Prolongamento
"Em todo o mundo há histórias de hackers que se transformam em hackers bons"
2019-04-25 18:05:00
Maria José Morgado, procuradora-geral adjunta, falou do caso de Rui Pinto

Maria José Morgado, procuradora-geral adjunta, diz-se impressionado com o caso de Rui Pinto, o jovem hacker português colaborador do 'Football Leaks' que denunciou alegados esquemas de evasão fiscal no futebol. 

"Não posso falar do caso concreto, só em tese geral. Mas devo dizer que este caso impressiona-me muito pessoalmente, porque ouvi a pessoa de que estamos a falar dizer frases sobre a corrupção no futebol semelhantes àquelas que eu disse numa entrevista em 2002, a Adelino Gomes. (...) Eu disse que o futebol era um mundo de branqueamento de dinheiros sujos, com promiscuidades políticas indesejáveis, alargadas e muito difíceis de combater", afirmou esta quarta-feira, no programa Grande Entrevista, da RTP, em declarações reproduzidas pelo jornal Público. 

"Fez-me impressão, porque passaram 17 anos e aparece uma pessoa a dizer aquilo que eu tinha dito. Porque agora são todos paladinos contra a corrupção no futebol, contra as offshores. Toda a gente fala disso, já não vale a pena falar. Mas naquele tempo tive problemas sérios por ter falado disso. (...) Volvidos 17 anos, por aquilo que se sabe do Footbal Leaks (e não estou a falar de nenhum clube nem de nenhuma pessoa, mas de um fenómeno), aparentemente no mundo do futebol é-se imune a qualquer espécie de escrutínio", acrescentou. 

Maria José Morgada afirmou ainda que são precisas "pessoas que estejam ligadas ao crime" para colaborar com a justiça e que, quando o fazem, são movidos por "razões interesseiras, individualistas". 

A procuradora defende ainda que a redução de pena para quem colabora com a justiça é aceitável, "se for para defender outros valores superiores e se for escrutinável". "Em todo o mundo há histórias de hackers que se transformam em hackersbons e colaboram com a justiça. O hacker mau pode transformar-se num hacker bom e trabalhar para a polícia. Tem um know-how que muitas vezes a polícia não consegue ter por si só", rematou.