O juiz Paulo Registo, sorteado para o processo Football Leaks, apresentou hoje um pedido de “escusa de intervir na tramitação e julgamento, por existir suspeita sobre a sua imparcialidade”.
“Nos últimos dias, foram veiculadas informações na comunicação social e também nas redes sociais, conforme é do conhecimento público, que o presente processo tinha sido distribuído ao juiz signatário, que também está indigitado para integrar o coletivo que irá julgar o processo conhecido com e-toupeira e que mantém ligações ao Sport Lisboa e Benfica, com revelação pública de diversas fotografias e também de publicações nas redes sociais”, refere o despacho, a que a agência Lusa teve acesso.
O juiz acrescenta que “são também levantadas suspeitas no sentido destes dois processos terem sido intencionalmente distribuídos" a si próprio, "com o intuito de beneficiar o Sport Lisboa e Benfica, clube do qual se afirma textualmente que é adepto apaixonado e ferrenho, ao mesmo tempo em que se alega um intuito de prejudicar os arguidos Rui Pedro Gonçalves Pinto e Aníbal Fernando de Araújo Pinto [advogado], assim como o próprio Futebol Clube do Porto”.
Caberá agora ao Tribunal da Relação de Lisboa decidir se aceita o pedido de escusa.
O nome de Paulo Registo gerou fortes reações nas redes sociais, com a ex-eurodeputada Ana Gomes a apontar mesmo o magistrado como um dos "juízes fãs do Benfica".
Teixeira da Mota, advogado de Rui Pinto, tinha ficado "muito preocupado" com a atribuição do processo ao juiz Paulo Registo.
O processo de Rui Pinto, criador do Football Leaks e autor das revelações do Luanda Leaks, que vai responder por 90 crimes, por aceder aos sistemas informáticos do Sporting, da Doyen, da sociedade de advogados PLMJ, da Federação Portuguesa de Futebol e da Procuradoria-Geral da República, foi distribuído na semana passada para julgamento ao juiz Paulo Registo (presidente do coletivo de juízes, composto ainda pelas juízas Ana Paula Conceição e Helena Leitão).
Em janeiro deste ano, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu levar a julgamento o advogado Aníbal Pinto (apenas pelo crime de tentativa de extorsão à Doyen), e Rui Pinto, que está em prisão domiciliária, por 90 crimes de acesso ilegítimo, acesso indevido, violação de correspondência, sabotagem informática e tentativa de extorsão, mas deixou cair 57 dos 147 crimes pelos quais o arguido havia sido acusado pelo Ministério Público.