Prolongamento
Fernando Santos “alimenta a vaca” que vem do tempo de Scolari
2017-08-29 20:00:00
12 dos 24 convocados são já apostas deste selecionador , que também conta com apostas de Scolari, Paulo Bento e Queiroz

Caso Bruno Varela, Bruno Fernandes e Bruma tenham oportunidade de defrontar as Ilhas Faroé, ascenderá a 27 o número de jogadores lançados por Fernando Santos na Seleção Nacional. Assim vai o selecionador tentando contribuir para renovar a equipa portuguesa ou, como disse Carlos Queiroz, “alimentar a vaca” para que mais para à frente se possa “tirar o leite”. Curiosamente, Queiroz também lançou muitos jogadores, mas que alimentaram pouco a vaca, ao contrário de Scolari, que já deixou a Seleção há nove anos, mas ainda vê cinco jogadores lançados por si nesta convocatória (e ainda falta Nani).

“Se tivermos uma vaca e lhe estivermos sempre a tirar leite sem que ninguém lhe dê de comer e de beber, o leite seca e a vaca morre. De certa forma, foi isso que me propus fazer e nas convocatórias procuramos ter 20 ou 30% de jogadores que vêm ganhar experiência”, disse Carlos Queiroz, em 2009, para explicar a convocatória dos, então, estreantes na Seleção Eliseu, Gonçalo Brandão e Orlando Sá. No entanto, apesar de ter sido o selecionador que lançou mais jogadores por partida (17 em 26 jogos), Queiroz pouco contribuiu para o futuro da Seleção. Os jogadores lançados por Paulo Bento e, sobretudo, por Scolari foram muito mais influentes, mesmo tendo em conta que Queiroz esteve menos tempo no cargo.

Meia seleção renovada, mas apostas de Scolari continuam a ser importantes

Na convocatória de Fernando Santos para os confrontos com as Ilhas Faroé e a Hungria, estão cinco jogadores que foram lançados por Scolari (Ronaldo, Quaresma, Moutinho, Bruno Alves e Pepe), três por Carlos Queiroz (Fábio Coentrão, Eliseu e Beto) e quatro por Paulo Bento (Rui Patrício, André Gomes, William e Nélson Oliveira). Significa isso que os restantes 12, ou seja, metade dos convocados, são já apostas de Fernando Santos.

É interessante registar a influência que as apostas de Scolari continuam a ter na convocatória, nove anos depois da sua saída. É verdade que Scolari esteve no cargo durante mais tempo (5,5 anos) do que Queiroz (2 anos) e Paulo Bento (quatro anos), mas também tem contra si o facto de ser quem já deixou o cargo há mais tempo (em 2008).

Claro que estes registos têm mais de acaso do que de mérito dos selecionadores. Scolari estava no cargo quando surgiram jogadores como Ronaldo, Quaresma, Nani ou Ricardo Carvalho e chamou-os como, provavelmente, faria qualquer um dos outros selecionadores. A diferença poderá faz-se mais pela altura em que a aposta é feita. Por exemplo, quando Rui Patrício tinha 21 anos e já era titular no Sporting, Queiroz preferiu dar internacionalizações a Hilário, José Moreira e Beto, deixando para Paulo Bento a oportunidade de lançar Rui Patrício e alimentar a baliza nacional durante largos anos.

Queiroz lançou mais por jogo, mas Scolari lançou os mais influentes

Carlos Queiroz lançou 17 jogadores em 26 jogos (0,65 por jogo), o que representa uma média superior à de Fernando Santos que lançou 24 em 39 partidas (0,62 por jogo), à de Paulo Bento que apostou em 23 caras novas em 47 encontros (0,49 por jogo) e à de Scolari que estreou 30 jogadores em 74 jogos (0,41 por jogo). No entanto, o selecionador brasileiro foi o que lançou os jogadores mais influentes ao contrário de Queiroz. Quanto a Fernando Santos, é cedo para perceber, mas jogadores como João Mário, Danilo, André Silva, Gelson Martins, Bernardo Silva e Nélson Semedo parecem destinados a atingir um número muito elevado de internacionalizações ao longo da sua carreira.

Scolari. Dos 30 jogadores lançados por Scolari, há três que já ultrapassaram a centena de internacionalizações (Ronaldo - 143; Nani - 112; e Moutinho - 102), e outros 11 que superaram os 50 jogos pela Seleção: Bruno Alves (93), Ricardo Carvalho (89), Pepe (86), Raúl Meireles (76), Deco (75), Postiga (71), Quaresma (69), Miguel (59), Hugo Almeida (57), Miguel Veloso (56) e Maniche (52).

Por outro lado, houve dois jogadores da era Scolari que fizeram apenas um jogo (Bruno Vale e Paulo Santos) e outros sete que não fizeram mais do que cinco partidas: Rogério Matias (5), Makukula (4), Silas (3), Alex (3), João Alves (3), Tonel (2) e Daniel Fernandes (2).

Carlos Queiroz. Só um dos 17 jogadores lançados por Queiroz é que chegou às 50 internacionalizações (Fábio Coentrão - 51) e não é crível que mais algum possa lá chegar porque, além de Coentrão, os únicos dois jogadores lançados por Queiroz que ainda estão na órbita da Seleção são Eliseu (25) e Beto (11).

Apesar de Queiroz ter revelado a intenção de convocar jogadores para lhes dar experiência para o futuro, a verdade é que cinco dos jogadores em que apostou não tiveram qualquer futuro na Seleção, uma vez que só realizaram um jogo (César Peixoto, Orlando Sá, José Moreira, Hilário e Zé Castro). Houve ainda outros dois futebolistas que ficaram abaixo das cinco internacionalizações: Nélson (4) e Gonçalo Brandão (2).

Paulo Bento. Para já, Rui Patrício (64) é o único dos 23 jogadores lançados por Paulo Bento que passou a meia centena de internacionalizações, mas há outros que deverão fazê-lo com facilidade, como são os casos de William Carvalho (37) e André Gomes (25). Outros jogadores que também poderão alcançar essa marca são Rafa Silva (10) ou Ederzito (33).

Além destes jogadores que já se afirmaram ou poderão vir a afirmar-se como peças importantes da Seleção, Paulo Bento também fez apostas que não tiveram continuidade. Por exemplo, Hélder Barbosa, Licá e Ricardo Horta jogaram apenas uma vez na Seleção, enquanto outros seis jogadores ficaram abaixo das cinco internacionalizações: Josué (4), Miguel Lopes (4), André Santos (2), André Martins (2), Sereno (2) e Ivan Cavaleiro (2).

 

Fernando Santos, apesar de continuar a confiar nalguns elementos mais veteranos, vai fazendo a renovação da Seleção de forma tranquila, tendo já, tendo já 12 jogadores “seus” nessa convocatória. A vaca parece bem alimentada para continuar a dar alegrias aos portugueses nos próximos anos.