Prolongamento
"Há gente com veias de fora na televisão" e "pais à espera da taluda do Ronaldo"
2020-02-24 12:05:00
RAP, as conversas com taxistas do Porto, os insultos em programas de futebol e pais que querem que o filho seja um CR7

Já não é apenas o caso Marega, mas a ampla discussão sobre a violência do desporto, que abarca qualquer tipo de ato desprezível de racismo.

No programa Governo Sombra, emitido pela SIC e pela TSF, o comentador Ricardo Araújo Pereira teceu fortes críticas a uma cultura enraizada de violência, que se propaga nos grandes estádios, mas que tem origem na educação, no futebol de formação e que se amplifica nos programas televisivos sobre futebol.

“Quando vou ao Porto, a primeira coisa que o taxista me diz é: ‘você só tem um defeito…”. E já sei… E estamos a falar, a conversar sobre o assunto [futebol]. Mas o que nós vemos na televisão não é isto”, diz, comparando com as conversas civilizadas que mantém com adeptos de diferentes clubes.

“O que vemos na televisão não são conversas destas. É gente com as veias de fora a insultar-se mutuamente”, critica.

Ricardo Araújo Pereira lembra ainda os jogos das camadas jovens: “Há pais envolvidos em cenas de pancadaria porque estão à espera que lhes saia a taluda do Cristiano Ronaldo”.

“O futebol é atravessado, desde as camadas jovens até ao topo por uma incivilização que se torna insuportável, que passa pelas direções de comunicação, pelas televisões, às segundas, terças, quartas, quintas e sextas-feiras… Antigamente era só às segundas, para fazer o rescaldo dos jogos. Agora é o rescaldo dos jogos e o rescaldo dos rescaldos”, lamenta.

Sobre o incidente que envolveu Marega, destaca um detalhe linguístico. “Cânticos? Não são cânticos. Aquilo é gente a grunhir… Não há cânticos”, diz.

O humorista congratula-se com o facto de “este tipo de manifestação estar a diminuir”, mas aponta uma necessidade: uma rápida intervenção dos elementos de segurança e das autoridades. “Já assisti, no estrangeiro, a episódios em que o espectador se levanta para fazer este tipo de ruído. Em seis segundos, aparece um steward e é escoltado até à saída”, compara.

Porque não há raciocínio sério de Ricardo Araújo Pereira que não contenha uma piada, o humorista aponta aos racistas. “Aquele ruído é muito eficaz, porque uma pessoa fica com a certeza de que há, de facto, um símio no estádio. Não está é no relvado”, brinca.

Sem querer “generalizar” todo o público – e ressalvando que “nem todos os adeptos do Vitória são assim, graças a Deus” –, Ricardo Araújo Pereira entende que “se calhar é a altura de admitir que há aqui um problemazinho com o futebol”.