Prolongamento
FC Alverca: o regresso ao futuro
2018-02-27 21:55:00
O clube ribatejano está aos poucos a reerguer-se do abismo em que caiu e em março vai inaugurar o Centro de Formação

O FC Alverca, que viveu anos dourados no principal escalão do futebol português nos anos 90 do século passado, renasce das cinzas num regresso ao futuro alicerçado na construção quase concluída do Centro de Formação. O projeto é a base para o concretizar do sonho de o clube ribatejano regressar aos escalões profissionais até 2019, depois da queda no abismo em 2005 quando extinguiu o futebol profissional. No plano desportivo, as coisas não podiam estar a correr melhor. A militar no Pro-Nacional da AF Lisboa, a equipa de António Pedro (Tó- Pê), ex-jogador do clube, está na luta pelo lugar que dá acesso na próxima época ao Campeonato de Portugal.

Mas volvidos treze anos (quem disse que o número treze representa o azar?) e de um período de sucesso com Luís Filipe Vieira na presidência, antes deste ir para o Benfica, e em que brilharam estrelas como Deco, Mantorras, Maniche, Ricardo Carvalho, e treinadores como Jesualdo Ferreira, José Couceiro ou o falecido Mário Wilson, a “menina dos olhos bonitos” da direção presidida por Fernando Orge, está quase a despertar para a vida, num sinal de rejuvenescimento do clube ribatejano.

Mesmo ao lado da estação, o Centro de Formação está  quase a nascer. Um projeto que nasceu no final dos anos 90, nos tempos áureos do clube e cuja conclusão estava prevista para antes do Europeu de 2004 realizado em Portugal. A intenção era a de albergar uma das seleções apuradas para a competição. Mas, por razões financeiras, que tiveram a ver com a crise do clube, mas também do próprio país, o projeto não andou para a frente.

Quando Fernando Orge, atual presidente do FC Alverca desde 2011, tomou conta do clube, teve, segundo o próprio, de “começar do zero”, e até chegar a este ponto a concretização do Centro de Formação conheceu algumas contrariedades. “Quando chegámos ao clube o centro de formação estava parado e uma das nossas prioridades foi a sua conclusão. Não tínhamos conhecimento da parte financeira do clube, mas sabíamos que iríamos ter dificuldades.O que se passou foi que a empresa que estava ligada ao projeto, a Turiprojeto, tinha como base do negócio a compra do campo pelado do Alverca, cujo valor seria pago com a construção do Centro de Formação, num negócio a rondar os seis milhões de euros. Reativámos o processo, mas por insolvência de uma das empresas da Turiprojeto, a Construsan, esta arrastou a empresa-mãe e o projeto caiu por terra. Após fazermos alguns reajustamentos no processo, estamos perto da conclusão da primeira fase do projeto”, diz Fernando Orge ao Bancada com natural satisfação, numa construção que é comparticipada 75 por cento pelo FC Alverca e 25 por cento pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, num “custo final de um milhão de euros”.

As obras estão a avançar a ritmo acelerado e, segundo o presidente do Alverca, a primeira fase de construção, relativa à parte desportiva, deverá estar concluída já no final do mês de março, com a construção de dois campos sintéticos de futebol de onze, um de 7/9 e um de cinco, para além dos balneários de apoio e outros serviços, o que permitirá que “os escalões de formação possam terminar os campeonatos” a usufruir das novas infraestruturas. Numa segunda fase, está prevista a construção de uma bancada e de um espaço comercial, e numa terceira e última fase a construção de um pavilhão, um auditório, uma sala de troféus e uma zona de quartos para estágios da equipa, e para clubes visitantes.

Muita ambição para um clube que no presente está nos distritais? Fernando Orge pauta sempre o discurso pela sustentação financeira de um emblema que já viveu períodos muito negros, depois da extinção da SAD, que chegou a ter acionistas como Luís Filipe Vieira, Joaquim Oliveira, "algumas Sads desportivas" e comerciais, entre outros. "Hoje, podemos dizer que o FC Alverca é saudável financeiramente”, garante Fernando Orge.  A formação, que sobreviveu ao fim do futebol profissional, é outra bandeira. Sempre com o objetivo de crescer. Mas Orge não descura o sonho de levar o FC Alverca de novo à ribalta do futebol português. Se bem que os tempos sejam outros.

“O nosso sonho é o de até 2019 termos as nossas equipas de formação e de seniores a disputar os campeonatos nacionais. Neste momento os juniores estão a lutar, tal como os seniores, por esse objetivo”. Fernando Orge acredita que as novas condições de treino vão “agregar mais gente jovem para o clube e a quantidade trará certamente mais qualidade”, argumenta, defendendo que o nascimento do Centro de Formação “é passo fundamental” para dar condições aos cerca de 600 atletas de todas as camadas jovens do clube. Semear para crescer é o leme do renovado clube que acredita ser este o caminho para outros voos.

O regresso ao topo da pirâmide do futebol português, leia-se I Liga, onde o Alverca já deixou marca, depende, no entanto, de vários fatores, como argumenta Fernando Orge. “Mais do que um sonho é uma oportunidade. Não é fácil chegar aos campeonatos profissionais se não houver algo a alavancar esse projeto, chame-se-lhe SAD, SDUQ's ou acordos financeiros com empresas. Mas as oportunidades vão surgindo. O importante, no entanto, são as pessoas sentirem o clube, fazerem parte do clube, queremos ver as bancadas cheias”, afirma Fernando Orge que revela ao Bancada estar em marcha a reedição de um projeto concretizado a época passada de reaproximar velhas glórias do clube. “Fizemos um jogo no nosso estádio que contou com o Jorge Andrade, o Paulo Santos, o Nélson Borges, o Ramires, entre tantos outros, e estamos a planear repeti-lo este ano. É uma ação importante. Para a maioria deles, o Alverca foi o início do estrelato, e com muito trabalho conseguiram lá chegar. São um exemplo e um motivo de orgulho para os nossos jovens”.

O FC Alverca esteve durante cinco épocas na primeira liga portuguesa, mas uma dívida que ascendia a 2,5 milhões de euros e um vazio diretivo ditaram o fim do futebol profissional. Na época 1999/00, sob o comando técnico de José Romão, o Alverca conseguiria a melhor classificação de sempre do clube, um 11º lugar. Um onze que era formado por: Sergei Ovchinnikov; Sousa, Veríssimo, Hugo Costa e Marco Caneira; Diogo, Jamir, Ramires e Milinkovic; Rui Borges e Cajú. Mantorras fez apenas seis jogos nessa temporada e seria na época seguinte que se destacaria de tal maneira que acabaria transferido para o Benfica.

Alverca. Longe vão os tempos do estrelato nos palcos do principal escalão do futebol português. As nuvens negras que se abaterem sobre o clube ribatejano dissiparam-se a pouco e pouco, e o emblema que já foi representado por ex-internacionais portugueses como Deco, Ricardo Carvalho e Maniche, e que lançou Mantorras, está aos poucos a levantar-se do chão.

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