e Tiago Silva, médio ofensivo cedido por empréstimo do Belenenses, têm sido as principais figuras de um onze determinado, que na próxima ronda recebe o Sporting.

FEIRENSE

Posse de bola – média de 49%

Remates – 47

Cantos – 27

Faltas – 74

Cartões amarelos – 9

A grande desilusão

O Vitória de Guimarães é nesta altura a grande desilusão deste início de época. Não tanto por ter perdido, sem apelo nem agravo, a Supertaça para o Benfica, mas pelo exasperante início de época que está a deixar os adeptos à beira de um ataque de nervos. Na retina, ficou a goleada de 5-0 sofrida diante do Sporting, que aos 23 minutos já vencia confortavelmente por 3-0.

A competição maior do futebol português até começou da melhor forma para os minhotos com um triunfo caseiro por 3-2 frente ao GD Chaves depois de terem estado a vencer por três golos sem resposta. Seguiu-se, no entanto, uma copiosa derrota de 3-0 frente ao Estoril, na Amoreira, e a tal goleada perante o Sporting. Na última jornada, os vimaranenses empataram a zero em Paços de Ferreira com a equipa da casa a jogar reduzida a dez jogadores durante todo o segundo o tempo.

Sem a habitual dinâmica, o conjunto liderado por Pedro Martins vem acumulando tremendos erros individuais, que não ajudam o coletivo a desinibir-se. De resto, a instabilidade fica bem expressa no capítulo disciplinar com 11 cartões amarelos e dois vermelhos.

VITÓRIA SC

Posse de bola – média de 52%

Remates – 49

Cantos – 28

Faltas – 72

Cartões amarelos – 11

Cartões vermelhos – 2

A outra desilusão do campeonato tem o GD Chaves como protagonista. Depois de uma excelente temporada na última época, a chegada de Luís Castro fazia antever um campeonato prometedor. Mas até agora o registo é desolador. Um empate e três derrotas correspondentes a somente um ponto conquistado colocam os transmontanos na penúltima posição, a par do último, o recém promovido Desportivo das Aves.

O conjunto flaviense tem-se revelado demasiado inconstante, contabilizando três golos marcados contra quatro sofridos. A derrota caseira com o Feirense por dois golos sem resposta acentuou um começo para esquecer, apesar de a equipa de Luís Castro ter feito sofrer o Benfica até aos últimos minutos, acabando por perder fruto de um golo obtido por Seferovic nos minutos de compensação.

O aspecto disciplinar tem-se revelado uma lacuna da equipa de Trás-os-Montes, que já soma 10 cartões amarelos e um vermelho. Pior, neste particular, só mesmo o Vitória de Guimarães, a outra desilusão deste início de época.

GD CHAVES

Posse de bola – média de 52%

Remates – 46

Cantos – 26

Faltas – 53

Cartões amarelos – 10

Cartões vermelhos – 1

A confirmação da Liga

Por entre as desilusões, há uma confirmação: o Marítimo. Depois de uma excelente temporada em 2016/17 que a conduziu à Europa, a equipa liderada por Daniel Ramos volta a mostrar argumentos, pese embora a saída de jogadores importantes como Raúl Silva, Fransérgio ou Dyego Sousa. Consistentes, muito forte do ponto de vista tático, os madeirenses ocupam a quinta posição com nove pontos, a um de Benfica e Rio Ave, fruto de um sofrido triunfo obtido esta segunda-feira em Portimão com Ricardo Valente, em excelente início de época, a decidir já nos minutos de compensação.

O conjunto de Daniel Ramos soma apenas dois golos sofridos: na única derrota da Liga, verificada no Restelo, diante do Belenenses, e na última ronda perante o Portimonense, mostrando enorme consistência mesmo tendo em conta as muitas entradas no grupo de trabalho. Os números indicam que o conjunto insular opta normalmente por ser mais expectante. Ainda esta segunda-feira, só teve 41 por cento de posse de bola em Portimão, mas saiu com os três pontos. Em quatro jornadas soma três triunfos e uma derrota. 

MARÍTIMO

Posse de bola – média de 47%

Remates – 31

Cantos – 11

Faltas – 66

Cartões amarelos – 6