Prolongamento
Nomes e alcunhas do futebol: por cá, há de tudo. Até Beijinhos
2017-12-30 20:00:00
Uma viagem pelos melhores nomes e alcunhas dos campeonatos nacionais.

Este é um texto sobre nomes do futebol. Os mais engraçados, os mais bizarros, as alcunhas mais curiosas e até aqueles nomes que aguçam a malandrice. Ao Bancada, alguns destes jogadores, como o Bobô, o Beijinhos e o Zola, explicaram as suas alcunhas. A ler mais à frente.

Para já, puxe a sua Manta (Feirense), meta Lenho (Aves) no seu Foguinho (Chaves), pegue num Chocolate (Águeda) quente, numa Banana (Cesarense) ou até numa Corona (FC Porto) - nunca beba cerveja com Palhinha (Sporting) - e desfrute dos Prazeres (Sanjoanense) de um artigo que, por Wakaso (Guimarães), é bem capaz de resvalar para o Bizarro (Coimbrões) e até, talvez, para o Estupiñan (Guimarães). Cervi (Benfica), para si?

Mas tenha Paciência (Vitória de Setúbal) connosco. Seja Manso (Alcanenense) e, se não achar Graça (Estoril), tenha Peña (Moreirense) de um pobre jornalista que ainda não está Xéxé (Sporting Ideal) e cujo Papel (Moreirense) é compilar o que de melhor há nos nomes do futebol português. E não se preocupe porque não cairá no conto do Vigário (Vitória de Guimarães): todos estes nomes existem mesmo nos campeonatos nacionais.

TPC: terras, países e cidades

Quem nunca teve de pensar em TPC a jogar ao “Stop”? Para os amantes do futebol, esta categoria é fácil. Braga, Diogo Viana, Mário Felgueiras, João Coimbra, Gouveia, Fábio China, João Góis, Washington, Maranhão, Cádiz ou até Rúben Lima são apostas que podem valer 20 pontos.

Alguma vez teve a categoria “religião” no jogo do “Stop”? Provavelmente, não. Se isso um dia lhe passar pela cabeça, fica já aqui com trunfos de ouro: Jorge Jesus (Sporting), Tiago Mesquita (Boavista), João de Deus, Fabrício Messias (Portimonense), Lázaro (Vitória de Setúbal), Mateus (Boavista) ou Evangelista (Estoril). Depois diga que não somos simpáticos...

Música e filmes? Também ajudamos. James Arthur delicia as adeptas do São Martinho. Elvis, não o Presley, canta e dança no Armacenenses, mas também há um Bob (que, até ver, não é Marley nem Dylan), em Alcanena, um Djavan, no Chaves, e até um Prince temos, no Marinhense. No Caldas, há um Tarzan pronto a protagonizar um filme que tem dois candidatos a realizador: será o João Botelho do Coruchense ou o do Operário? E nem desenhos animados faltam, com patrocínio do amigo Ruca (Tondela) e do simpático Vitinho (Ferreira de Aves).

Só para maiores de 18 

Atenção que nem todos podem ler isto. Para os mais malandros, há nomes que, de imediato, tresandam a piada Intima (Chaves). Em Guimarães, mora um Konan, que não é tão óbvio como o Coito, do Casa Pia, o Pina, do 1º Dezembro, ou o Bobô, do São Martinho.

É que, em Portugal, muito santos somos nós. Veja lá que, na Áustria, não têm vergonha de ter um seleccionador chamado Franco Foda. Mas adiante. Ainda na malandrice, mas mais sofisticada, podemos destacar o Mama Baldé (Aves) - sem vírgula entre os dois nomes -, o Minhoca (Paços de Ferreira), o Pilar (Pinhalnovense) ou o Gonçalo Agrelos (1.º Dezembro).

Mas voltamos ao Bobô, do São Martinho. Em Portugal, esta alcunha não é parca em malandrices, mas há que notar que o acento desta palavra é circunflexo, o que afasta, para os mais rigorosos, as conotações mais maldosas. É que a proveniência deste nome é totalmente inocente e puramente futebolística. Quem o diz é o próprio jogador, ao Bancada. “Havia um Bobô que jogava muito, no Bahia (Brasil). O meu irmão, a ver-me jogar, quando eu era criança, achou a maneira de jogar muito parecida e passou a dizer ‘cuidado com o novo Bobô’. E fiquei Bobô”. Vá, deixe lá a malandrice, que o homem foi buscar isto ao futebol brasileiro.

A natureza tão bela

O que mais bonito há do que celebrar as maravilhas da natureza? No futebol, a natureza e os animais são respeitados, oh se são! Em Braga, há dois talentosos Horta, com Batatinha (Gil Vicente) pronta a colher, enquanto, no Restelo, já há algum tempo mora um Miguel Rosa. Rosa com Espinho (Boavista), claro. Mais óbvios, mas também respeitosos para com a mãe natureza, são os Oliveiras, os Pereiras, os Ramos e até os Rocha. Ou o amigo Rochinha, do Boavista.

No reino animal, a lista é extensa. Coelho (Oliveirense), Pintassilgo (Varzim), Grilo (Santa Clara), Barata (Trofense), Macaco (Canelas), Gazela (Benfica Castelo Branco), Carrapato (Coruchense), Zangão (Mirandela), Pulga (Pedras Rubras), Formiga (Guimarães B), André Leão (Paços) – com uma grande Jubal (Vitória de Guimarães) – ou Carraça (Boavista) fazem o que podem para sobreviver, enquanto, no Aves, há competição direta: a lutar pelo poleiro do Diego Galo há dois animais parecidos: o brasileiro Falcão e o argentino Falcone.

E uma bruxaria do Nhaga, vai?

Nada como dar nome de estrela a um pequeno que acaba de nascer. Martin Luther King Simões marca golos no Minho, pelo São Martinho, e teve a sorte de celebrar o ativista americano por inteiro. Martin Luther Chibambo, do Águeda, fá-lo pela metade. Ainda nos states, há o José Obama, do Bragança, enquanto Gil Eanes, do Águias do Moradal, Rossi, do Boavista, ou Nélson Piquet, do Amarante, são relembrados pelas conquistas navegadoras e no desporto motorizado.

Mas há mais. E melhor. Muito melhor. Num contexto bem atual, as alegadas e bizarras relações entre o Benfica e o bruxo Nhaga perdurarão na nossa memória por mais algum tempo. Pelo menos, há quem tente fazê-lo. Lane Nhaga, do Pedras Salgadas, e Daniel Nhaga, do Beira-Mar de Almada, espalham bruxarias pelos relvados do Campeonato de Portugal e, caso subam para os campeonatos profissionais, dificilmente se livrarão das piadas.

Que desilusão, oh Zola! 

Nomes que celebram o futebol? Isso sim, é um Mundo sem fim. Há crianças que nascem já com nome de jogador (razões familiares ou até homenagens) e outros há que adquirem as alcunhas dos seus ídolos, na juventude. Na Liga Portuguesa, há para todos os gostos. Jardel, o central do Benfica, Patrick Vieira, o lateral do Vitória de Setúbal, ou Platiny, o avançado do Chaves, nasceram já com nome de craque, mas não jogam nas posições daqueles que celebrizaram a sua graça. O mesmo podemos dizer de Zainadine, que talvez quisesse ser Zinedine Zidane (ai ai, os enganos no registo...). Yazalde, avançado do Rio Ave, já nasceu Yazalde. Só lhe faltam... os golos do primeiro Yazalde. Temos ainda Bebeto ou Pelé, que o foram, provavelmente, em homenagem aos grandes craques brasileiros. Cuidado com os exageros!

Na Segunda Liga, mora um Ballack, na Cova da Piedade, ou um Mathaus, na Oliveirense, mas é no Campeonato de Portugal que surgem as verdadeiras homenagens: Fabien Capello (como ???), Rooney, Fábio Zola, Gutti, Bosingwa, Asprilla, Bruno Messi, Materazzi, Iniesta ou João Miccoli tentam não deixar os créditos por mãos alheias.

Zola, pelo menos do que sabe, não vem do fantasista italiano. “Já vem da família do meu tio, que também jogou futebol”, explica Fábio Zola, da Oliveirense, ao Bancada. Bolas, Fábio, que desilusão.

Pequenos e grandes

No futebol, há jogadores grandes e jogadores pequenos. E há jogadores cujo nome mostra logo, sem dúvidas algumas, se se trata de um homem grande ou um mais pequenito.

Nos gigantones, não podemos deixar passar o Marcão (Rio Ave), o Valentão (Sporting Ideal) – caramba, este não deixa mesmo dúvidas –, o Luisão ou a dupla de centrais do Vitória de Guimarães: o Pedrão e o Valente. E para meter respeito ainda há o Reisinho (Guimarães B) ou até o verdadeiro Patrão (Chaves).

Nos pequenitos, a amostra é ainda maior. O Edinho, que nasceu Arnaldo, até nem é propriamente pequeno, tal como o Petit, que nasceu Armando. Já o Canina (Estrela Vendas Novas), o Betinho (União da Madeira), o Gabrielzinho (Rio Ave), o Leandrinho (Rio ave), o Costinha (Vitória de Setúbal), o Raphinha (Vitória de Guimarães), o Paulinho (o do Portimonense ou o do Chaves) ou o Pedrinho (Aves) fazem jus aos diminutivos. E não, não nos esquecemos do Marco Baixinho, do Paços de Ferreira, ele que, afinal, tem... 1,87m. 

Onde é que os teus pais foram buscar isso?

Dráusio (Marítimo) e Cleylton (Belenenses), onde é que os vossos pais foram buscar isto? Não se riam, Reinildo (Covilhã) e Maurides (Belenenses), que não estão melhor. Nem vocês, Fransérgio (SC Braga) e Hêndrio (Tondela).

Os nomes estrangeiros trazem muito talento, mas também demasiadas consoantes. Miskiewicz, Podstawski e Ristovski dão-nos água pela barba, mas também há coisas bem giras: ora experimente lá dizer alto Quiñonez (lê-se “Quinhonez”), Abubu, Bouba Saré, Tandjigora e Agbenyenu. Já Tozé Marreco (Académica) e Tomané (Tondela) não deixam dúvidas da sua costela tuga, enquanto o Chileno (Operário), o Angola (Mirandela) e o Alemão (Oliveirense), nem tanto.

Algumas notas soltas: Ventosa (Mafra), que se cola aos adversários, Hugo Seco (Feirense), que seca os avançados, Petrolina (Aves), que vende caro o barril, e o Barbeiro (Real SC), que lhe trata da parte capilar, não poderiam ficar de fora. Tal como o Janota (Tondela), sempre arranjadinho, e o Jean Sony (Feirense), o homem da tecnologia. Nota ainda para o guarda-redes São Bento (Covilhã), que quererá meter o comboio à frente da baliza, enquanto o Defendi (Paços de Ferreira) opta pelo método tradicional de um guardião.

Já encheu o Sacko (Guimarães B) com este Monte (Rio Ave) de nomes e trocadilhos? Sim, isto foi um bocado Marado (Ferreira de Aves) e tira qualquer Pessoa (Portimonense) do sério, mas está quase a acabar. Como queremos deixá-lo Feliz (Famalicão), terminamos com uma parte fofinha. Bem fofinha mesmo.

Em Mondim de Basto, mora uma das melhores alcunhas do futebol nacional. Vítor Teixeira, defesa do Mondinense, do Campeonato de Portugal, é mais conhecido por “Beijinhos”. Isso mesmo, Vítor Beijinhos. Ao Bancada, o jogador explica de onde vem o nome. “Já vem do meu irmão, que é mais velho. Desde miúdo, fiz a formação no mesmo clube que ele, então fiquei Beijinhos Júnior”. Mas de onde vem isso, caro Vítor? "Acho que era por ele mandar Beijinhos às raparigas".

Beijinhos para si e umas boas entradas.