Rui Santos, comentador da SIC Notícias, saiu ontem em defesa de Ana Gomes num diferendo que envolve o Benfica e o PS, chegando mesmo a afirmar que os encarnados "exploram as fragilidades das instituições" e o Governo "borra-se de medo".
Na partida para este comentário, no 'Tempo Extra', estava o relatório da União Europeia já citado por Ana Gomes, que deixou publicamente no ar a hipótese da transferência de João Félix poder ser uma operação de lavagem de dinheiro.
Essa alusão irritou o Benfica, que exigiu explicações ao PS. E o Partido Socialista, segundo Rui Santos, "borrou-se de medo".
"O PS, perdoe-se-me a expressão, borrou-se de medo. Borrou-se de medo. Esteja o Benfica em causa ou o FC Porto ou Sporting. Este é que é o problema, ninguém está a cumprir com as suas funções", afirmou.
Esse relatório da União Europeia "diz que a organização complexa do futebol profissional e a sua falta de transparência criaram um terreno fértil para o uso de recursos ilegais".
"Quantias avultadas de dinheiro estão a ser investidas neste desporto sem aparente retorno financeiro explicável", citou Rui Santos, questionando as posições de Benfica e PS perante as denúncias feitas por Ana Gomes.
"O que eu esperava era que o Benfica dissesse que não tem nada a ver com isto, mas mais, que dissesse que quer ter um papel ativo e saber se há lavagem de dinheiro no futebol. É um problema de responsabilidade social e o Benfica devia ter problemas com isso. O Benfica, quando vê que alguém é incómodo, vai em cima e cria condições para isolar essa figura. O que esperava do Partido Socialista era a mesma coisa, dizer que quer apurar a verdade. O que fez o Partido Socialista? Um exercício de genuflexão, ajoelhou-se completamente. O Benfica explora as fragilidades do país, está a explorar as fragilidades das instituições em Portugal. Isto é dramático, não põe em causa o Benfica, isto põe em causa o país, a capacidade de decidir contra os interesses do futebol", reforçou.
Rui Santos insistiu que não existe nenhum conflito entre Ana Gomes e Benfica, lembrando que a ex-eurodeputada "nunca apontou diretamente o nome" do clube, embora tenha apontado "o dedo a Luís Filipe Vieira por outras razões"
"O relatório da União Europeia caba por identificar o futebol profissional como um setor que pode suscitar branqueamento de capitais ou lavagem de dinheiro, para lembrar a alusão feita por Ana Gomes. Ela tem uma vantagem, não liga para o jogo, não precisa dos favores do futebol. Os favorzinhos do futebol interessam a muita gente, a ela não, é uma coisa singular. Dá a sensação que as pessoas estão prisioneiras das relações que estabelecem com os clubes de futebol", insistiu.
Rui Santos lamentou que o tema, sendo de tamanha gravidade, passe ao lado de praticamente toda a gente: "Eu vejo o país de cócoras, completamente de braços cruzados. Os políticos estão preocupados com as eleições de outubro, não pode ser. Tem que haver alguém que olhe para os interesses do país e que não se sinta atemorizado com os poderes do futebol. Dá a sensação de que não há contribuintes em Portugal, só há adeptos".