Prolongamento
Na Europa, jogar segunda mão fora é uma desvantagem tal como empatar 0-0 em casa
2017-08-20 20:30:00
O Bancada analisou cerca de 2000 eliminatórias europeias e apresenta as conclusões. À atenção do Sporting

A equipa que joga a segunda mão em casa tem vantagem nas competições europeias e as equipas que empatam a zero, em casa, na primeira mão, como fez o Sporting frente ao Steaua, têm menor probabilidade de seguir em frente do que o seu adversário. Ainda assim, a eliminatória está totalmente em aberto. Estas são as conclusões da análise do Bancada aos resultados de 1954 eliminatórias: todas as eliminatórias e pré-eliminatórias das competições europeias nas últimas dez épocas.

Jogar a segunda mão fora é uma desvantagem

Em 1954 eliminatórias, a equipa que jogou a segunda mão em casa passou 1045 vezes (53,5%). Caso a ordem dos jogos em casa e fora fosse indiferente, seria de esperar que houvesse 50% de vitórias para cada lado. Assim, pode concluir-se que é vantajoso começar as eliminatórias a jogar fora. A diferença entre 53,5% e 50% pode parecer pequena, mas é estatisticamente significativa, devido ao elevado número de casos analisados.*

Sabendo isto, a UEFA, nos oitavos de final da Liga dos Campeões e nos 16-avos da Liga Europa, dá essa vantagem às equipas que ficam em primeiro nos seus grupos. Além de saberem que defrontarão uma equipa que ficou em segundo lugar no grupo, sabem que jogarão a segunda mão em casa. Por essa razão, as eliminatórias dessas rondas não foram consideradas neste estudo, já que nesses casos, a ordem dos jogos não é sorteada.

Se considerarmos apenas eliminatórias e pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, a vantagem de jogar fora na segunda mão parece ser ligeiramente superior. Em 506 eliminatórias nos últimos dez anos, a equipa que foi colocada nessa situação passou 284 vezes (56,1%).

Note-se que, embora os números comprovem a vantagem de jogar a segunda mão em casa, estamos a falar de valores próximos dos 50%, o que significa que esta vantagem muitas vezes não é determinante.

Outro estudo (de 1955 a 2006), a mesma conclusão

Um estudo publicado no “Journal of Sports Sciences” (Page e Page, 2007), que analisou 6084 eliminatórias das competições europeias entre 1955 e 2006, chegou à mesma conclusão que o Bancada: há vantagem de jogar a segunda mão em casa. No total, a equipa que começou por jogar fora na primeira mão, passou a eliminatória em 54,98% das ocasiões, o que é uma diferença estatisticamente significativa para 50%.

Este estudo olhou também para os casos em que os jogos foram a prolongamento e ao desempate pela marcação de pontapés de penálti. Curiosamente, nesses casos, a vantagem para a equipa da casa é ainda mais evidente.  Das eliminatórias que foram a prolongamento, como acontecerá caso Sporting e Steaua empatem a zero esta quarta-feira, a equipa que jogou a segunda mão em casa passou em 66,4% das 186 vezes. Nas eliminatórias que tiveram de ser resolvidas nos penáltis, a equipa visitada sorriu no final em 57,33%  dos 148 casos.

Empatar a 0-0 em casa na primeira mão é um mau resultado

Após o empate a zero na primeira mão, Jorge Jesus lembrou que jogar fora tem uma vantagem: “Acho que está tudo em aberto para o Sporting. Neste momento temos um fator de vantagem, que é o fator que o Steaua tinha aqui em Lisboa, marcar um golo poderia valer dois em caso de empate. Também teremos essa vantagem quando jogarmos em Bucareste”, afirmou.

Tratando-se efetivamente de uma vantagem, a regra dos golos marcados fora não compensa a desvantagem de jogar no terreno do adversário. Nas 2194 eliminatórias dos últimos dez anos (aqui contando também com as dos oitavos da Liga dos Campeões e 16-avos da Liga Europa), registou-se um empate a zero na primeira mão em 203 ocasiões, como aconteceu ao Sporting na última terça-feira. A análise do Bancada a todos esses jogos mostra que o 0-0 mantém a eliminatória em aberto, mas favorece ligeiramente as equipas que conseguiram o empate fora, que seguiram em frente na eliminatória por 116 vezes (57,1%). Mais uma vez, esta diferença é estatisticamente significativa.**

Nas eliminatórias e pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, empatar a zero fora de casa parece ser ainda mais valioso. Nas 60 ocasiões em que tal aconteceu nos últimos dez anos, as equipas que empataram fora conseguiram depois resolver a eliminatória a seu favor em 41 das vezes (68,3%). Há, no entanto, que ter em conta que, neste caso, o número de jogos que temos como amostra é bastante mais reduzido do que nos casos anteriores, o que reduz a certeza das conclusões que se podem retirar.

Compete agora ao Sporting mostrar que o (pequeno) azar de ter de jogar a segunda mão fora de casa e o mau resultado obtido na primeira mão são perfeitamente ultrapassáveis.

* Para testar se a diferença entre 53,5% e 50% é estatisticamente significativa, foi utilizado o z-test para proporções. O valor obtido de Z foi de 3,08, o que corresponde a um p-value = 0,001. Significa isso que, se assumirmos que a ordem dos jogos é indiferente e, portanto que a percentagem de vezes que cada equipa passa “deveria” ser de 50%, a probabilidade de obtermos um resultado como o obtido (53,5%) ou ainda mais distante, com uma amostra de 1954 casos, é de apenas 0,1%.

** Para testar se a diferença entre 57,1% e 50% é estatisticamente significativa, foi utilizado o z-test para proporções. O valor obtido de Z foi de 2,04, o que corresponde a um p-value = 0,021. Significa isso que, se assumirmos que empatar 0-0 na primeira mão deixa ambas as equipas com iguais hipóteses, a probabilidade de obtermos um resultado como o obtido (57,1%) ou ainda mais distante, com uma amostra de 203 casos, é de apenas 2,1%.

Referência:

Lionel Page e Katie Page. "The second leg home advantage: Evidence from European football cup competitions." Journal of Sports Sciences 25.14 (2007): 1547-1556.