Prolongamento
História de Rui Pinto gera reportagem em jornal australiano
2020-05-26 16:50:00
“Uma das histórias mais loucas que escrevi”, revela o autor, que fala de um jovem “com cara de bebé e um laptop”

“Ele revelou os maiores segredos do futebol e agora enfrenta uma pena de 25 anos na prisão”, escreve em título o jornal australiano The World Game, do grupo SBS, numa reportagem publicada nesta segunda-feira e onde Rui Pinto é protagonista.

O periódico conta em detalhe a história do fundador do Football Leaks, bem como os seus efeitos em grandes clubes e personalidades de todo o mundo, desde o Manchester City a Cristiano Ronaldo, passando pelo Benfica, mas também por outros clubes portugueses, entre os quais FC Porto e Sporting, e outros emblemas como Atlético Madrid, AS Monaco, Marselha, Sevilha e Valencia.

“A maior ameaça para muitos clubes europeus, nos últimos cinco anos, é um jovem formado em História, com cara de bebé e um laptop”, escreve o jornalista Nick Stoll, que partilhou hoje, nas redes sociais, um pensamento sobre o seu trabalho: “A história de Rui Pinto, um hacker autodidata, e do Football Leaks é definitivamente uma das mais loucas [reportagens] que escrevi”.

Nesta investigação, viaja-se aos primórdios do Football Leaks, em setembro de 2015, meses antes de terem sido divulgados, naquela plataforma, os contratos de direitos de imagem de Cristiano Ronaldo, o que “levaria Ronaldo a uma pena suspensa de dois anos de prisão”, bem como “uma multa do governo espanhol, de 28 milhões de dólares, por fuga ao fisco”.

“Nessa altura, Rui Pinto, agora com 27 anos, mudara-se para a Hungria, onde estudou. Foi lá que ele conheceu o jornalista alemão Rafael Buschmann, que trabalhou para a Der Spiegel, um dos jornais mais respeitados do mundo. Pinto entregou a Buschmann quatro terabytes de informações confidenciais, mais de 88 milhões de documentos”, narra o jornal australiano.

Entre esses documentos, algumas informações relativas a Lionel Messi, Sergio Ramos, ou sobre o Real Madrid, PSG e Manchester City.

“Foi revelado que o Manchester City e o PSG estavam a desrespeitar as regras de fair-play financeiro, o que levou o City a ser banido da competição europeia por duas temporadas e a uma multa de 50 milhões de dólares”, pode ler-se.

“Centenas de jogadores, agentes e clubes foram apanhados em cada divulgação de documentos”, sublinha a reportagem, que naturalmente passa pelo futebol português e pelo Benfica, em particular.

Em Portugal, “muitos adeptos do Benfica ficaram furiosos”, uma vez que “as informações reveladas por Rui Pinto mostraram a incrível influência que o maior clube de Portugal tinha, em vários níveis”.

“Os emails internos do Benfica mostraram que o clube havia distribuído briefings secretos aos comentadores a favor do clube, nas televisões portuguesas. Noutro e-mail,  abordava-se um grupo de oito árbitros em quem o Benfica poderia confiar, em momentos decisivos. Uma apresentação em PowerPoint mostrou a intenção do clube de aumentar a influência do clube sobre jornalistas, políticos e juízes”, relata ainda a reportagem.

“O Benfica ficou envergonhado. O presidente do clube está agora sob investigação e alguns adeptos fizeram ameaças de morte a Rui Pinto, depois de ter sido revelado que ele estava na origem da divulgação dos documentos”, prossegue.

Rui Pinto está agora em prisão domiciliária, impedido de aceder a computadores. Espera evitar uma pena de prisão, colaborando com as autoridades, em diversas investigações.

Não obstante ter divulgado “comportamentos imorais”, é “Rui Pinto que está a enfrentar a maior punição”, refere ainda o autor, que termina com uma citação do arguido:

“O meu pai estava sempre a dizer-me: ‘não sejas tão fanático, porque isso vai arruinar a tua vida’”.

Refira-se que esta não é a primeira reportagem sobre o fundador do Football Leaks em órgãos internacionais. Recentemente, em resultado da informação divulgada por Rui Pinto, o New York Times dedicou uma peça sobre o Benfica, que passa pelo clube, pelo futebol e pela justiça. 

O artigo daquele periódico norte-americano termina com uma alusão ao pedido de escusa do processo Football Leaks apresentado pelo juiz Paulo Registo, num assunto que entretanto registou alguns avanços.