Prolongamento
Jorginho: do distrital até à conquista da Taça da Liga, uma história de vida
2018-03-27 21:00:00
Jorginho atingiu o topo da carreira com a conquista da Taça da Liga, pelo Vitória de Setúbal, em 2007/08.

Tudo começou no Alentejo Litoral e é lá que agora continua, depois de experiências e vivências enriquecedoras entre a elite do futebol português. Assim se pode descrever a carreira de Jorge Manuel Amador Galufo, conhecido no mundo do futebol como Jorginho, lateral/central que conquistou uma Taça da Liga pelo Vitória de Setúbal, passou pelo FC Paços de Ferreira, Estoril Praia e joga na primeira divisão distrital de Setúbal, com a camisola do União Sport Club. Tudo teve início em Sines, terra-natal de Jorginho, com os primeiros passos no desporto rei dados no Vasco da Gama, clube ao qual ainda voltou depois do retorno aos escalões não-profissionais.

Para Jorginho, a aventura no futebol profissional começou com a camisola do Estoril Praia, pela mão de Daúto Faquirá, que esteve à conversa com o Bancada sobre um dos pupilos que esteve sob o seu comando. “Fui eu que fui buscá-lo para o Estoril. Já o tinha defrontado, quando eu estava no Barreirense e ele jogava no Vasco da Gama, e fiquei desde logo com muito boas impressões dele. Também fiquei com bons dados por saber que ele esteve a treinar no Modena FC, em Itália. Decidi avançar para a contratação dele e do Mikó [também o defrontou quando estava no comando técnico do Barreirense, jogador que foi colega de Jorginho no Vasco da Gama]”, confidenciou o treinador.

Nas palavras de quem o treinou, Jorginho fez da humildade e da tranquilidade fatores psicológicos fundamentais para conseguir vingar no segundo escalão vindo de divisões inferiores, em Portugal, e posteriormente rumar à Primeira Liga. “Ele era muito tranquilo, afável e foi a humildade que tem que permitiu que chegasse onde chegou. Em termos de pessoa, não lhe posso apontar mesmo nada de nada”, reconheceu Daúto Faquirá.

De quem o treinou para alguém que partilhou balneário com Jorginho, Fabeta - colega de equipa do sineense no Asteras Tripolis - salientou ao Bancada a forte amizade que ganhou. "O Jorginho é uma pessoa espetacular. Daqueles jogadores que todos gostam de ter no balneário e como colega de equipa. Eu e ele, dos portugueses [no Asteras], éramos os únicos que estávamos sozinhos, passávamos muito tempo juntos e criámos uma amizade forte. Dentro de campo quando estávamos no trabalho, não havia tempo para as palhaçadas mas havia aqueles 'feedbacks' de apoio. Já nos tempos parados, havia tempo para umas boas palhaçadas que quase sempre se arrastavam para o balneário. Os gregos não estavam muito habituados a grandes palhaçadas no balneário, então achavam que ele era tolo", referiu o jogador do Anadia FC.

No que concerne às características enquanto jogador, Jorginho começou a carreira como lateral esquerdo, mas com o passar do tempo fez da versatilidade uma arma de peso e veio a pisar também terrenos mais centrais dentro das quatro linhas. Daúto Faquirá explicou ao Bancada em que consistiu esta alteração de paradigma para o jogador que conta agora 39 anos. “Era um jogador muito alto e esguio. Ele chegou como lateral esquerdo, mas logo na estreia até teve que jogar a central, devido a alguns problemas que tínhamos na inscrição de jogadores. E fez mesmo uma grande partida, jogou muito bem e foi aí que percebi que ele também rendia no corredor central e desde então também passei a utilizá-lo em posições mais centrais, inclusive até a trinco”, referiu o técnico.

LUSA / Mário Cruz

Bastaram duas épocas no Estoril Praia para Jorginho dar o salto rumo a competir entre a elite do futebol português, no principal escalão. Duas temporadas que consistiram em 55 partidas oficiais realizadas, dois golos e muitos minutos nas pernas, mais precisamente 4.671. A rodagem no segundo escalão chamou a atenção do Vitória de Setúbal, que não hesitou em dar a primeira experiência de Primeira Liga ao jogador sineense. Daúto Faquirá nunca duvidou da possibilidade do versátil lateral jogar nos grandes palcos portugueses. “Muitos jogadores da Segunda Liga e até de escalões mais abaixo têm capacidade para jogar no principal escalão e o Jorginho foi um deles.”

Em Setúbal, teve lugar a conquista do único troféu da carreira profissional para Jorginho. O jogador natural de Sines atuou durante os 120 minutos, com tempo regulamentar e prolongamento incluído, na final da primeira Taça da Liga, em 2007/08, que opôs o Vitória ao Sporting. No momento da decisão, Jorginho até foi um dos sadinos que tremeu da marca dos onze metros, mas o Vitória venceu mesmo nas grandes penalidades por 3-2 e levantou o troféu. Certamente uma das principais marcas e momentos de recordar da carreira de qualquer futebolista.

Ao Vitória, seguiu-se uma curta aventura pelo sempre fulgurante futebol grego. Em julho de 2008, Jorginho rumou ao Asteras Tripolis, clube pelo qual realizou somente oito encontros oficiais. Quem o levou para a equipa foi Carlos Carvalhal, que o orientou no Vitória e treinava o emblema de Tripolis nesse momento. Para além de Jorginho, estavam também no clube outros portugueses, como Fábio Felício, Ricardo Esteves e Fabeta. O último destes três jogadores, Fabeta, revelou ao Bancada que o passo para o futebol helénico foi fator motivante para Jorginho. "Ele chegou extremamente motivado à Grécia. Para além do projeto que o Asteras Tripolis apresentava, o Jorginho acompanhava o mister Carlos Carvalhal, com o qual havia trabalhado no Vitória de Setúbal e ambos tinham vencido a primeira edição da Taça da Liga. Em momento algum entendi que ele tivesse desmotivado pela escolha que tinha feito, pelo menos enquanto tudo correu bem."

Com Carvalhal no comando técnico do Asteras, Jorginho tinha o estatuto de titular, mas a saída do timoneiro português resultou a que Jorginho ficasse fora dos planos do novo técnico e levou ao consequente regresso a Portugal. “Desde que o mister Carvalhal saiu e entrou o novo treinador [Roberto Gómez], reparei que estava a ser posto de lado. Decidi resolver a minha vida e vir embora. A proposta do Paços de Ferreira foi a mais aliciante entre as que recebi”, referiu Jorginho aquando da apresentação nos pacenses, em janeiro de 2009.

As palavras de Fabeta ao Bancada demonstraram também o fator que a saída de Carvalhal do Asteras teve para Jorginho. "O mister Carlos Carvalhal levou quatro jogadores portugueses com ele - eu, Jorginho, Ricardo Esteves e Fábio Felício. Ao fim de oito jornadas, as coisas não estavam a correr bem à equipa, embora tenhamos perdido apenas em casa do Olympiacos e AEK - se não estou em erro. A direção começou a querer arranjar argumentos para criticar o trabalho do mister, como o Jorginho era o único português titular em todos os jogos até àquele momento, começaram a criticar o Jorginho e acusá-lo de ser o responsável de alguns golos sofridos que ditaram a perda de pontos. Algo que ficou provado que era mentira através do visionamento desses golos referidos pela direção. A partir daqui, foi uma questão de tempo para negociarem a rescisão e passado poucos dias foi também a equipa técnica demitida."

Assim, Jorginho fez o retorno ao futebol português pelas mãos do Paços de Ferreira, clube que representou durante duas épocas e meia, no principal escalão. Logo quando chegou não conseguiu impor-se, desde cedo, entre as principais escolhas, mas nas duas temporadas que se seguiram elevou o estatuto no seio do plantel dos castores e somou vários encontros e minutos dentro de campo na Capital do Móvel. Em julho de 2011, foi o momento de dar o primeiro passo atrás, com a ida para o Arouca e a presença na Segunda Liga. Cerca de seis meses depois, Jorginho regressou às origens, deixou o futebol profissional para trás e foi para o União Sport Club, da distrital de Setúbal. Já voltou também ao Vasco da Gama, representou o Praia de Milfontes e nesta época veste novamente a camisola do clube de Santiago do Cacém.

LUSA / Paulo Cunha