Prolongamento
"Leões" famintos por voltar a colocar Faro no mapa dos campeonatos profissionais
2017-10-15 21:00:00
O Farense foi "tomba-gigantes" na Taça de Portugal, lidera a Série E no Campeonato de Portugal e quer voltar à elite.

“São jogos destes que fazem falta em Faro.” Tarde solarenga na capital algarvia, bem ao estilo do tempo com que a região nos brinda continuamente, e a festa da Taça no Estádio São Luís. Assim foi este domingo na receção do Farense ao Estoril-Praia, jogo que culminou com triunfo caseiro e com os Leões de Faro a seguirem em frente na prova rainha do futebol português. Afastado há 15 anos do principal escalão, o clube tem como objetivo prioritário para esta época a subida à Segunda Liga e a médio-prazo vislumbra-se a meta do regresso à elite nacional. Mas, um passo de cada vez...

Recorda-se da citação que começou este texto? Pois bem, foi salientada pelo treinador do Farense, Rui Duarte, em conversa com o Bancada. A equipa algarvia tinha alcançado a façanha de “tombar um gigante” da Primeira Liga há poucas horas, mas o timoneiro dos Leões de Faro colocou de parte a visão do Jamor e apontou todo o foco às metas definidas a priori para a temporada. “Tudo o que nos calhar em sorte nesta competição iremos sempre dar o nosso melhor para seguirmos em frente, seja contra quem for. Mas, o nosso foco é o campeonato. Estamos num campeonato [Campeonato de Portugal] difícil, porém queremos voltar aos campeonatos profissionais. Este é um clube centenário, no qual as pessoas respiram futebol e queremos - até pelo passado recente de tardes de glória no São Luís – rapidamente voltar a esses patamares. O foco nunca poderá ser desviado para outra competição que não seja o campeonato.”

Quem corrobora esta ideia é o próprio vice-presidente do Farense, António Correia, que foi mais além e revelou ao Bancada o objetivo a médio prazo de voltar a colocar Faro no mapa do futebol do principal escalão português. “O nosso horizonte médio é subir à Primeira Liga. Apostámos tudo esta época para voltar à Segunda Liga. Só queremos parar na Primeira Liga”, começou por vincar o presidente do conjunto algarvio, mantendo ainda assim os pés bem assentes na terra. “Nós assumimos a subida como objetivo principal para esta época. Na Taça, vamos até onde for possível e conforme a sorte o ditar. Mas, o futebol é o futebol. Por enquanto está a correr bem, estamos em primeiro lugar”, rematou António Correia em declarações ao Bancada.

Nos próprios jogadores do clube, reina o sentimento de dever cumprido neste domingo e também o semblante de subir de escalão como principal objetivo. Assim o referiu António Livramento ao Bancada. “É sempre bom ganhar a uma equipa da Primeira Liga e motivador para mim relembrar velhos palcos em que joguei. O futebol é uma mistura de qualidade com sorte, ou seja, a estrelinha. A meta para nós na Taça é ter a sorte de receber as equipas sempre no São Luís, pois em casa batemo-nos de igual com qualquer equipa. Em relação ao campeonato, não há dúvidas de que temos tudo para subir este ano, plantel temos, agora é trabalhar jogo a jogo. Para mim, temos o melhor plantel do Campeonato de Portugal”, salientou Livramento.

Neca partilha dessa mesma ideia, mas aproveitou para lançar ainda o desafio aos grandes do futebol português, caso um deles venha a calhar no caminho do Farense na prova rainha. "Muito importante esta vitória frente ao Estoril-Praia, uma equipa da Primeira Liga. Vai dar à equipa uma maior confiança para o futuro. Na Taça, o objetivo é chegar o mais longe possível e jogar contra um grande iria ser bom para os jogadores sentirem a adrenalina desse encontro. O nosso foco é, sem dúvida, o campeonato, porque o grande objetivo é colocar o farense na Segunda Liga."

Crédito: Sporting Clube Farense Facebook.

Quando se fala em objetivos aponta-se ao futuro, mas falemos agora de presente. Uma grande penalidade cobrada de forma exímia por Jorge Ribeiro deu uma vitória por 1-0 sobre o Estoril-Praia este domingo e o Farense selou o destino de marcar presença na quarta eliminatória da Taça de Portugal. Um resultado que causou espanto à generalidade da imprensa desportiva portuguesa, mas que Rui Duarte já perspetiva que pudesse acontecer.

É um feito enorme porque é contra uma equipa de Primeira Liga. Mas, eu no lançamento do jogo disse que tínhamos uma palavra a dizer na eliminatória e veio a confirmar-se. Somos uma equipa personalizada, com caráter. Temos as nossas ideias e foram postas em prática.” Assim o referiu o treinador dos Leões de Faro, que explicou em que consistiu o triunfo. “A equipa soube ter bola e gerir o jogo. Fomos recompensados com uma vitória que deixa todos muito contentes, os adeptos, a claque, o público em geral. Deixa um sentimento de dever cumprido, pois tínhamos a noção de que era possível”, atestou Rui Duarte.

Livramento, Neca, Jorge Ribeiro… a experiência é fator determinante para o sucesso

Sendo o desporto rei pautado por várias vicissitudes, a experiência é um dos fatores mais cruciais no futebol, principalmente quando uma equipa pretende misturar essa mesma conjuntura com a juventude. Assim é o caso da equipa de atua no São Luís. O Farense conta no plantel com alguns jogadores que contam já com vasta experiência no futebol de competição ao mais alto nível, que já passaram inclusive pela Primeira Liga, por outros campeonatos e até pela Seleção Nacional.

Rui Duarte considerou que a experiência é uma benesse, mas também uma responsabilidade para jogadores como Neca, António Livramento ou Jorge Ribeiro. “O facto de serem importantes na equipa também faz com que tenham a responsabilidade de indicar o caminho aos mais novos, porque é importante os jogadores mais jovens que chegam ao plantel sénior e ao Farense terem as suas referências e olharem para o lado e estarem com jogadores que já estiveram noutro patamar, noutros campeonatos, inclusive seleção. E quando eles próprios são os primeiros a querer trabalhar, ajudar, ganhar, isso faz com que o grupo e todos os jogadores os siga. O caminho é esse. É muito bom ter jogadores desses no plantel.”

Livramento, então com 20 anos, fez parte do plantel do Farense na época em que a equipa esteve pela última vez no principal escalão do futebol português e tem agora um papel diferente daquele que tinha em 2001/02. “O meu papel dentro do grupo é importante, pois tenho que passar a minha experiência para os mais novos, e também é motivador ver que os mais jovens ainda esperam e confiam muito em mim. Por exemplo, quando os jogos estão difíceis eles pedirem para eu resolver, como foi neste. Sinto-me muito bem mesmo”, considerou o médio de 35 anos em declarações ao Bancada.

Neca, com vários anos de futebol de Primeira Liga e inclusive chamadas à Seleção Nacional, salientou igualmente o fator decisivo da experiência no plantel. "Tento passar toda a minha experiência de muitos anos de profissional e passar a máxima confiança para que as capacidades deles [jogadores mais jovens] venham ao encontro do que a equipa precisa", referiu ao Bancada.

O próprio treinador da equipa já passou pelos relvados e enquanto jogador representou Farense, Olhanense, Estrela da Amadora, Leixões, Naval, Belenenses e Os Sadinenses. Vasta experiência no principal escalão do futebol português que Rui Duarte pretende incutir no plantel do conjunto de Faro. “Acima de tudo, tento passar aquilo que são as minhas ideias, a forma como vejo o futebol, como joguei e estou a tentar que eles joguem da mesma forma que eu o via. Tenho a sorte de ter um grupo muito inteligente, que percebe o jogo, com muita personalidade e qualidade, o que torna as coisas mais fáceis. Temos sido bastante competentes, estamos no caminho certo, mas não é esta vitória que nos pode pôr em bicos de pés, antes pelo contrário, traz mais responsabilidades já para o próximo jogo em que temos que conseguir os três pontos para continuar no nosso objetivo.”

Crédito: Sporting Clube Farense Facebook.

Adeptos, claque, apoio… assim são as tardes no São Luís

Cidade de paixões, o amor de Faro pelo “clube da terra” é inegável e o apoio em massa dos adeptos ao Farense é presença constante nos compromissos da equipa, sejam no Estádio São Luís ou fora de portas. Assim o confirmou o treinador Rui Duarte. “Nota-se algum entusiasmo à volta da equipa, mas que acaba por ser um pouco normal, porque se há característica que este clube tem é que, seja onde for, nos Açores, na Madeira, ou no estrangeiro, teremos sempre lá alguém para nos apoiar e isso tem-se verificado nestes anos. Temos uma claque [South Side Boys] fantástica, que apoia o clube incondicionalmente.”

O timoneiro dos Leões de Faro considerou também que o início de época positivo - com a liderança na Série E do Campeonato de Portugal e estes triunfos na Taça de Portugal - tem sido benéfico ao ambiente em torno do clube. “Os resultados ajudam ao entusiasmo: estamos em primeiro na nossa série, somos a equipa com melhor ataque e menos batida do campeonato. Isso traz-nos responsabilidade porque isto não acaba aqui, queremos chegar ao que nos propusemos no início do campeonato, que é subir de divisão. Os adeptos são bastante importantes para esse processo e nós temos perfeita noção disso mesmo. Iremos fazer sempre tudo para dignificar a camisola e para que eles saiam sempre satisfeitos do estádio”, salientou Rui Duarte.

A queda em 2002 e a travessia pelo deserto

Após 12 épocas consecutivas entre a elite do futebol português, a temporada 2001/02 marcou a última presença do Farense no principal escalão. Com uma equipa que tinha no plantel Bruno Alves, Hassan, António Livramento, Fábio Felício, entre outros, a turma de Faro terminou o campeonato na 17.ª posição e desceu à Segunda Liga. Desde aí, foram três épocas consecutivas a cair de divisão, numa crise profunda que parecia não ter fim.

Em 2006/07, após um período pautado por dificuldades financeiras, o Farense “renasceu” na Segunda Divisão Distrital do Algarve e em duas temporadas subiu à Terceira Divisão. A partir daí, os “Leões de Faro” já conseguiram subir à Segunda Liga por uma vez, em 2013, e por lá estiveram durante três temporadas, mas não conseguiram subir à Primeira Liga e desceram de divisão. O futuro? Como já foi referido, passa pelo regresso de Faro ao mapa do principal escalão nacional.