Prolongamento
Elpídio Silva foi de pistoleiro a casamenteiro, dando sorrisos aos miúdos
2018-10-21 21:00:00
Benfica não, FC Porto não, Sporting sim, mas... não.

Passou de craque a pistoleiro, de pistoleiro a casamenteiro e de casamenteiro a "pai" babado. "Pai" entre aspas, porque não é pai apenas do seu filho. É "pai" de muitas crianças, fazendo-as sorrir. Mas já vamos.

Elpídio Silva é um dos avançados mais “castiços” em Portugal, no século XXI, não só pela importância futebolística como pelo festejo de golo que tornou assinatura. E começamos mesmo por aí. Ao Bancada, explica a origem da ideia: “Eu era fã dos filmes do faroeste e dos cowboys. Quando fui para o Boavista, disse que ia começar a festejar como um pistoleiro e fiz isso logo no primeiro jogo”, dispara Elpídio – muito fácil, o trocadilho com "dispara"? –, antes de começar a mostrar o orgulho de pai: “Vai haver um pistoleiro júnior”. Elpídio Silva falou várias vezes de um aspirante a pistoleiro que por aí anda. A ler mais à frente.

Antes, expliquemos por que motivo fomos falar com o “pistoleiro sénior”. Ouvimos que ele tinha voltado ao futebol e quisemos saber mais. Afinal, não foi bem assim. Aos 43 anos, Elpídio Silva não voltou a jogar. Voltou ao futebol, mas para ajudar. “Tenho uma escola social de futebol e vou ajudando o Sport Clube Lagoa Seca na II divisão do estado de Paraíba”. Na Escola de Futebol Elpídio Silva, é quase um "pai" de muitas daquelas crianças, que não têm forma de pagar para jogar à bola. Mas jogam. E sorriem (não olhe para esta fotografia, que deixa logo de acreditar em nós).

Para além disto, o pistoleiro trata de... casamentos. “A empresa de eventos é da minha mulher e eu vou dando uma ajuda”, explica.

Benfica não, FC Porto não, Sporting sim, mas... não

Aproveitando o balanço, fizemos umas perguntas sobre o que Silva deixou em Portugal. Na verdade, para além dos anos de formação, no Brasil, Portugal foi o único sítio onde conseguiu ter verdadeiro sucesso. Porquê? "Acho que foi porque me adaptei muito bem. Em Portugal, deram-me muito carinho”, analisa o jogador que chegou em 1998/99, para jogar no SC Braga (muitos golos). Já no Boavista, ajudou, com 13 "disparos", o célebre boavistão a ser campeão.

"No Boavista, o meu contrato foi revisto e eu disse ao presidente: 'Coloque que, se eu for campeão, vocês têm de me dar x'. Ele riu e achou que eu estava maluco, mas, no final da época, pagou tudo certinho. Eu estava convicto". Depois da primeira temporada de SC Braga, houve FC Porto à perna. Depois da primeira temporada de Boavista, houve FC Porto à perna. Nada se passou. Acabou por ir para o Sporting, onde falhou. E tudo isto depois de ter chegado a Portugal para... jogar no Benfica. "Tinha tudo certo com o Benfica, mas o clube não enviou a documentação. O meu empresário ligou para o SC Braga e fui para lá", explicou.

Benfica, FC Porto, Sporting... este é um bom momento para um quiz de repostas rápidas.

Melhor treinador que teve: “Carlos Manuel”
Melhor jogador com quem jogou: “Acho que foi o João Pinto”
Melhor momento da carreira: “Tive dois. O primeiro ano, em Braga, e o tempo no Boavista, que me levou à Champions”.
Pior momento da carreira: “Quando cheguei ao Sporting. Algumas filosofias de trabalho não me agradavam, mas o Fernando Santos ajudou-me muito. A lesão grave que tive também não ajudou”.
Sonho por concretizar: “Não ter chegado à seleção brasileira e não ter jogado no FC Porto. Estive para ir duas vezes. Deixo para o meu filho”.

Lá vem, novamente, o pistoleiro júnior à conversa. Afinal, quem é esse rapaz? “Chama-se Lucas e joga nos juniores do Famalicão. Na temporada passada, no Vianense, fez mais de 26 golos. E tem a vantagem de ser português e brasileiro”. “Estou a apostar nele”, assume Elpídio Silva, garantindo: “Ele é muito parecido comigo”.

A carreira de Elpídio Silva parece ter ficado abaixo do esperado. Nunca foi visto como um craque mundial, mas, com as características físicas que tinha, conseguia fazer a diferença na Liga Portuguesa e marcar golos. Bastantes. O brasileiro reconhece que poderia ter ido mais longe.

“Acho que poderia ter ido mais longe. Eu tinha isso na cabeça. Mas na altura em que andei na Champions cortaram-me as pernas. Tive propostas para sair e colocaram um travão”, recorda, acrescentando que, depois do primeiro ano de SC Braga também teve propostas de clubes maiores.

Com casamentos, com escolas de futebol ou com o projeto de fazer do jovem Lucas um “pistoleiro júnior”, Elpídio Silva tem muitos tiros para disparar e em várias direções. Logo ele, que o fez tantas vezes por cá.